sexta-feira, 30 de maio de 2014

Idiotices do João [66]


Maria expressou amor por João. João retribuiu Maria com decepção.
João decepciona. Não, vamos parar antes de. Lógico. Iríamos dizer tolices para alimentar a necessidade de João se sentir culpado. É isso? Dramatiza-se. Vai responsabilizar o passamento da Luz Rainha? Você já é um homem, João, e um homem, ou melhor, vamos parar, um ser humano tem de arcar com as responsabilidades de existir. Palavras bonitas não irão salvar. Sentir-se culpado muito menos. Acabou o encanto e a culpa é sua. Bonito, agora, terá de lutar redobrado, triplicado, para resgatar o que se foi. Encantos perdidos são difíceis de salvar. Se vira. A alma negra de marfim não faria menos. Repetidamente. Sente-se tolo. Problema é seu. Terá de rebrilhar. Onde estão as palavras bonitas? Onde estão os belos gestos? E as flores? Já sabemos o problema. Sabemos? Plural novamente. Somos um. Eu sou um. Precisa-se do procedimento outra vez? Você é o quê, um viciado? Transtorno. Vai culpar o possível transtorno? Maria teve paciência e paciência estoura. Vai culpa o transtorno que talvez não exista? Onde estão os ensinamentos do mito? Não consegue superar as limitações interiores? Terá de siar da barriga da fera. Implicações legais. Não adianta se pré-ocupar. Todos têm problemas, todos têm problemas, se vira, se vira. Está exigindo demais de si? Maria é tudo o que você sempre quis e mais um pouco. Você sempre desejou alguém como Maria. Sem se sentir culpado, sem se. Isso. Sentia-se culpado por só você ser feliz enquanto a Luz Rainha definhava. Adiantou? A Luz Rainha se foi, se foi, se foi. E ela não criou João para João ser uma pessoa fraca. Terá de lidar, terá de lidar. Porque tem de ser. Notícias? Implicações? Do que você tem medo? De viver? Vai se virar, vai encarar, Vai. Porque sim. Não há maiores explicações. Vai lidar, vai encarar e ainda assim será saudável. Se vira. Será saudável apesar de tudo. Resgate Maria. Resgate o encanto. Se vira. Palavras feias. Sem brilho. Problema é seu. Onde está o resplandecer das lindas letras? Poéticas. Se foi. Drama? É o quê? O trabalho primeiro estão todos gostando. E está fazendo pouco para promover. Muito pouco. Vão perceber o que há por detrás aqui. Medo? Receio? Um ser humano. Cheio de falhas. Falhas. Falhas. Lixo. Depressivos. Maníacos. Um só. Polaridades. Duas. Será? Terá de tomar o que odeia. Odeia. Remédios. Será? Dramas. Oh, senhores deuses. Obrigações. A cumprir. Tem medo? Tem? Se vira. Atormenta-se. Repete-se. Sem brilho. Sem porra nenhuma. Alma negra de marfim. Se vira. Adeus.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Notícias de Quinta [122]


Bem vindos de volta a seção do Caderno que surgiu bem antes do Cauê Moura vir com aquela história de Giro de Quinta. Como estão vocês?
Eu não posto desde o ano passado por falta de tempo/vontade multiplicado pelo fato de que ninguém lê isso mesmo, né? Assumam!
Nesse meio tempo o Kabral lançou seu livro, eu li o livro (terminei ontem) que está muito bom e recomendo. Se a preguiça me permitir posto uma resenha cheia de spoilers pra vocês mais tarde. Agora não.

O blog não se manteve inativo graças a Fernanda e ao Kabral que estiveram presentes postando Kabralices e Fernandices aqui e acolá. Não necessariamente nessa ordem.
Ah sim! Ontem foi aniversário da Fê. Parabéns! ♥

Clique aqui para ler todas as Fernandices da história desse blog -> AQUI para Fernandices
Clique aqui para ler as Kabralices Kabralescas do Kabral -> AQUI para Kabralices
De preferência cliquem nos dois e leiam tudo. ;)

Coletei hoje alguns links pra vocês que gostaria de comentar. Aproveitem porque não sei quando vai me dar a louca de postar de novo.

