sexta-feira, 28 de junho de 2013

Idiotices do João [47]


João é declinado tantas vezes que quando João desperta algum interesse João até desconfia.
Estou encaminhando a sua solicitação para o João dar andamento. Falta de imaginação, banalidades. Povo outonal. Expressões fáceis, cuidado. Estou encaminhando para andamento do referido funcionário, por gentileza, faça sua avaliação, mostre-nos o quanto é dedicado. Possui mente empreendedora? Está bem, vamos ao treinamento. Silêncio, agora estamos em reunião com o cliente. Fique atento, João, vista seu terno e gravata. Estamos encaminhando sua solicitação para o João dar andamento. Matem-me agora, por gentileza.
Por gentileza, estamos atendendo à sua solicitação. O declínio foi realizado, conforme solicitado. Etc. Então, pela noite, recebe a notícia imediata. Vai acreditar? Estamos nos embrenhando em tramoias. Chamadas bombásticas, diz o coleguinha. Nunca para os condenados, diz a música. A televisão vomita contra os vândalos. Ascenda e depois caia por mim, por gentileza. A voz é grave, porém suave. Nunca perca o fingimento, sim? Estamos encaminhando para o João dar andamento.
Foi oferecida uma análise. Você pode acreditar. Havia uma meia hora de envio, foi enviado, então uma meia hora após foi oferecida uma análise. Tantas vezes declinado antes, você poderia se permitir acreditar? Ainda procuramos entender as formas de funcionamento do mundo. As engrenagens se movem como névoas bruxuleantes de papéis mal escritos e contextos mal empregados. Não, João não faz a mínima ideia do que está sendo dito neste instante. Quantas exposições são necessárias para dilacerar seu cérebro? Se ler gibi pela manhã, o tempo passará incrivelmente rápido. É digno se atrasar? O chefe disse ao clube de corrida que João faltou porque foi para casa ler gibis. Quanto pode ser revelado? Estamos encaminhando sua proposta para o João dar andamento.
A voz suave diz novamente. Bem breve. Diz que o pai sem face, agora no fim, finge que eu sou capaz de ver. Vamos ver algum sentido? A pequenina chamou João para almoçar. Quantas dúvidas serão necessárias para que olhos sejam abertos? A ascensão gloriosa nos divide, a decadência luminosa nos devora, o fim glorioso nos angrandece. Podemos viver para sempre? Veio a proposta para análise. Haverá lançamento naqueles locais de prestígio? O sonho de João poderá se realizar? Estamos encaminhando a demanda para o senhor João dar andamento.

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quinta-feira, 27 de junho de 2013

Idiotices do João [46]


Estamos tremendo. Estamos gritando. Estamos nos forçando para frente. A mandíbula estala, o coração palpita feito um besouro barulhento ridículo. Não falaremos nada abertamente. Estamos batendo com muitas cabeças na parede. Olhamos para todos os lados, enquanto a ansiedade se esparrama pelo salão. O estômago se remexe, comprime a barriga, esmaga a dignidade contra a parede. É afundar a cabeça entre as mãos e fingir que está rezando. Senhor Todo Poderoso de Porra Nenhuma, está nos ouvindo? É o João quem está falando.
Estamos nos forçando contra a autossabotagem.
Sabotar-se, apenas. Para reclamar da falta de sorte em todas as empreitadas. Está estéril. Criticar-se novamente, repetitivo. Quando o telefone toca, é um desses imbecis quaisquer que insistem. Eles insistem. Eles tentam. Eles tentam.
Sua face amarrada a um jumento. Estamos quebrando carangueijos em outras dimensões. Mova-se, garoto, não ficarei nesse ofício para sempre! Mova-se! Insistir para que o mundo se lembre que algum de vocês existe. Quantos passos até a porta? As toalhas foram retiradas. Está mais calmo agora? Pode enviar, pode entrar na página e preparar o material sem tremer e gritar feito uma criança melequenta. Pode enviar. Sabotar. Esqueça. Envie. Enquanto isso, treme. Sempre treme por coisas que nem nunca teve. Pressão. Qual topo deseja encontrar? E para qual motivo? Desnorteamento. O tempo possui seu próprio tempo. Quanto menos se importa, mais vêm até o João. O João.
O João é uma criaturinha patética. Ilusões de grandeza até que a Lua se despedace em círculos de tolices. Idiotices. É o que estamos fazendo aqui. João, João.
A Maria é só uma ilusão. Jamais acontecerá.
A sabotagem decorre da vontade de permanecer ridículo no mesmo lugar.
Então, não aceita e luta contra. E aí, treme.
Tremedeiras para se locomover. Precisa gritar para conseguir sair do lugar. Vamos rasgar a própria garganta, que tal? Valeria mais a pena drenar sangue e viver para sempre. Quantos urros são necessários para se fazer notar? Deseja que seja sentido. Sentido. Sentir o quê? Expandir para tocar as almas. Deixar sair, pelo amor de todos os ancestrais. Não se revele demais. Quantas solidões são necessárias para se esconder uma podridão sorridente? Não tem. Não tem sentido. Maria, depois de ganhar o prêmio, disse para vomitar todas as criatividades de uma vez só. Maria não existe, pare com isso. Maria está por aqui, mas em breve retornará para o outro lado do mar - ela se afoga nas profundezas de angústias tão deliciosas e tão deprimentes que João adoraria submergir junto com ela para um abismo sem fim de lamúrias, tolices e amores. Amores silenciosos da depressão. Pare de usar palavras fáceis. Clichês. Vamos afundar. Enquanto isso, procura como um cego na escuridão. Já está escuro, imbecil. Tatear. Ainda se sente sujo pelo toque indesejado. Penetrar só para mostrar que é macho? Que encomenda imbecil. Feche-se no casulo, lógico, ninguém se dará ao trabalho de perceber. E então, parou de tremer? É ridículo, continuar a se criticar, quer um chicote? Nenhum caos é necessário. Caos, outra palavra fácil. Abaixe o som, por favor. Obrigado. Ah, João, com seu jeitão, não acreditávamos que. Jeitão. Claro. Olhe para a cara dessse infeliz. Não pertence a este mundo. Ah, eu faço isso e aquilo. É mesmo? Foda-se. Calma. Gente, qual a necessidade disso? Jargões de ocasião. Sempre. Vamos voltar? Gostaria de contar e fechar os olhos. Eu me matei. Quantas vezes fiz isso? Respire. Um último adeus. Não tem coragem de escutar. Há fogo nos seus olhos? Maria curte suas atividades. Ela nunca mais respondeu depois que se entregaram ao beijo mais maravilhoso de todos os tempos. Nunca mais será. Um Rei para a todos dominar. Gosta de seguir a cartilha da liberdade. Ah, claro. A chama que cavalga os jumentos da insanidade, pronta para tacar fogo em toda a existência. Ah, nossa, mais uma escrita imbecil de efeito. Criticar antes de ser criticado, está ficando repetitivo. Não encontrará mais. Você vê algum sentido? Havia aquele macacão, era bonito. Ela é linda demais, embora não se chame Maria. Mas poderia. Não, não pode. Não acontecerá. Quantas cavernas serão necessárias? Falta leitura, sempre. Falta empreendimento. Cartilhas. Vamos pigarrear, por gentileza. Sempre é melhor quando o admiram à distância. Melhor compreendido quando mantido em seu casulo escuro. Oh, escuridão. Clichês. E então, parou de tremer? Temos que enviar, ou nunca vai acontecer. Eles já marcaram todas as cartas. Vão se arranjar ao fim do contrato, então você terá de se virar, por sua própria conta. João, me responda, qual a necessidade disso? Sua foca antropomórfica, você se deixa seduzir por falsas Marias. Ela não existe. Permita-me exemplificar. Não. Olha só, aquele cara jovem, eleito. Não, aquele cara jovem admirado por um milhão de retardados porque escreve o gibi japonês da moda. Que você também lê. Quantas incubências serão necessárias para desvirtuar a sua palermice feita em caixa? Um bebê teria mais dignidade. Já parou de tremer? O tempo está passando, e realizar apenas isto aqui está longe de ser suficiente. Sente-se sempre distante dos grandes meios. O que são os maiorais? Inferioriza-se. Quando é que poderá berrar para o mundo inteiro? No fundo, é isso o que você quer. É disso que você precisa. Ah, meu caro João. Na verdade, não há nenhuma resposta. Você persegue Maria eternamente, e provavelmente nunca a encontrará. Ou sim. Pare de tremer e envie. Mas antes, me responda: qual a necessidade disso, meu caro João?
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Notícias de Quinta [112]


