domingo, 30 de outubro de 2011

Idiotices do João [4]

João olha para os livros nas prateleiras e sente um pouco de pena. Não conseguiu se concentrar para estudar à noite, não conseguiu estudar de manhã, quando acordou bem mais cedo do que o necessário para chegar em tempo para o trabalho. Olha para os livros com pena porque eles estão ali, sendo tratados como mera mercadoria e enfeite, para serem repassados a clientes que os comprarão apenas para mostrar para todo mundo o quanto são cultos e espertos. Então a Maria se aproxima e lhe pergunta:

– Quais são as suas pretensões, João?

Ocorre um pequeno curto-circuito, por alguns momentos. João tentava se lembrar daqueles quadrinhos que tanto gosta de ler, o quanto se afoga naquelas estórias absurdas de fantasiados com superpoderes. Nada daquilo é real... mas sua vida também não é. Então ele enxergava pequeninos homens verdes invadindo a livraria em que trabalha e jogando gosma colorida na cara de seus colegas de trabalho – e todos estariam sorrindo e dando as mãos. Mas em vez disso, estava empilhando livros em cima de livros, para serem vendidos como enfeite de estantes melancólicas. Chega um novo cliente perguntando por aquele autor da moda, que escreveu um livro de mil e duzentas páginas, capa dura e colorida, abre o livro no meio da rua de todos vêm, várias pessoas lendo o mesmo livro, a mesma estória, comentam nas redes sociais, todos seguindo a mesma moda, João chega em casa e liga o computador e vê, quais são suas pretensões?, ela lhe perguntou, o futebol passa na televisão, mas João apenas toma nota dos resultados, uns caras berram na rua a cada gol, o time grandão de torcida grandona vencendo, muitas pessoas berrando gol, nós estamos vencendo, nossa vida é medíocre e nós estamos vencendo, aí compartilham a imagem do ex-presidente canceroso que deveria se tratar no Sistema Único de Saúde, a piadinha que se espalha no mar de idiotices sórdidas, moleques da faculdade fumam erva e jogam pedras em policiais que jogam bombas, quais são suas pretensões?, de que lado você está?, enquanto arruma mais produtos para fazer a festa dos que fingem para si próprios que a vida possui algum significado.

– Como assim, pretensões? - retruca João. – O que quer....?

A pergunta não termina. A cabeça se afunda entre as mãos. Na mesa dos mais vendidos, está o fino livro de poesias, poemas de acordo com o formato, poesia pelo uso desgastado das palavras, um cachorro entra acompanhado de uma madame, eu quero aquele livro do padre, aquele livro da narrativa histórica de investigação, e não porque é um best-seller, não não, eu não sigo a moda!, João sorri e lhe dá o livro, enquanto todos querem saber quais são suas pretensões, uma garrafa de cachaça na festa daquele seu amigo, todos cambaleando e ousados em fúria ébria, João apenas sentado olhando, fingindo que sorri e que se diverte, a música serpenteia por entre seus ouvidos e as danças se intoxicam com os corpos desajeitados que se mexem, quando era criança tomou um soco na cara, chutes no estômago, havia várias Marias em miniatura que o ignorava, era um corredor azul repleto de lebres nas paredes, havia uma coruja no uniforme, não há muitos argumentos além daqueles absorvidos em idade escolar, aí a professora de História diz para a turma: “Ao longo dos anos, o homem se especializou na arte de matar”, tinham 11 anos, matamos para aprender, e estamos sempre aprendendo, videogame na sala, jogando sozinho, aquele seu amiguinho tímido toca a campainha e pergunta se pode entrar, resmungos de aprovação, olham absortos para tela enquanto os bonequinhos se movem, soltam bolas de fogo das mãos, quais são suas pretensões, o herói voa e grita toda sua fúria contra o mal, um dia inteiro parado sem fazer nada que seja considerado útil, enquanto excelentes ideias vão se criando e descrevendo, um desperdício de si mesmo aos olhos dos outros, as celebridades as quais todos se curvam e as quais milhões choraram quando a hora chegar, enquanto um verme indigno de existir se arrasta e olha livros com pena, Maria chega e lhe pergunta quais eram suas pretensões e então João gagueja, ela insiste e então ele finalmente responde:

– Quero ser o melhor de todos.




