quinta-feira, 27 de junho de 2013

Idiotices do João [46]


Estamos tremendo. Estamos gritando. Estamos nos forçando para frente. A mandíbula estala, o coração palpita feito um besouro barulhento ridículo. Não falaremos nada abertamente. Estamos batendo com muitas cabeças na parede. Olhamos para todos os lados, enquanto a ansiedade se esparrama pelo salão. O estômago se remexe, comprime a barriga, esmaga a dignidade contra a parede. É afundar a cabeça entre as mãos e fingir que está rezando. Senhor Todo Poderoso de Porra Nenhuma, está nos ouvindo? É o João quem está falando.
Estamos nos forçando contra a autossabotagem.
Sabotar-se, apenas. Para reclamar da falta de sorte em todas as empreitadas. Está estéril. Criticar-se novamente, repetitivo. Quando o telefone toca, é um desses imbecis quaisquer que insistem. Eles insistem. Eles tentam. Eles tentam.
Sua face amarrada a um jumento. Estamos quebrando carangueijos em outras dimensões. Mova-se, garoto, não ficarei nesse ofício para sempre! Mova-se! Insistir para que o mundo se lembre que algum de vocês existe. Quantos passos até a porta? As toalhas foram retiradas. Está mais calmo agora? Pode enviar, pode entrar na página e preparar o material sem tremer e gritar feito uma criança melequenta. Pode enviar. Sabotar. Esqueça. Envie. Enquanto isso, treme. Sempre treme por coisas que nem nunca teve. Pressão. Qual topo deseja encontrar? E para qual motivo? Desnorteamento. O tempo possui seu próprio tempo. Quanto menos se importa, mais vêm até o João. O João.
O João é uma criaturinha patética. Ilusões de grandeza até que a Lua se despedace em círculos de tolices. Idiotices. É o que estamos fazendo aqui. João, João.
A Maria é só uma ilusão. Jamais acontecerá.
A sabotagem decorre da vontade de permanecer ridículo no mesmo lugar.
Então, não aceita e luta contra. E aí, treme.
Tremedeiras para se locomover. Precisa gritar para conseguir sair do lugar. Vamos rasgar a própria garganta, que tal? Valeria mais a pena drenar sangue e viver para sempre. Quantos urros são necessários para se fazer notar? Deseja que seja sentido. Sentido. Sentir o quê? Expandir para tocar as almas. Deixar sair, pelo amor de todos os ancestrais. Não se revele demais. Quantas solidões são necessárias para se esconder uma podridão sorridente? Não tem. Não tem sentido. Maria, depois de ganhar o prêmio, disse para vomitar todas as criatividades de uma vez só. Maria não existe, pare com isso. Maria está por aqui, mas em breve retornará para o outro lado do mar - ela se afoga nas profundezas de angústias tão deliciosas e tão deprimentes que João adoraria submergir junto com ela para um abismo sem fim de lamúrias, tolices e amores. Amores silenciosos da depressão. Pare de usar palavras fáceis. Clichês. Vamos afundar. Enquanto isso, procura como um cego na escuridão. Já está escuro, imbecil. Tatear. Ainda se sente sujo pelo toque indesejado. Penetrar só para mostrar que é macho? Que encomenda imbecil. Feche-se no casulo, lógico, ninguém se dará ao trabalho de perceber. E então, parou de tremer? É ridículo, continuar a se criticar, quer um chicote? Nenhum caos é necessário. Caos, outra palavra fácil. Abaixe o som, por favor. Obrigado. Ah, João, com seu jeitão, não acreditávamos que. Jeitão. Claro. Olhe para a cara dessse infeliz. Não pertence a este mundo. Ah, eu faço isso e aquilo. É mesmo? Foda-se. Calma. Gente, qual a necessidade disso? Jargões de ocasião. Sempre. Vamos voltar? Gostaria de contar e fechar os olhos. Eu me matei. Quantas vezes fiz isso? Respire. Um último adeus. Não tem coragem de escutar. Há fogo nos seus olhos? Maria curte suas atividades. Ela nunca mais respondeu depois que se entregaram ao beijo mais maravilhoso de todos os tempos. Nunca mais será. Um Rei para a todos dominar. Gosta de seguir a cartilha da liberdade. Ah, claro. A chama que cavalga os jumentos da insanidade, pronta para tacar fogo em toda a existência. Ah, nossa, mais uma escrita imbecil de efeito. Criticar antes de ser criticado, está ficando repetitivo. Não encontrará mais. Você vê algum sentido? Havia aquele macacão, era bonito. Ela é linda demais, embora não se chame Maria. Mas poderia. Não, não pode. Não acontecerá. Quantas cavernas serão necessárias? Falta leitura, sempre. Falta empreendimento. Cartilhas. Vamos pigarrear, por gentileza. Sempre é melhor quando o admiram à distância. Melhor compreendido quando mantido em seu casulo escuro. Oh, escuridão. Clichês. E então, parou de tremer? Temos que enviar, ou nunca vai acontecer. Eles já marcaram todas as cartas. Vão se arranjar ao fim do contrato, então você terá de se virar, por sua própria conta. João, me responda, qual a necessidade disso? Sua foca antropomórfica, você se deixa seduzir por falsas Marias. Ela não existe. Permita-me exemplificar. Não. Olha só, aquele cara jovem, eleito. Não, aquele cara jovem admirado por um milhão de retardados porque escreve o gibi japonês da moda. Que você também lê. Quantas incubências serão necessárias para desvirtuar a sua palermice feita em caixa? Um bebê teria mais dignidade. Já parou de tremer? O tempo está passando, e realizar apenas isto aqui está longe de ser suficiente. Sente-se sempre distante dos grandes meios. O que são os maiorais? Inferioriza-se. Quando é que poderá berrar para o mundo inteiro? No fundo, é isso o que você quer. É disso que você precisa. Ah, meu caro João. Na verdade, não há nenhuma resposta. Você persegue Maria eternamente, e provavelmente nunca a encontrará. Ou sim. Pare de tremer e envie. Mas antes, me responda: qual a necessidade disso, meu caro João?
**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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