No Brasil
E depois de tudo o que aconteceu nas ruas das principais capitais do país parece que o congresso, o senado, everybody, começou a se mexer.
Primeiro o PSB comprou a briga da tarifa zero. Eu acho que tarifa zero não funciona se for geral mas tem outras propostas que liberam só pra estudantes (além das gratuidades que já existem).
Enquanto isso Dilminha disse que ia fazer um plebiscito sobre a convocação de uma constituinte para decidir a reforma política depois voltou atrás sobre a constituinte porque disseram que isso atrasaria o processo.
Parece que vai rolar plebiscito com 5 questões gerais sobre a reforma pro povo dizer se concorda ou não.
E o Câmara dos Deputados arquivou a PEC 37 por maioria de votos e aprovou o projeto que destina 75% dos royalties do petróleo para educação e 25% para saúde.
Em SP os evangélicos ficaram putinhos com o Haddad porque ele vetou um projeto aí que facilitava a construção de novos templos e decidiram pesar na dele em relação ao transporte público. Pelo menos o povo ganha nessa. Sem marmelada pros crentelhos e pressão pro Fernandinho abrir as contas.
E nessa Fernandinho preferiu cancelar a licitação de ônibus que havia sido aberta afirmando que algo tão grande não poderia ser feito sem a participação popular.
Saindo um pouco de política, uma mãe coruja e seus filhotes tiveram final feliz em Jundiaí. Tão bonita a coruja. *-*

Saúde
Animal de estimação pode deixar dono mais feliz, otimista e ativo (Otimista eu não digo mas ativo. O que eu tenho que correr atrás e limpar sujeira daquela porcariazinha que tenho em casa. *falo da gata não do meu filho*)

No Mundo
Casal transgênero se apaixona em terapia (Bonito. As vezes os problemas aproximam as pessoas e as vezes afastam... na maioria das vezes afastam. u.u)

No Caderno
Essa semana o João não se sentia muito confiante.
E agora, João?
Enquanto isso a Fernanda falava de lembranças e aquela sensação de que aquele momento nunca mais vai se repetir.

E eu? Sem choradeira hoje, né gente. Já deu, né?


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terça-feira, 25 de junho de 2013