E-Farsas: 6 notícias falsas publicadas pela TV Revolta - Quem já viu ou segue a página que tem mais coxinha que o buteco ali da esquina deve saber que nem tudo que eles publicam tem o intuito de parecer real. Creio eu até que eles enfatizam a existência dessa 'veia cômica' embora eu não siga a página e discorde de muitos dos pontos de vista de seu(s) criadores/seguidores (além de não achar graça nenhuma). Mas como já vimos que quem divulga qualquer conteúdo na internet tem responsabilidade, e muita, sobre os efeitos que pode vir a causar acredito que é melhor publicar o mínimo de groselhas e o máximo de verdades possível. Excelente trabalho do e-Farsas que os coxinhas dirão que são comunistas pagos pelo PT.

Falando em coxinha veja o que as/os fãs de One Direction pensam sobre um dos seus ídolos fumar maconha (aposto que todos fumam mas só filmaram um por motivos de zuera). Nada contra, tenho até amigos que fumam. Tem mais é que legalizar aqui no Br e meter imposto.

E falando em coxinhisse ao quadrado um grupo de intelectuais fez um manifesto contra protestos que bloqueiam vias públicas. Ou seja, quer protestar, protesta baixinho, no seu cantinho, sem atrapalhar ninguém. Até porque resolve muita coisa protestar sem incomodar, né? #ironia.
Eu fiquei sem ônibus dois dias sem saber como voltar pra casa e espero que não tenha sido em vão e que os motoristas e cobradores tenha conseguido algum retorno positivo do sindicato de merda que eles tem.

Um deputado paulista muito preocupado, não com as condições de transporte público, mas com a "nova ordem satânica" (sic) resolveu redigir um projeto de lei proibindo a implantação de microchips em seres humanos. Alguém aí assistiu Deixados para Trás e levou ao pé da letra.

E tem uma galerinha aí que não sabe controlar a própria vontade de procrastinar e decidiu usar extensões de navegadores para bloquear o feed de notícias de Facebook. Galerinha, concordo que o facebook é uma bosta mas vem cá, não era mais fácil bloquear o site de uma vez? Ou procurar ajuda profissional no caso de não conseguir se controlar?

E por hoje é só galerinha. Fiquem agora com a nossa programação local.



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sexta-feira, 23 de maio de 2014

Idiotices do João [65]


O grito! João acordou gritando! O grito, a idiotice de existir sem se dar ao trabalho de se perdoar, ela se foi, ela se foi e você não sentiu, você berrou e vociferou, ela se foi. Há culpa, há arrependimentos, há tolices nas quais você se enquadra, nas quais você se afunda, nas quais você penetra e cospe a si próprio do outro lado.
Ela se foi e isso dói.
Pouco antes, você reencontrou Maria. Finalmente! João e Maria se reencontraram após um milhão de anos, debaixo de muitos risos e sorrisos, gargalhadas, peles se tocando e se abraçando, tão contentes, tão vivos! Maria, a verdadeira Maria, finalmente, após um trilhão de séculos, após uma eternidade tortuosa de busca. Vocês dois finalmente reencontraram um ao outro. Reencontraram.
E se amaram. Amaram amaram amaram amarama amaram amarama amarama amrmamrma rmamrmamrmamrmamr amrmamam rmam a rmama mrmamrma  mrmamamrmamrmam amamrma  ammrmamrmrma mamrmamr amrmamrmam amormoa amreoma mro a mro  amorm a mroma mro amoro a ro amro a mro amoro amorm amorm maormmao rmoa amroa r amor amroa amoraa rmaoroaa aamr amamr aama rma ma pamormam amaor amaora amaoroaa a amroa a amaor am aoaaoa amroa am amroa amroa amaor aamroa aa aorm amora aor a aor ammoaor a amarm amamr aamra amoar amaor amaorma amaormaamaorea amroa amroa a roaamroa amaoro amaor amaor amaoemammaor amroa amaor amaomaaoorma amroa amro aamor aamora aamor amaor a amoar amar aamara maoor amroa amaorma akaormamaaomr aaoremmr aoaorma a rkoamamr aoaomrroa aormaoaormaoaamaoeor
Amor.
E pouco depois a Dona Luz se foi.
Comunicou à Dona Luz que finalmente havia reencontrado Maria. E então a Luz se apagou nesta terra.
Foi a noite mais longa. A noite mais terrível, a angústia com máscara de tudo bem, o sorriso brilhante na frente do pesar e desgosto e desespero horríveis, o sorriso, a Dona Luz em sua últuma noite, penúltima, não sabíamos, doía, doía, João fazia o melhor que podia, estava repleta de dores, rancores, ódios, intumescida de negatividades acumuladas ao longo de tantas vidas, tantos sofrimentos e decepções, fraquejava, a Luz mais forte fraquejava, ninguém aguentava olhar, a última noite mais longa, cuidou como pode, da forma que foi possível, já esperávamos mas foi de repente, cuidados, ao menos se despediu, ao menos, chorou em silêncio quando ninguém estava olhando, Maria apoiou, olhou e chorou, o laço seria cortado, o cordão desapareceria, iria mesmo?, iria deixar o mundo para sempre?, iria causar tantas lágrimas, iria doer…?
Foi-se. Palavras não são suficientes. Doeu.
Ordens, lucidez, façam assim, vamos, façam. Tinha de manter a lucidez. Ordens e instruções, ligações. Até esporros. Não tenho que vê-la no saco! Já reconheci, andem com isso! Definições. Como você está?
Receber nos procedimentos, velórios, receber com sorrisos, sorrir, consolar os demais, João consolando as pessoas na despedida de sua própria Luz, consolava os amigos, os familiares, os subordinados, consolava a todos cujas almas haviam sido tocadas pela Luz, reuniões, reconciliamentos, religamentos de sangue. Reencontramos, certo? Perdoamos, abraçamos, prometemos.
Chega de rancores. Chega de ressentimentos.
João foi escalado. Para discursar. Após rituais e cânticos. De repente foi chamado. E foi. E algo desceu. Veio. E falou. Falou. Falou. Não se lembra. Falou com inflamação. Gritou! Falou. A voz do trovão, a explosão da chama, discursou e se expandiu, queimou, flamejou, indenciou. E aplaudiram! Imrpessionados e sem falas, aplaudiram.
Homenagens à Luz. Sempre. Lembrar sempre que a Luz e sua força vivem dentro de João. Para sempre.
João ao lado de Maria. Curando-se. Curando. Cicatriz para sempre. Curando. Maria espetacular, Maria nova Luz, Maria que sonha tão bem a ponto de criar novas realidades. O amor verdadeiro da verdadeira Maria. Curando João da perda da Luz.
Só que a Luz viverá para sempre dentro do João. Sempre bom lembrar.