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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Notícias de Quinta [33]

Semana intensa com 3 posts do Kabral e um da Fe e agora venho eu e estrago tudo. xD
Vamos às notícias:

Nem lembro mais onde eu vi primeiro só sei que ri muito.

Amizade tem preço: até R$ 235 mil por ano (E minha mãe dizendo que meus amigos não valem nada, veja só você.)
Vestido de modelo 'derrete' durante desfile (Desperdício de chocolate. ¬¬")
Mulher morre atropelada por trem durante ritual religioso em SP (Má que tipo de criatura imbecil faz um ritual religioso ou qualquer outra coisa num trilho de trem?!?!)
Rio manipula índice de homicídios, diz pesquisa (Os caras classificam todas as mortes não esclarecidas como 'de causa desconhecida' e acham que ninguém vai perceber, né?)
Gostar de doces deixa pessoa mais amigável, diz pesquisa (Não sei se eu fico mais amigável por gostar de doces, só sei que se eu fico sem doces eu me transformo num monstro.)
Estudo associa refrigerantes a comportamento violento em jovens (Será hiperatividade por excesso de açúcar? Quer dizer que pode gostar de doces mas não pode consumir? Estou confusa.)
É o fim da Telefônica em meados de 2012 (É o Tecnoblog nos dando falsas esperanças. Na verdade o nome Telefonica vai deixar de ser utilizado mas a empresa continuará existindo.)
Celebridade diz que teve página no Facebook removida por ser sexy (Tem gente que confunde ser sexy com ser uma vadia. Tem diferença, viu gente?)
Amy Winehouse morreu por excesso de álcool, diz laudo (This ~~> https://twitter.com/#!/MarceloTas/status/129643931955769344)
“As crianças estão precisando de tapa na bunda”, diz terapeuta infantil (Tava demorando pra começarem as notícias óbvias...)
Estudo afirma que maconha causa 'caos cognitivo' no cérebro (É só olhar alguns coleguinhas da faculdade pra constatar isso. Mais um estudo afirmando o óbvio.)
PA: especialistas associam surto de mal de Chagas ao consumo de açaí (Nunca gostei de açaí.)
Papa expressa vergonha por história violenta do cristianismo (Vergonha do passado é fácil. Pergunta pro papa se ele não tem vergonha disso aqui --> http://30.media.tumblr.com/tumblr_lsdi0kNmYA1qbmdumo1_500.jpg)
Queen lançará álbum inédito com gravações antigas de Freddie Mercury (Gravações antigas? E só vão lançar agora? Acho que contrataram foi esse cara aqui pra cantar no lugar do Freddie. --> http://vimeo.com/29608957)
Veja como Steven Tyler ficou após cair no banho (Nossa Steven, parece que apanhou do marido.)
Tomar café todo dia reduz risco de câncer de pele (Bora voltar a tomar café todo dia.)
Uma notícia boa pra finalizar: Senado aprova Lei de Acesso à Informação (Fazia tempo que o legislativo não fazia nada que preste né?)

Tinha muitos links essa semana então ficou muita coisa de fora. Obrigada a todos que contribuíram. ;D

Alguém compartilhou no GReader.
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quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Idiotices do João [3]

Ah, eu quero, João... – disse Maria no seu ouvido.