A inversão da possibilidade de agrupamento organizado




Todas as caixas que já fizeram parte da minha vida tem significado, principalmente aquelas que contemplam o vazio que as faz companhia em suas frágeis paredes de papelão. Alguns diriam que caixas têm mais profundidade que alguns olhares, ou mesmo que certos desejos, vazios por pura incongruência essencial. Nada saberia dizer da espacialidade repleta de solidez rotunda ou retangular, pois essas não me diriam o que preciso saber para decifrar esse silêncio que consome toda essa necessidade absurda de armazenamento. A precisão da idéia de ter que se resguardar para, talvez, em algum momento posterior, compartilhar essa pré-existência egoísta com outrem que nunca partilhou desse ar agora tido como coletivo se assemelha à precisão de um lenhador que leva em sua jornada todo o sangue quente e nenhuma ferramenta. O que fará com todo esse temperamento em tão malfadadas perscrutações no vazio? Como se defenderá da imprevisibilidade se estiver absorto na vulnerabilidade de dois sonetos construídos com inconseqüência e sem atenção ao esquema de rimas? 
A necessidade de estar amparado por coisas atualmente obsoletas que um dia nos serviram como identidade projetada parece-me algo um tanto precipitado quando se ensaia uma abordagem mais ousada em termos de construção do ser social quando se pensa em coletivo criado pela interação, ao invés de se buscar auxílio na memória. A tradição de confeccionar álbuns de fotos de família nunca me fez totalmente leve, pelo simples fato do acúmulo de poeira ao longo dos anos em cima das malditas caixas que se acomodam em meu interior mais confortavelmente que muitos dos meus desejos amplamente expulsos de um ser que só vive do passado, da voz ecoada na parede e marcada por rugas nas paredes, nas peles e nas folhas de todo outono que me visitam, sempre amareladas como as fotos do álbum. O olhar lívido fisgado naquele momento pelo empobrecido capturar do maquinário fotográfico nunca soube traduzir tudo que estava a transcorrer naquele translúcido momento, ou ao menos assim se revelava para quem observava a cena que se criava ao longo do rio todo solto que emoldurava a cidade com pura calefação imprevista. Todo aquele calor não poderia ser contido em um momento, em um esgar, em um sorriso para sempre revivido sem dor ou pesar em um eterno retornar para o nunca vivido: a impossibilidade de retratar o real e de conter o palpável sempre me intrigou, e me trouxe a essa antiga reflexão sobre memórias perdidas em ordem de importância e incongruência. As mensagens se perderam com os métodos de transmissão, que nada conservaram da quietude daqueles tempos primevos. Aquele olhar nunca seria revisto, nem mesmo em lembrança. 
Aquele momento estava perdido em uma percepção de tempo escassa e insuficiente para descrever a abertura do caminhar como a declaração de todos os céus que nos abrigaram por tanto tempo. A percepção do tempo sempre foi errônea, por ter sempre se pautado em mero tecnicismo que nunca almejou explicitar o tempo enquanto escolha de posicionamento, enquanto abertura de possibilidades, enquanto visualização de caminhos possíveis, que inevitavelmente desencadeariam a criação de supostos múltiplos universos, habitados por diversas essências que nunca coabitariam por não saber escolher um espaço em dois tempos coexistentes. O espaço nunca foi nosso para decidirmos ocupá-lo com todo o nosso lixo existencial. A memória precisa ser reiniciada. Todo inverno é passado com a constante observação do passado resguardado. A projeção nunca foi muito mais que um olhar para o vivenciado com o intuito crescente de atribuir um sentido ao que nunca foi de fato objeto de apropriação subjetiva e individual. Cabe a cada um de nós aceitar o vazio. Afinal, nada existe sem oposição. A contradição é tão necessária à vida quanto o par de caixas que contém o meu tubo de oxigênio. O maquinário tomou a única saída que esse outro olhar poderia encontrar, e tudo que me resta é encontrar uma ilusão que me envolva a ponto de me esquecer do meu propósito. Ou a ponto de me esquecer daquelas caixas. Todas elas são suas. Apenas as peguei emprestadas. O bilhete colocado ao lado delas explica todo o mal entendido. Desculpe-me. Não deveria ter trocado de depósito. Fim do inverno. 

*Escrito por Fernanda Marques Granato.

*Texto protegido pela lei de direitos autorais. 


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segunda-feira, 24 de junho de 2013

Idiotices do João [45]


Havia uma sensação desconfortável dessas qualquer. Uma consciência de inadequação. Ao lado, ele falava apenas o necessário. Era óbvio que dispensava qualquer contato mais prolongado. Não eram amigos, eram superior e subordinado. E seu superior era um péssimo exemplo. Distraído, desbocado, desiludido. Desconcertado, descontente, decadente. Decadente é pretensão demais. Era um zé-ninguém, um coxinha desses qualquer. A que ponto chegamos, meu caro João.
Estamos sem energia. Estamos sem contraste. Estamos sem referência.
É um clima de velório. O cliente não nos quer mais. Pé na bunda corporativo. Um pouco de música para aliviar. A voz dela é tão bonita, tão doce, tão inspiradora... entregar-se à fascinação causada pela canção não vai mudar a realidade. Realidade, mundo real, pés no chão, etc. Oh, claro, monótono e banal, viva o mundo que existe. Etc. Os que perseguiram seus sonhos conseguiram, enquanto você deixa-se estagnar numa cadeira escritório. A que ponto chegamos, meu caro João.
Então, a guria veio aí. Para passar a tarde. E a noite. E, novamente, era uma que não se chamava Maria. Foi desconfortável. Foi desagradável. Foi desnecessário. Os corpos se tocaram, mas as almas se repeliram. Nenhuma emoção. Nenhuma substância. Foi um contato invasivo, esquisito, repulsivo. A que ponto chegamos, meu caro João.
Falta-lhe forças. Repete-se, submerge-se. Repete-se. Critica-se, cobra-se. Anda em círculos, perdido. Não consegue suportar um único dia sem propósito. Perde-se tempo. Gasta-se energia extraordinária para se levantar. Finge sorrisos. Afunda a cabeça entre as mãos. Desespera-se. Sente-se vazio, inútil. Não consegue enxergar sentido. Prde-se em palavras. Solta sorrisos cínicos. Finge estar por cima. Depedra-se por dentro. Implode-se. Encolhe-se de frio. Esforça-se para respirar. Não aguenta esperar. Olha para todos os lados. Reveste-se de paranoia. Alimenta-se de desesperança. Sorri sem vontade, sorri sem vontade, sorri sem vontade. Arrasta-se para fazer o que não quer. Não enxerga sentido. Não tem sentido, não tem vontade, não serve para nada não adianta, desperdício, idiotice, palermice, lixo, lixo, lixo, lixo.
A que ponto chegamos, meu caro João.

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sábado, 22 de junho de 2013

Idiotices do João [44]