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sexta-feira, 16 de maio de 2014

Duas gotas de perdição



Gostaria de poder dizer que essa lágrima foi a última, e que nenhuma outra vai habitar a vasilha repleta de doces secos. Gostaria de saber que o próximo passo será certeiro, e não dependerá de nenhuma circunstância externa impossível de ser abarcada pela minha subjetividade. 
Gostaria de saber que a existência do ar não depende da pressão exercida sobre ele, e que nada poderia ser feito para extinguir a presença ocupada por ele neste mundo. Mundo que depende de variáveis, de perspectivas, de circunstâncias, de apêndices. Sempre senti que um apêndice é muito mais importante do que as pessoas reconhecem. 
O crédito é merecido, estou muito certa disso. O carro não iria muito longe se não fosse o auxílio do apêndice, o apêndice de medo e pavor que o guia pelo caminho entrecortado de espinhos. A roseira sempre foi minha. Nunca soube se queria o objeto de meu desejo por ele ser palpável e passível de referência em nosso mundo ou se apenas o almejava por tentar encontrar uma representação mais verdadeira que o mundo de reflexos em que vivemos. 
Mundo de representações de falsas subjetividades. Mundo da transparência da fosca superfície desencontrada em meio lago de inverno. Todas as cores do mundo se encontram em mim e eu as resumo em branco, pois preciso colocá-las em uma categoria comparável a outras; preciso compreendê-las cientificamente, preciso defendê-las como defenderia dois pássaros em uma folha de cerejeira, preciso conhecê-las como conheci um dia a mim mesma. 
Hoje, poderia dizer que conheço mais a um estranho. Afinal, tudo que sei do estranho é aquele conteúdo mostrado, e não preciso me preocupar com a latência que um dia virá se manifestar como discurso. O largo espaço entre eu e a subjetividade do outro não me dá pista alguma do que seria a minha identidade, apenas me diz que não sou o outro nem sou o espaço vazio que outras subjetividades ocuparão em tempos futuros e ocupam em tempos simultâneos, porém sem o meu conhecimento. 
Desconheço se o que me caracteriza enquanto sujeito se coloca como expectativa dos outros traçada a partir do que já alcancei, ou se sou as minhas lacunas. O espaço vazio que sou se diferenciaria de alguma forma de outros espaços vazios? Seria esse salto de expectativa algo ousado demais ou recatado demais? O parâmetro de comparação é extremamente relativo. Só o dia seguinte saberá a resposta. Improvável. 