A voz dela era sensual. O coração palpitou forte. Fez um esforço enorme para não tremer. Era uma sensação semelhante de quando fez aquela prova, João se lembrava. Havia estudado um monte, indo todos os dias para aquelas aulas de Direito Constitucional, Direito Administrativo, Tributário, Eleitoral, Finanças, Corregedoria, Alegoria, Baboseira, Idiotice; tinha ido a todas as aulas, camisa de botão pra combinar com o resto da sala, os coleguinhas de turma, alguns de terno e gravata, cabelinhos cortados, todos olhando atentos, professor com ar muito sério e afetado, vomitando importâncias inexistentes, a matéria de Direito e documento, não corresponde a objeto factível de planejamento condizente com o artigo referente à cláusula, registrava-se em todas as aulas, a secretária era magrinha e até bonita, tinha lhe mostrado a tatuagem no cóccix, aliviava-se no banheiro pensando na secretária e na loirinha que sentava à sua frente, imaginava-as sem roupa, depois se lembrava de Maria, estudava com afinco para que pudesse ser um homem de respeito perante os olhos de Maria, concurso público então, decidiu e foi firme, matriculou-se num curso desses qualquer, sacrificou todos os fins de semana por seis meses, Maria saiu nas baladas e beijou aquele amigo seu, João estudava decidido, a emenda do juizado de oferendas à banalidade decretou que é inválida a portaria do menisco referente ao tédio esmagador que o faz dormir em sala, João esfregava os olhos, mais três semanas para a prova e ele havia decorado os artigos que iam cair na prova, decorou todos e sorriu, Maria foi para a cama com aquele seu coleguinha do colegial que você odeia, João sorriu e foi pra prova, coração palpitava forte igualzinho palpita agora, em que Maria sussurrou no seu ouvido, ah, eu quero, João!

As mãos suaram enquanto o sol trocava de posição com as nuvens. Na mesma manhã havia caminhado solitário pela pista de concreto, o cheiro verde da grama ronronava-lhe as narinas, árvores altivas não lhe davam muita atenção, ônibus entediados vagavam no asfalto, era só o João no cinzento da calçada, pensando com desprezo na mediocridade de sua existência, fazendo caretas enquanto ninguém olhava, andava simplesmente sem se dar ao trabalho de fingir que não se importava. As provas foram todas um fracasso, um grande fracasso conjunto separado em seções de fracassos particulares, estudou um inferno e nunca conseguiu gabaritar uma única avaliação, foi assaltado por aquelas perguntas esdrúxulas de prova, aquelas que existiam apenas para eliminar, o que diabos é um lustro?, lustro, lustro, lustro, o que significa o verbo oscular?, gostaria de oscular Maria, com certeza queria, seria um homem sério e decente se tivesse conseguido passar, estaria ganhando um certo dinheiro num emprego maçante e estúpido desses qualquer, acompanhado daqueles de sua sala, camisinhas de botão com terno, mãos no queixo e cara de conteúdo, estamos aprendendo, o professor banalidade ensinado a idiotice judiciária da ocasião, vomitando importâncias inexistentes, estamos aprendendo, estamos todos aprendendo, João coçava o saco enquanto ninguém estava olhando, Maria olharia para ele, assim que fosse um homem digno, infelizmente ele não conseguiu e desistiu de continuar tentando. Ah, eu quero, João!

João se levantou, todo repleto de desprezo por si mesmo. Sorriu como um cretino, fingindo uma confiança que nunca existiu; levantou-se e olhou para o rosto de Maria. Encarou-lhe os olhos por um momento. Eram castanho-escuros, maciços de vida e sólidos de convicção, ah, eu quero, João, diziam-lhe os olhos, João olhou para os lados e fingiu graça, fingia sempre ser engraçadinho para camuflar a própria timidez crônica, tentava achar alguma saída bem rápido, mas a cabeça lhe traía as reações, lembrava-se de fracassos anteriores, estamos todos aprendendo, estamos sempre aprendendo, João usava naquele momento uma bonita camisa de botão, levantou-se, empertigou-se, ah, eu quero, João!, João virou-se de novo para Maria e, repleto de uma firmeza quase fanática, respondeu:

Está bem, Maria, vou dar o que você quer; vou ali comprar aquele sorvete de que você tanto gosta...

Oba! – só faltou a garota dar pulinhos.

João verificou a carteira, enquanto ia comprar o tal sorvete. Apenas algumas moedas e parcas notas. Vai então gastar o dinheiro que não tem, já que os fracassos devoraram-lhe todos os recursos. Estamos todos aprendendo.