Foram só 10 dez meses, mas até que foram legais. Aprendi um tanto, conheci umas pessoas bacanas. Etc. Está sem controle. De repente, levantou-se para ir até a janela. Nem pensou em se jogar, pensou em voar. Estava ansioso demais. Sempre, sempre, sempre. Aquela menina desmiolada mudou-se para o norte, vai se casar. Ela não é desmiolada de verdade, mas finge ser. Conseguiu um marido europeu. Inveja da felicidade alheia, mesmo que seja uma falsa alegria propagandeada nas redes sociais. Ontem, foi correr, conversou com os coleguinhas, disse que sentia afinidade por estes. Era mentira, embora fosse verdade. Nenhum daqueles tinham a ver com ele, nenhum. Vai sair do trabalho para ir até um outro qualquer, semelhante, ou talvez não, caiu ali pelas circunstâncias, você passa metade do seu dia lá, tem de acreditar, tem de fazer sentido. Não faz. O verdadeiro ofício dele era outro. Porém, quando se sentou para fazê-lo, começou implodir por dentro. Se tivesse uma faca à mão, talvez se rasgasse para conter a implosão. Ansiedade. Deseja desesperadamente estar já no topo do universo, mas não consegue ter paciência para seguir os passos mais básicos até alcançar o objetivo. Racionalmente, sabe que se seguir um degrau por vez, chegará até onde pretende estar, mas emocionalmente luta contra a sabotagem. Agora, está criticando a si próprio por parece básico e frágil e por soar lamentoso e estúpido. Criticar a si próprio sempre, antes que seja criticado pelos demais. Está fazendo algo, mas não tem paciência de deixar as coisas acontecerem. Sente-se acuado por si próprio. Sente-se solitário mas é orgulhoso demais para admitir até para si mesmo. Deseja ser notado, deseja ser aceito, seja ser extraordinário, deseja ser amado, deseja ser cultuado. Deseja desesperadamente estar acima de todas essas necessidades, para não sofrer mais.
- Nem tudo é sobre você.
- Estamos trabalhando nisso.
Confiança vazia.
Vamos nos lamentar um pouco mais. Vamos fingir que nada disso é importante.
Enquanto isso, finge que se importa com o conflito de ideologias e com a movimentação frenética de pessoas nas ruas. Sente-se paranoico com a possibilidade de manipulação. Teorias das conspiração. Lunático. Lembra-se sempre da doutora escritora que escrevia com o coração, diziam, escrevia de uma forma enigmática, porém simples, dizem. Ela é cultuada e adorada, você não. Você é simplório e escreve bobagens. Você jamais estará acima dessas necessidades banais que tanto repudia e que tanto deseja.
E aí João olhou para a janela. E pensou profundamente na possibilidade. 

E aí lembrou que não adiantaria nada.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Notícias de Quinta [111]

Não tem um vídeo mas vários com destaque para o do Pirulla explicando "coé" a dos 20 centavos e porque a causa seria justa mesmo que fossem sim "Só 20 centavos."

Vídeos
Carla Dauden explica porque não vai a Copa de 2014
Rafael Barbacena, o @rafucko, diz o que a mídia mostrou das manifestações pelo país
No Protesto SP a PM sentou na br Berrini junto com os manifestantes
Em Teófilo Otoni (MG) a polícia militar mostrou que tem talento
E em Anápolis (GO) a carência falou mais alto e a PM abraçou os estudantes ;'D
(Eu me EMOcionei bastante com esses vídeos da PM participando do movimento principalmente depois de ver aqueles outros dos caras botando pra foder a mando do Alckminho.)

No Brasil
Essa semana tivemos o e o atos contra o aumento da tarifa na cidade de São Paulo e muitos outros espalhados pelo país.
No 5º houveram poucos casos de violência aqui em São Paulo mas um carro foi incendiado no Rio e tentaram invadir a Alerj. Legal que o cara ganhou um carro novo depois. Em alguns outros estados houve excessos por parte da polícia.
No 6º protesto em SP um playboyzinho marombado decidiu quebrar a frente da prefeitura e depois se entregou e pediu desculpas. Perdeu o controle e a razão né filho?
Enquanto isso rolava a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, presidida pelo(a) nosso(a) amigo(a) pastor(a), metrossexual e travesti¹ Marco Feliciano, aprovava o projeto apelidado de "Cura Gay" que obviamente não vai passar pelo Comissão de Justiça e Cidadania mas a passivona já falou que vai ficar revoltadissima se isso acontecer. As "amiga" que não são bobas nem nada já estão pedindo aposentadoria por invalidez porque, né? Se viadagem é doença?
Mas o importante é que Fernandinho e Geraldinho bateram um papo descontraído e decidiram revogar o aumento da passagem que volta na segunda-feira aos já absurdos R$3. No Rio também foi aprovada a redução. O POVO NO PODER! (Mas vamos ficar de olho porque não é do próprio salário que os espertos vão tirar o dinheiro que eles dizem ser necessário para subsidiar essa redução.)
E alguém, curiosamente um ex-consultor de Dilminha, tirou uma conclusão muito óbvia de tudo isso: O governo não sabe usar as redes sociais.
De última hora: Parece que os deputados deram uma olhada nas redes sociais e estão cogitando a possibilidade de travar a PEC 37 e a "Cura Gay". Provavelmente até um momento em que não estejamos olhando para irem lá e votarem em segredo. REPITO: Vamos ficar de olho nesses feladaputas!

No Mundo
Meninas de 2 anos sofrem de síndrome rara que as impede de brincar (=/ deve ser muito ruim isso. >.<)

No Caderno
O baderneiro do João quer mais é que a coisa toda exploda. Tem que quebrar tudo essa merda mesmo.

¹ Peço perdão as travestis pela piada. Não quis ofende-las.

Na minha opinião uma das fotos mais bonitas dos protestos.
Enquanto isso na minha vida pessoal subiu para 2 a contagem de pessoas legais e importantes que afastei por causa da minha estupidez. Ligia, Claudio, ainda espero que vocês reconsiderem... porque se eu fui estúpida pra afastar vocês sou mais estúpida ainda pra ficar aqui fazendo bico ao invés de pedir desculpas.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Idiotices do João [43]


Esta merda está uma zona.
Vem pra rua! Vem pro movimento! Muda, Brasil!, sem partido político!, um professor vale mais que o jogador tal!, parem de explorar a classe média, é o movimento de quem paga sua bolsa esmola!, não são apenas vinte centavos!, o Brasil acordou!, tenham foco!, bando de badernistas!, orgulho de ser brasileiro!, a revolta dos jovens, o topo da pirâmide desceu às ruas!...
Esta merda está uma zona.
Agora, façam o julgamento de desvalores, estão na rua marchando, isto aqui poderia esbravejar
saúde educação sem polícia não tem violência
ordem quebra queimadura rapaz de branco derrubando vândalos olha uma escada ali!
É carnaval, é balada. Depois do horário comercial, todos desceram para brincar de revolução.
Frases bonitas, feitas de improviso, curtiram muitos.
Esta merda está uma zona.

Há algum sentido em se arrastar vivo?

Um aglomerado de opiniões, visões, desconceitos. Estamos encaminhados? ilusões de união. Ou pessimismo exagerado? Estamos nos escoando pelo ralo, ou talvez não.

Maria disse para escrever o que quiser. Maria retornou. Maria se esqueceu.

Está caducando, talvez, entrementes, algum sangue foi derramado.

Não está se estremecendo.

Entortou-se um pouco, para aliviar.

Esta. Merda. Está. Uma. Zona.