*Escrito por Fernanda Marques Granato.

*Texto protegido pela lei de direitos autorais. Só será permitida a reprodução com a autorização da autora e devida citação nominal da fonte primária. 


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A parede costurada no livro



Minha mão encosta na maçaneta e a porta revela o conforto do lar. Finalmente. A bolsa encontra o chão no qual vai descansar pelas próximas horas e eu me estico o máximo possível na cama mais próxima. Depois de competir com a cama pela posição de mais tempo na horizontal por três horas seguidas, já me sentindo derrotada e um tanto fatigada, levanto-me e já consigo manter os olhos abertos sem ter que lutar para não fechá-los. A ardência ocular passou, e consigo me erguer sem sentir tontura. Foi um sono reparador, de fato. Percebo que um pacote descansa em cima do pufe no meio do quarto, onde três horas atrás nada havia. Entusiasmo-me. Um pacote verde e branco. Ansiosa, dirijo-me ao pacote armada de uma tesoura imaginando o que o embrulho da livraria cultura me reserva.
         Um rápido corte no plástico revela um diminuto volume verde escuro, totalmente envolto em plástico. Retiro o plástico e tento, em vão, abrir o livro mas, para o meu desespero, o livro se encontra costurado dos dois lados (tanto o lado da lombada quanto o outro que deveria me permitir o acesso à sua riqueza para a leitura). O desespero toma conta de mim, pois sei perfeitamente que nada sei sobre costura e que me encontro sozinha em casa. Apenas um gato e um cachorro me fazem companhia, e nenhum dos dois sabe costurar. Fico preocupada.
         Pego a caixa de costura de minha mãe e de lá tiro três tipos diferentes de agulhas; pego o saco de tricô e tiro aquela agulha diferente; tento nervosamente retirar a linha que foi costurada nos furos minúsculos da encadernação com os quatro tipos de agulha e nada muda. Essa é a hora em que eu decido desgostar do status quo e minhas sobrancelhas ficam um pouco arqueadas de irritação. Com o olhar atento, decido pegar um objeto retangular e transparente de no máximo quinze centímetros que acompanha o livro, e que me parece ser um marcador de página ou uma régua. Com a ponta desse "marcador", com muita paciência, consigo tirar a linha dos buracos e a costura, pouco a pouco, se desfaz.
         Depois de meia hora, a costura do lado direito do livro está desfeita e consigo abrir a capa, para ter a minha ânsia de leitura mais uma vez frustrada: as páginas se encontram pintadas de preto, assemelhando-se à uma parede, e foram dobradas e coladas na lombada. No interior da dobradura há texto, inacessível porém. As folhas, antes de tamanho A4, agora dobradas assumem o tamanho A5, e coladas na lombada me lembram de tristes envelopes esquecidos. Continuo sem conseguir ter acesso ao mar de letras.

            Em um impulso enlouquecido, decido desfazer a costura da lombada e retirar a cola das páginas que se unem à capa, para finalmente conseguir abrir as folhas e ler o livro. Mais meia hora se passa e eu finalmente retiro toda a costura que prende os cadernos do miolo do livro à capa. Retiro a cola e abro as páginas. Outro susto: as páginas estão encadernadas ao contrário. A página à esquerda da folha é a página 37, e a página à direita é a 36. Concluo que tenho que ler ao contrário do tradicional, ou seja, da direita para a esquerda do livro, abrindo as folhas para ter acesso às palavras no seu interior. Resolvo por fim recortar as páginas e transformá-las todas em A5, para colocá-las em ordem e, depois de encadernar a publicação novamente, ser capaz de lê-la. Após recortar e reordenar todas as páginas sinto uma tristeza abissal, pois paguei R$ 44,00 reais para destruir um livro,  e depois a minha tristeza é suplantada por uma raiva tenebrosa, quando, ao entrar no site da editora para buscar uma explicação racional para o meu desespero, encontro um texto que diz que o leitor deve desfazer a costura do lado direito da encadernação puxando a fita vermelha (devo ter arrancado ela logo no começo da minha fúria) e deve, em seguida, utilizar a espátula que acompanha o livro para refilar as páginas. Minha raiva atingiu então um nível  nunca antes imaginado e percebi, com alívio, que a parede era metafórica e não deveria desconstruí-la também para poder, finalmente, ler o livro.

*Escrito por Fernanda Marques Granato.
*Texto protegido pela lei de direitos autorais. Só será permitida a reprodução com a autorização da autora e devida citação nominal da fonte primária. 

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