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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Idiotices do João [2]

João olhava para o teto e tentava se lembrar. Aquele cubículo em que viveu certa vez era limpo e até decente, porém muito desconfortável. A cama era de qualidade mais barata possível, o colchão mais parecia uma tábua de passar; a janela era estreita e dava de cara com um muro escurecido por anos de sujeira. A cadeira de plástico em que se sentava já havia cedido sob seu peso, então ele passou a se sentar no chão. Olhava para o teto branco e pensava no que veio antes – e achava engraçado pensar que antes pensava acerca do que veio antes. Mas antes ele vivia com os pais, numa casa confortável e com acesso a tudo que precisasse. E ainda assim se sentia extremamente desconfortável.

Antes – antes de antes, por assim dizer – a cama era sólida e forte, o colchão era robusto porém macio, uma das paredes era vermelha, o teto ainda era branco. A lâmpada de luz branca ainda estava lá. A janela era de madeira de lei, embora houvesse uma tentativa frustrada de infecção por parte de uma trupe itinerante de cupins. Havia uma faixa de calçada do mais fino cinza de concreto, que separava aquela faixa da casa da faixa de pura terra em que se tentou plantar uma miríade de vegetais quaisquer – de tomates a abóboras, de abacaxis a batatas, até figos e feijões, mas quem mesmo gostava de ficar ali eram uns feios cogumelos sardentos. João olhava para tudo aquilo, quando era menor do que era naquela época em que se achava menor do que é hoje. E pensava, eu era infeliz e sabia disso, todos os dias; e a infelicidade virou insatisfação de sabe-se lá o que, e eu ainda não sei diabos o que estou fazendo aqui.

Então Maria deu-lhe um tapa no rosto.

Vai ficar sonhando aí acordado até quando, moleque? Me ajuda aqui!

João se levantou. O céu soprava as melancolias típicas de dia nublado, enquanto ressoava nos seus ouvidos aquela sua música depressiva predileta. Levantou mais uma pilha de livros e seguiu Maria até o depósito, antes que os clientes chegassem e encontrassem uma livraria repleta de folhas no chão.


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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Idiotices do João [1]