MAIS AINDA NAO É ZONA SUFICIENTE PODERIAM DEVERIAM QUEBRAR QUEBRAR TODOS TODOS DESCENDO SUBINDO DESTRUINDO DEVORANDO-SE CAOS DEVERIAM QUEBRAR PARAR PARAR DE VERDADE RUIR RACHAR DESTRUIR AS ESTRUTURAS INVADIR A LUZ DO DIA A LUZ DO DIA DEVORAR DESTRUIR ALICERCES ALICERCES INTERIORES PARADIGMAS CHEGA DE PALAVRAS BONITAS QUEBRAR ROSNAR UIVAR DESTRUIR INTERNAMENTE ANIMAIS VÂNDALOS MAIS QUE ISSO DESTRUAM-SE QUEBREM CAOS CADÊ O CAOS FINGIMENTOS QUEBRAR CADÊ O CAOS VERDADEIRO CADÊ TODO O SISTEMA DANIFICADO QUEBREM O SISTEMA TODO TODAS AS ENGRENAGENS CARTAS MARCADAS SENTINDO O CHEIRO PALAVRAS BONITAS FRASES FEITAS ONDE ESTÁ REVOLUÇÃO VOMITAM REVOLUÇÃO APOIAM-SE EM LIVROS CLICHÊS CLASSES SE CONFRONTANDO APOLOGIAS DIRÃO QUE ESTA MERDA SEM SENTIDO SERIA MAIS UMA APOLOGIA BABACA A MERDA NENHUMA CADÊ O CAOS SEM SENTIDO DESTRUAM O SENTIDO DESTRUAM O SENTIDO PARADIGMAS CHEGA DE PALAVRAS BONITAS TEORIAS CAIXAS EM ALTA NÃO PERCEBERÃO ONDE ESTÁ RAIVA RAIVA RAIVA NÃO ESTÁ AQUI CADÊ O CAOS CADÊ O VERDADEIRO CAOS?!?!

Foi dar uma volta.

Aí, João aproveitou para ir bater a cabeça na parede, enquanto cantavam o hino nacional lá na rua.
**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Notícias de Quinta [110]


No Brasil
Aumento de R$ 0,20 na passagem obriga paulistanos de baixa renda a pular refeições ("Ai mimimi são só 20 centavos." 20 centavos repetidos muitas vezes, 60 no mínimo.)
O preço da volta para casa; país tem 37 milhões de pessoas que não têm dinheiro para pagar passagem regularmente (E quem reclama das manifestações andando belo e folgado no seu carrinho. Oh, parabéns.)
Evolução da tarifa de transporte em SP (Agora prometo que paro mas deem uma olhada nesse gráfico e vejam que a passagem em SP está MUITO acima da inflação. Se ainda fosse o melhor serviço, os melhores ônibus, mas NÃO É. Transporte público é pra transportar o público não pra dar rios de lucro pra meia duzia de empresário pau no cu.)
Sindicato decreta greve nas linhas 8, 9, 11 e 12 da CPTM a partir de hoje (Eu também quero aumento mas da última vez que os funcionários da PUC fizeram greve... vish melhor nem pensar.)

No Mundo
Após 2 dias no fundo do mar, homem é achado vivo em banheiro de navio (Em caso de naufrágio se tranque no banheiro.)

No Caderno
O Kabral essa semana escreveu, escreveu, escreveu:

E teve também Fernandices da Fernanda:

E deixem um comentário assim: VOLTA LIGIA!!! pra eu ter certeza que vocês estão sentindo tanta falta dela quanto eu acho que estou, ops!, estão.
Bom resto de quinta... eu acho.
**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

Idiotices do João [42]


Meu nome é João, e estou em busca de respostas.
Não foi uma boa maneira de se começar. Estou sempre me justificando. Gostaria de entender porque estou fazendo isto. Não me parece que alguém se importe - da mesma forma que quase não me dou ao trabalho de olhar para o lado. Não, está mentindo. Perceba que a vírgula é muito importante e é capaz de mudar todo o sentido. O que é o sentido? Estou confabulando sem maiores argumentos. Na noite de hoje, perambulei 40 minutos a mais por ruas escuras, perdido pelo caminho, sem se permitir perguntar onde estava. Por quantas cavernas terei de me guiar? Estou em busca da minha sensibilidade perdida. Frequentemente apresento uma faceta artificial, sempre tenho uma máscara automática e preparada para os mais diversos momentos. Não há controle, a máscara simplesmente pulula bem na minha frente e dita minhas frases e falas. Ainda falta sinceridade, estou me repetindo sempre. Onde está a minha sensibilidade? Onde está o meu verdadeiro eu? Estou sempre andando em círculos, estou sempre me decepcionando e me insatisfazendo com tolices. Estou sempre em busca da próxima causa perdida. As músicas me fazem flutuar além da banalidade mundana, ignoro tudo o mais ao meu redor na tentativa desesperada de me alcançar. Pareço cada vez mais distante de mim mesmo. Eu apenas quero respostas. Por que estou fazendo isto? Para onde estou indo? Qual o verdadeiro significado de todas as coisas? Serei um ídolo trágico? Serei o coração de todas as coisas? Palavras desperdiçadas, sempre, sempre, não consigo expressar verdadeiramente, verdade, verdade, o que é essa tal maldita verdade? O que é o valor que a todos representa? Nenhuma validade. Nenhuma falta. Ignorei a mocinha, novamente fiz, fiz o que detesto que façam comigo, todos se chicoteiam, culpa, culpa, culpa, potencial desperdiçado, fechado, quantas peles minhas preciso rasgar para alcançar o verdadeiro potencial?, o que é esse tal verdadeiro?, por que batendo sempre sempre na mesma tecla, sempre a mesma porcaria, falta excelência, quantos senhores doutores escritores de direito são necessários para preencher um vazio tão faminto?, o que é que está faltando?, o que diabos você está buscando?, não era bem isso, na rua parecia mais pertinente, aqui dizendo parece tolo, parece inadequado, sempre se criticando, sempre sempre, quem será atingido?, quem será descrito?, a quem contemplar?, perguntas, perguntas, não abriu o suficiente, repete-se, não se aguenta, não se suporta, vomite sangue, por gentileza, despedace os cabelos, dramático, sem valor literário, calma, calma, olhe para dentro, calma, está primário, representa pouco, aceite, a senhora escritora de sentimentos disse mais e todos se ajoelharam, calma, por que você faz isso?, excesso de sentimentos, os sentimentos que você reprime para que não seja reprimido, você se esconde dentro de si, não permite que transborde, você inibe seu próprio potencial, falta sinceridade, falta honestidade, falta entrega, sempre recorrendo a máscaras, sempre, sempre, Maria sabia te identificar, sabia direitinho quando você era o verdadeiro João, mas Maria agora abraça outro, apresentou seu marido e mora agora do outro lado do mundo, está feliz com sua esposa e participa dos debates, está bem distante do seu toque, não há nenhuma Maria aqui, meu caro João, esta prisão de lixo tóxico, incapaz de enxergar, coloca fone de ouvido e anda pelo castelo de rocha vegetal, caminha pelas alturas e navega pelo fogo, ignora tudo ao redor, tenta olhar para dentro de si e se decepciona, o que estou fazendo aqui?, qual o meu sonho verdadeiro, qual o significado do mundo?, o mundo, o mundo?, o que é este sistema?, religiões não são a resposta, as pessoas não possuem a resposta, o que elas fazem?, se arrastam em soluções óbvias, falta argumento, falta aprofundamento, trabalho, família, religião, não são respostas, não é suficiente, não é isso que estamos buscando, por que ainda estamos vivos?, por que insistimos ainda em nos arrastar ao lado dos outros?, por que não posso simplesmente abrir asas e voar para bem longe daqui?, morrer não é resposta, está primário, chega de criticar, por favor, a senhor poetisa elaborou quantos versos?, por que têm de imitá-los?, por que escrever mais do que lerão?, qual o significado de toda essa adoração?, por que as pessoas precisam se preencher com todo este amontoado de palavras, este aglomerado sem valor que não significa nada?, o que é o significado?, ler todos aqueles livros e proferir palavras bonitas e iludir plateias?, é só isso?, é só para isso que vivemos?, por que tem de pensar em Maria?, o que diabos Maria significa?, o que é Maria?!, João, João, João, o que é que você está fazendo?, o que é que está tramando?, você existe?, o que é tudo isto?, o que é viver, o que é?, quem?, o quê...?
Nada.
Nada em porra de lugar nenhum.
A resposta não existe.
Não existe, não há. Não procede. Negue. Negue. Nenhum. Nada. Não fornicarás. Neguemos. Nunca haverá. Desperdícios. Lamentações. Esquecimentos. Destruições. Gracejos. Lamentações. Desesperos.
Não.
A resposta que João procura, não existe em lugar nenhum. Sorria.
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terça-feira, 11 de junho de 2013

Idiotices do João [41]


João deu um tiro na própria testa, pois sentiu-se menor perante a imensidão do sucesso.
O sucesso escarneceu dos receios de João no momento em que Maria subiu no palco para receber o grande prêmio internacional de reconhecimento por sua árdua dedicação ao seu trabalho e à sua equipe. João pestanejou enquanto o prêmio era entregue pelos patrícios daquele mundo que João não compreende. Está se cobrando outra vez, está-se exigindo excelência de desempenho. Todos os dias repete a mesma ladainha, está vomitando sem parâmetro. Houve o diálogo coletivo, a poetisa da Grande Sensibilidade, adorada e de pés beijados, sábados e sábados de dedicação, realizaram o seminário apaixonado, o que João aprendeu? Está se iludindo para tentar sentir. Está fechado outra vez. Embaralhado. Não era Maria que ele beijou. Não era. Não será. Desculpe-me. Maria subiu ao palco para receber o prêmio e apresentou seu marido. Enquanto isso, João foi atacado pela paródia para que de paródia pudesse servir outra vez. Apenas um arremedo de ser humano, João se curva, sorri patético. Melhor mesmo meter uma bala na cabeça.
João poderia ter-se jogado da janela, se tivesse maior coragem. Foi-se deitar esmagado pela tristeza, derrotado pelo peso do seu mundo medíocre, incapaz de reagir contra si próprio. Novamente, falta sensibilidade e aprofundamento. Sempre se justificando. Em qualquer outra ocasião, fantasia orações fabulosas e textos magninânimos. As tais palavras estupendas simplesmente desaparecem na hora em que tem de escrevê-las. Ridículo, caro João, ridículo.
Escuridão se contorce sempre. Está escuro, sempre. Poderia espernear. Mais fácil desistir. Permite-se esmagar. Falta tino. Está-se cobrando outra vez. Amanhã será mais um procedimento igual a todos os outros, ambiente estéril, todos fazendo as mesmas coisas sempre. Eles têm é de quebrar tudo, sim, têm de ir às ruas urrar contra, mas aí o coleguinha ao lado balbucia mais uma opinião viciada e imbecil, contra a gritaria que ele acha lindo quando é lá fora. A mesma idiotice, cercado de estúpidos, incluindo o clichê de dizer isto.
E nem se compara com a poetisa do seminário. Falta sensibilidade, para variar.
João nem está escolhendo o que dizer. Criatura deprimente! Órfão do próprio estilo, o melhor que pode fazer é criticar a si próprio. Irrita-se com o ranger da porta. Detalhe insignificante. Irrita-se com superficialidades. Sentado, olhando para a tela, sentado, todos os dias, gralhas gargalham, proferem imbecilidades de sempre, de sempre, a mesma merda sempre sempre sempre, estéril, o seminário da poetisa, escreveu um monte, grande obra, extensa obra, emocioadas, emocionadas, admiram tanto a grande escritora, lambem os pés do doutor escritor de direito, sempre, sempre, vão todos para suas casas, vidinhas, vidinhas, lambem os pés dos doutores celebridades, arrastam-se todos os dias, gargalham, gargalham as gralhas, maldizem os badernistas da televisão, aplaudem quando os do norte fazem a mesmíssima coisa, vidinha, vidinha, vidinhas, não foi Maria quem você beijou, não foi, Maria estava ganhando prêmio, você embasbado e inútil, ridículo, nada representa para o mundo, nada acrescenta, não é um senhor doutor, nunca alcançará tamanho prestígio, nunca, nunca, remoe-se em inveja, inveja dos casais, inveja dos que têm os pés lambidos, permitiu-se vitimar pela ilusão da vida feliz, deixou-se iludir, deseja beleza e destaque, a mesma merda dos que você critica, a mesma idiotice, tão parvo e deprimente como todos os demais, Maria ganhou o prêmio internacional e apresentou seu marido, João foi agarrado pela paródia na frente de todos, todos riram da paródia que é o João, nunca será merda nenhuma, remoe-se no quarto escuro, solitário e ridículo, amargo e retorcido, foi-se deitar, esmagado pelo peso do seu mundinho medíocre.
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sexta-feira, 7 de junho de 2013