– ...simplesmente acho que não deveria fazer isso, João. Tá me ouvindo?
João ouvia Maria, atento, embora seus olhos apontassem para outra direção. Evitava de olhar nos olhos dela, para que não se tornasse evidente demais. O desejo era enorme, mal conseguia disfarçar. Só de Maria se aproximar já lhe palpitava a respiração. Tinha muito, muito medo de ser descoberto – seria ridicularizado, com certeza! – e portanto fingia indiferença tanto quanto era possível. E não é isso que todos ao seu redor fazem? Tentam se equilibrar acima de seus narizes forçosamente empinados, exageram na afetação e vomitam desinteresse naqueles assuntos que na verdade lhe causam comoção. Por que toda essa pose imbecil? Todos os que mostram um tantinho mais de honestidade são tachados de "empolgados demais" e "infantiloides", não é isso? Pois bem, Maria estava ali diante de João, ela com aquela beleza média que lhe causa um nervoso imenso, e não seria João quem iria ceder. Cheirava-a com olhares rápidos, tremia só de imaginar o toque de sua pele. Respiração insistia em palpitar, como se o coração não suportasse palpitar sozinho e precisasse demonstrar sua ansiedade por todo o corpo. Sim, beleza "média", mas suficiente. Apreciava-lhe imensamente as curvas e os cachos. O formato do rosto era adorável. O sorriso lhe causava arrepios. Média o escambau, Maria era linda! Só que racionalmente sabia que nunca seria considerada um exemplo espetacular de beleza televisiva... será mesmo? Acho que essas celebridades são todas artificiais, são pura maquiagem e photoshop. Sim, photoshop! Não acredito nessas magrezas artificiais... acho que a verdadeira beleza é essa que posso ver de perto e tocar. Sim. Como eu adoraria tocá-la! Gostaria de abraçá-la agora mesmo, beijá-la e... certo. Certo.
– Eu sempre te ouço - respondeu ele, com um sorriso gentil.
– Você é um bom mentiroso – disse Maria, com um olhar severo. – Se quiser continuar com essa babaquice, tranquilo. Essa merda de vida é sua. Quer mesmo continuar com isso?
Talvez Maria pudesse entender. Sempre nutro esperança de que alguém em algum lugar irá compreender. Mas é complicado, não é? Gostaria de ser sincero... realmente gostaria. Gostaria de me deitar no seu colo e falar abertamente acerca de todos os meus sonhos. Gostaria de poder compartilhar as maravilhas que pululam na minha cabeça, as imaginações que dançam e reverenciam todas as realidades que parecem fluir para dentro de mim. Então a tomaria nos braços e flutuaríamos para os céus estrelados, em direção à lua pálida e fluorescente, e nos beijaríamos no ponto mais alto dessa noite prateada. Eu realmente gostaria... E vou continuar querendo. Isso é lógico. Não é assim que funciona. Simplesmente não é. Caia na real.
– Está tudo bem - sorriu ele outra vez. – Não há nada com que se preocupar.
– Não há nada? – Maria se deu o trabalho de parecer incrédula. – Sério, olha pra você, João. Sério. Sem clima pra piada, cara. Não viaja. Sai daí agora ou eu te parto a cara. Sério.
João se levantou, com o máximo de dignidade que conseguiu reunir. Respirou fundo. Tentou não tremer. Apertou o botão. Desligou o videogame.
Maria sorriu.
– Ótimo, menino! Agora vamos, antes que a loja feche!
Um macambúzio João seguiu uma agora saltitante Maria. E pensava em quantos natimortos deformados haveriam de berrar para que ela realmente prestasse a atenção.


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sábado, 22 de outubro de 2011

Sou um pedregulho cadente

Sou um pedregulho cadente em um mundo feito de vidro. O vidro é o meu cérebro. Meu cérebro tenta se devorar a cada novo impropério. Um novo impropério é criado a cada confabulação escandalosa consigo mesmo. Consigo mesmo você dança sob a luz pálida de um luar sórdido. Um luar sórdido surge sempre que você quer soar canastrão. Você soa canastrão sempre que escreve tomado por forte emoção. Forte emoção se ergue sempre que questões difíceis começam a se bagunçar sozinhas. Começam a se bagunçar sozinhas toda e qualquer falha de caráter que se torna evidente. Torna-se evidente as indelicadezas lógicas de disciplinas mórbidas emparedadas para fuzilamento. Empareda-se para fuzilamento a morte de qualquer imaginação precária. Imaginação precária vomita-se da boca de bêbados falidos que perambulam pelos cantos. Perambulam pelos cantos quaisquer sentidos periclitantes que se perderam aqui. Perderam-se aqui estratégias do bem escrever em troca da absorção meticulosa de melequentos gástricos. Melequentos gástricos não possuem o menor sentido a essa hora da noite. A essa hora da noite abrimos a latrina da coerência de palavras e soltamos um pedregulho. Sou um pedregulho cadente...

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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Notícias de Quinta [32]

-"Todo mundo viu que a profana estava sem calcinha!"
hsuahsuahsuhausa

Restart agora quer se vestir como Beatles (Lembrando que quase todos os Beatles estão mortos então se os restarts todos quiserem vestir 'paletós de madeira' eu apoio a idéia.)
Kelly Osbourne critica Christina Aguilera: 'Nunca fui tão gorda como ela' (Isso é castigo! Você que chama as pessoas de gordas? Você vai ficar gorda também porque tudo que a gente faz volta pra gente. Sério! *Nota: Começar a chamar as pessoas de magrelas pra ver se funciona ao contrário também.*)
Van Gogh não cometeu suicídio, dizem autores de biografia (Ah, que isso gente. A gente sabe que Van Gogh ficava 'loko dos chero das tinta' por isso fazia umas bizarrices e era deprimido. Ah não, deprimido ele era porque era pobre e as 'muié' não dava bola pra ele.)
Diminui consumo de arroz, feijão, frutas e hortaliças e aumenta de açúcar e sal ('¯\_(ツ)_/¯')
Apenas 30% do nosso envelhecimento é determinado pela genética (Lá se foram minhas esperanças...)
Susan Sarandon é alvo de fiéis católicos depois de dizer que o papa Bento 16 é nazista (Scar: 'Má todo mundo já soube disso.' Simba: 'É mesmo?' Scar: 'É mesmo.')
ABL é processada por irregularidades no Acordo Ortográfico (Some-se isso ao fato de que nos sentimos como tudo o que aprendemos nas aulas de Língua Portuguesa não valeu de nada porque mudaram tudo. Tá, não foi tudo mas eu disse como a gente se 'sente' e não como realmente é.)
Calouros de medicina levam trote com ovos e catchup na Espanha (Não sei qual é a polêmica. O trote da USP é muito mais pesado e ninguém fala nada... só quando morre alguém.)
Toureiro que levou chifrada na cabeça tem alta e diz que quer voltar (Tinha que levar era uma chifrada no ânus pra aprender a não mexer com quem tá quieto. Esporte? Sei.)
Mulher é presa por atacar namorado porque ele se negou a comprar cerveja (Haha! Quem nunca?)
'Fim do mundo' deve ocorrer nesta sexta-feira, diz pregador americano (Peguem a pipoca e tirem as crianças da sala porque o fim do mundo foi remarcado para amanhã. Alguém avisa esse tio que a piada já perdeu a graça?)
Humanidade é mais inteligente e menos violenta, diz estudo (Lendo as notícias de cima a gente nem imaginaria uma coisa dessas, né?)

Agradecimentos a todo mundo que lê essa birosca.


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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Pregos enrugados na janela triangular

A fresta da porta se arrebenta com o maior dos pesares soltos no vento fortíssimo. Nunca soube mudar o lápis morto no papel de posição. A tortura para o papel era existir dobrado da direita para a esquerda apenas até a metade, de forma que a tinta nunca o possuísse completamente.
Nunca ouvi olvidar tamanho que me acordasse em meio às negras nuances noturnas. Saberia que foi o estranho que me trouxe a sensação que preferia desconhecer. Saberia que foi o andarilho noturno que adentrou a fogosa taverna que não sabia como solidificar a existência ampla.
A amplitude sempre foi dos outros. Nunca foi minha. Sempre fui fechada, nunca quis receber amplitudes em minha fechadura rosa-noz.
O ar parado por conta da falta de fricção das cordas vocais me mostra que devo descansar, porém as vozes virtuais não deixam o recanto se estabelecer no imaginário do mundo do exílio.
O exílio não é uma condição na qual os outros te colocaram. O ser unívoco se inseriu no sair-mundo totalmente desvairado, sem saber que estrutura deveria ser a base de qualquer mundo retangular. O meu mundo sempre foi triangular. E o ar era raríssimo. Estoquei o quanto pude, entretanto recentemente fui invadida.
Por uma amplitude que sabia abarcar a fraqueza.
Nunca mais naveguei.
Precisava de uma carta náutica para retornar.

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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Notícias de Quinta [31]