Idiotices do João [40]


“Você é muito profundo, João”.
Olhei nos olhos de Maria por alguns instantes. Na verdade, encarei-a com bravura, pela prmeira vez nesta vida. Encarei-a enquanto falava. Respirava e tentava enxergar a mim mesmo como a pessoa mais alta da sala. O bar estava lotado, eu não conhecia a maioria das pessoas ali presentes, na verdade eu só conhecia Maria e mais uns três. Além do próprio aniversariante. Neste instante, eu deveria estar criando a próxima ideia genial, mas o mundo em branco a minha frente me calou. Enquanto isso, eu encarava os olhos turvos de Maria. O Estatuo do Nascituro é uma aberração, elaborei minha opinião a respeito e muitos, muitos concordaram, fizeram sinal de joinha. Compartilhamento inútil, um afago ridículo de ego, nada mudará. Lições de moral para uma moral deturbada. Você é tão mesquinho quanto os demais, meu caro João, deve sempre se lembrar. Tenta se comunicar inutilmente por mensagens, por textos, tenta provar para si próprio que sua existência pode ser menos inútil. Encarou Maria nos olhos, naquele bar lotado, pela primeira vez, Maria que sempre o fez abaixar a cabeça enquanto passava, deslumbrante pelo corredor, olhos turvos que exalavam apreensão, andava com a classe soberba das almas tortas, Maria é uma alma torta, você sabe, você fareja, e é por isso que ela tanto o fascina. Maria não respondeu sua mensagem quando postou para ela aquele seu desabafo a respeito do filme, ela não respondeu porque você a ignorou, não queria lhe falar, depois daquela confissão estúpida de bêbado. Mas ela disse que você era profundo, logo em seguida, e você se lembra de quando a beijou suavemente e lhe disse que era linda. Maria e João haviam se encontrado em frente à livraria, Maria confessou que se achava feia e solitária, uma linda alma torta, João a beijou e lhe disse, você é linda e merece ser amada - permita-se amar, portanto. E Maria foi para longe, João voltou feliz para casa, porém apreensivo. João se engasgou em seus próprios questionamentos. Quantas solidões são necessárias para preencher o salão de festas? João foi na casa noturna, não queria, mas era aniversário da amiga, não queria mas foi, divertiu-se, apresentou-se bem humorado. Até que Maria apareceu. Ficou bêbado, lógico, sentiu-se tão ridículo perante a majestade resplandecente de Maria que João bebeu, bebeu, para se esquecer de o quanto era insignificante. E aí se aproximou de Maria para lhe balbuciar, desculpa, desculpa, você é linda demais, só queria lhe dizer isso, estou bêbadou, vou me retirar, e saiu, e foi abraçar amigos, foi em busca do contato que tanto anseia. incapaz de admitir para si próprio, finge sempre que não precisa de nada. que pode viver sem, sempre sem, endurece o coração e faz cara feia para casais se beijando, sente inveja de juras de amor, jamais revela, jamais toca no assunto, saboreia a solidão e se afasta, não se permite, etc., ainda naquela festa, estava bêbado, Maria voltou, algum amigo gritou alguma coisa, João fez isso, isso, aquilo, e saiu, João bêbado explicou que fez isso, isso, aquilo, bêbado, Maria o puxou para dançar, dançaram, a amiga de Maria saiu para ir ao banheiro, João se aproximou dançando e então se beijaram, não se lembra como foi, Maria era linda e João sentiu-se poderosíssimo, lembrou-se que era capaz de cortejar a linda Maria, ridículo João, arrastou-se para casa, defender o direito das mulheres, não é isso?, arranjou briga com o segurança bem maior que você, deixa elas se beijarem!, para com essa babaquice!, quase apanhou, Maria admirada lhe deixou o telefone, quanta presepada, meu caro João, ainda se lembra de quando beijou Maria no bar, ambos bêbados demais, não, apenas Maria estava bêbada naquela ocasião, o melhor beijo de toda a sua vida. irradiou-lhe sensações tremendas, causou-lhe arrepios sem precedentes, lutar pelo direto das mulheres, João  abandonou e foi abandonado, foi truculento, cego pelo orgulho imbecil, você é tão profundo, João, não, não é, ainda não conseguiu despertar, respira em silêncio pela manhã, não estou sozinho, não tenho medo, não estou infeliz, ritual estúpido que repete para si mesmo todos os dias, ao menos consegue agora trabalhar sem sentir o estômago se remexer de ansiedade, sem se sentir esmagado por gases, que nojo, intumescido de ansiedade, Maria passa pelos corredores e João abaixa a cabeça, constrangido, sabe que as mulheres são criaturas superiores a ele, macho estúpido, todos os machos são lixos deprimentes cheios de si, patéticos, corja!, infelizmente sabe que, para conseguir a atenção que deseja, deve ignorar, jogo imbecil!, mas é a mesma coisa com ele próprio, se lhe chamam demais a atenção ele é quem ignora, têm de lhe dar um gelo de quando em quando, mas essa palermice não é uma ciência exata, por vezes João ignora também quando Maria lhe ignora e não se falam mais, isto aqui não tem qualquer valor literário, está se justificando de novo, de novo, de novo, agredir antes de ser agredido, etc., você é muito profundo, João, não, não é, valores rasos, ideais deturpados, somente agora está finalmente ensaiando como agir como um homem adulto, o que diabos é ser adulto?, é fingir que é sério e não se revelar demais em público, definição desfigurada, agora adjetivou desnecessariamente, sempre faz isso, fingir que é sério, fechar-se no semblante de concentração, convicção, expansão, novo mantra idiota, adjetivos de depreciação, sempre, músicas arrastadas e deprimentes, sempre, escuridão do quarto, nossa, como ele é trevoso, olhou Maria bem nos olhos, você é muito profundo, João, não, não é, mas ao menos se permitiu sorrir por alguns instantes.

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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Notícias de Quinta [109]


China: o tatuador sem tattoos (É frouxo mas dá bons conselhos.)
Jovem sobe em capô após carro parar em cima da faixa (Nossa, tenho uma vontade imensa de fazer isso mas tenho medo de levar um tiro no meio da testa.)
Pirâmide construída pela civilização Maia há 2.300 anos é destruída por uma escavadeira (u.u Que tipo de imbecil destrói uma pirâmide Maia assim sem nenhum escrúpulo?)
Campanha envia fezes de cão pelo correio a donos que não as recolhem (Boa.)

Poucas notícias? É, não foi lá uma semana muito agitada. Também não vou comentar a parada gay e os crente pirando em Brasília porque é clichê.
Até semana que vem.
Que Jesus abençõe vocês com sua graça! xD
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terça-feira, 4 de junho de 2013

Idiotices do João [39]


Você ainda se atreve a acreditar em algo?


Acordei atolado numa sarjeta dessas qualquer. Tentei respirar, mas já era meio tarde para isso. Sabe, algo genial precisa ser criado, para que a vida tenha algum significado. Algo de espetacular, que mude o mundo. Um projeto para ajudar as pessoas. O que você tem aí a disposição? Gostaria de, por gentileza, compartilhar algum sentido? A sarjeta se arrasta sozinha, enquanto você confabula com criações. Ilusões. Os trabalhos se acumulam, você é o responsável, eles lhe disseram para fazer, você concordou. No entanto, se cansou de matar.

O mundo entrará em colapso em breve, então por que se importar?
Agora, vou me justificar, para que a idiotice alcance níveis ainda mais memoráveis. Nulanga é o meu nome, e eu sou um caçador. Era. Eu trabalhava para os altos escalões do governo como um caçador de cabeças.


Morro de medo de ter uma identidade única.

Os meus motivos são rasos. Estou me solidificando enquanto extermino mais um dejeto. Olhe só para eles. Caminham sem rumo ao trabalho. Estou sendo raso. Vamos contar uma boa história. O caçador se levantou, estava fatigado. Ele acha que conta bem, mas está se perdendo. Poderemos lapidar mais tarde. Vamos confabular. O caçador se levantou para rugir.

Está bem. Era para isto aqui ser o próximo conto genial do momento, mas vamos enganar a quem? 

Considerações mesquinhas, desencontros. A papelada se acumula na mesa, e o meu nome não é Nulunga. Vamos usar de laboratório, que tal divulgar a todos na internet? Está se perdendo.

Você. Está. Perdendo. Seu tempo.

Está perdendo o foco. Há algum?

Escreva algo genial. Escreva algo revolucionário. Sensibilize o mundo inteiro. Os acadêmicos vão ler se...

Enqaunto isso, mais alguém publica um conto de grande sucsso e relevância.
Não estamos sendo honestos. Artificialidades. Que tal abrir mais?

Pronto.

Ainda não.

Eu mandei mensagem para Maria, para lhe chamar a atenção, para que ntasse o quanto é semelhante a mim. Pretensões, ilusões. Não obterá resposta. É capaz de admitir em voz alta? Deseja ser publicado para fingir que sua atribuição possui sentido. Considerações infantis, falta de estrutura. Critica-se antes que seja criticado. Tática trouxa. O que te atormenta?
Você tem de se portar como se fosse a pessoa mais alta da sala.

Você gostaria de matar?

Eu sou Luís da Silva. Mentira, meu nome é Montevaldo. Eu observo o mundo. É claro. Você olha mal e mal para as porcarias que lhe rondam. Talvez.
Meu nome é João, e parece que eu ainda existo. Eu e minhas idiotices.
É muito tarde para começar este registro. Deveria ter falado antes. Acha que qualquer merda que você escrever terá valor literário? Você está perdido. Caia fora antes que se humilhe mais.
Ela me quis, aquela mulher mais velha. Uma chefona de empresa. Ela me flertou. Eu não fui. Sou obrigado sempre a ir? Agora questionam minha sexualidade. É assim que funciona?
Esta merda é alguma espécie de diário tardio?
O dia de hoje, em que nada consegui fazer.

Está bem.

Você não pertence. Meu nome é Nulunga e estou na mata caçando enquanto voo pelos céus. Meu poder mental é imenso. É psiquismo, mas não posso revelar, tenho de dizer que é magia ou poderes da alma. Talvez sejam habilidades mutantes. Você não se compara aos grandes, os acadêmicos te desprezam. O mundo inteiro está te olhando com intenções de pena. Feliz aniversário para aquele moço, ele é considerado. Destroçou-se novamente a sua frágil confiança. 

Medo de uma identidade única. Falta ousadia.

Estou me confundindo. Ela está pensando em mim?

O que eles pensam quando te olham? Preocupado com o que outros pensam. Tentando provar um valor inexistente. Insignificâncias. Você não possui sentidos claros ou passíveis de compartilhamento. Os grandes mestres senhores estão em seus pedestais. Você sonha em alcançar um status tal de excelência para fingir que existe por algum motivo. Você está perdendo seu tempo. Deveria experimentar ser normal. Qual suas suposições a respeito. Vamos nos criticar mais uma vez, para nos justificar. Vamos, por gentileza. Este texto não será revisado.
O dia hoje não está acontecendo. Suas considerações são pequenas. Naquele outro livro, as observações do personagem principal são muito mais relevantes. Porque alguém disse que seria. Alguém sempre diz alguma coisa além do que você poderia. Sempre há alguém acima. Sempre haverá.

Estamos no trabalho, e nada realizamos. Algo de genial precisa ser criado, antes que seja tarde demais. Por favor.

Estou surtando em cobranças, estou afundando a cabeça entre as mãos bem no meio do trabalho e ninguém dá a mínima - da mesma forma que não meu dou ao trabalho de perceber alguém se estrebuchando em dor e desespero bem na minha frente.

Onde está Maria?

A Maria ou não quer saber de você ou está morrendo de medo. Ela está sempre com medo. Esqueça-a. Vá fazer qualquer outra coisa da vida, por gentileza.

Não estou conseguindo.

Naquela outra história, o personagem se obcecava por uma gentalha dessas qualquer. Eu não consigo me permitir a uma coisa dessas. Mas não é o que está acontecendo. Não, Maria é diferente. 

Ou é algo que só você quer acreditar?

Acreditar.

Se eu causar idiotices suficientes, será que garanto meu lugar ao sol?

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