Mc Donald’s é acusado de explorar funcionários no Brasil (E o Notícias de Quinta começa sem nenhuma novidade, né?)
Inglesa perde 56,5 kg após ler frases maldosas sobre foto sua na web (Cadê vocês me chamando de gorda, baleia, saco de areia pra ver se eu tomo vergonha na cara e emagreço?)
Capa para invisibilidade foi criada e funciona, anunciam cientistas (Engraçado é o povo nos comentários achando que é fake. Takeopariu!)
Dobra no cérebro explicaria memória ruim (Meu cérebro tá todo amassado então porque não é possível...)
Hackers invadem Blog do Planalto (Cês sabem que ontem teve protesto em várias cidades e tals, né? Tomara que tenha algum resultado positivo.)
Xingar muito no Twitter é surpreendentemente eficiente (E quem diria que reclamar no Twitter um dia teria efeitos práticos? Nem só de mimimi vivem as redes sociais.)
Mulher diz ter achado rato morto em pacote de Baconzitos (Essa quase estragou meu almoço mas, cá entre nós, ou alguém da pepsico odeia o Sul ou algum funcionário odeia a pepsico. Cês tão lembrados do Toddynho, né?)
Funcionários dos Correios voltam ao trabalho nesta quinta (Notícia boa pra você que tava aí chorando e sofrendo esperando sua encomenda.)
Após boatos de morte, David Guetta "reaparece" no Twitter (É o Twitter tentando recuperar o seu título de 'rede social pouco confiável' depois de fatos que abalaram sua má fama. Reputação é algo difícil de recuperar...)
Fotógrafo registra momento em que 3 raios atingem o solo na África do Sul (Só coloquei essa porque a foto é bonita pra caramba.)

Essa edição é dedicada a Fe Granato (já leram as Fernandices de ontem?). Agradecimento especial ao Igor.
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Dois espaços siderais compartilhados (por uma eternidade)

A loucura nunca foi padronizada. Ela é esquizofrênica, pois se encaixa em diversas definições pertencentes a diferentes realidades. A instabilidade não tem nome, não é explicada por uma teoria, ela é puramente verbal. A sua existência não é satisfatória nominalmente. É necessária a existência no espaço sideral para, no choque das inconstâncias, saber o sabor que não se conhecia no além máscara.
A sombra me socorreu quando menos esperava. O verde logo se uniu ao amarelo e soube reunir toda a volatilidade da fuga enquanto verbo, toda a ação contínua, ilimitada e desconexa. Nunca soube viver essa liberdade. O reflexo na janela provoca uma identificação pessoal que a exasperação não suporta.
A gota d'água se decidiu por descer a meio termo do baixíssimo muro que ensaiava um achado mortal. Todas as perdas eram minhas. Todos os nomes eram seus. A perda da fuga é algo irrecuperável. A escolha não tem espaço para se prostrar para a devida apreciação dos avaliadores. A escolha não ocupa espaço abstrato em teorias rediscutidas de estruturas revisitadas. A única estrutura que se revela é a do caminho solto.
Ninguém segue esse perscrutar.
Ninguém aprendeu a olhar para o roxo como se fosse pétala de rosa-ouro.
A nuance é tão imperceptível quanto dois olhos fechados em uma estátua.
Sejam bem vindos todos os reabilitados ao novo mundo global.

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quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Notícias de Quinta [30]


Freedie Mercury Morreu from patricio pantoja on Vimeo.

Morre, aos 56 anos, Steve Jobs (This ~> https://twitter.com/#!/thaismoret/status/121927569061855232)
Internet brasileira é mais lenta que a da Etiópia (E vocês aí chorando a morte do Steve.)
Ficar no PC o dia todo diminui tempo de vida, aponta estudo (Tamo tudo fudido. Ou não né? Quem aí quer viver até ficar velho e doente?)
Já deu pra sentir o nível das notícias de hoje, né?
IgNobel premia prefeito que esmagou carro com um tanque (Lembram dele?)
Sem vaga, HC manda para casa mulher com 26 quilos em SP (Posso bancar a gorda sem noção e dizer que tenho inveja dela?)
Estudo comprova que mulheres NÃO são o sexo frágil (Da série: "Estudos que comprovam o óbvio." Próxima...)
Dizer palavrões alivia a dor em pessoas que não xingam com frequência, diz estudo (Mais uma pra série. Tão investindo dinheiro nessas pesquisas? Porque pqp, viu?)
Mulheres pensam mais em comida do que em sexo, diz pesquisa (Fato! Até porque eu como com uma frequência infinitamente maior do que faço sexo.)
Não coloque a culpa na bebida! Pesquisa afirma que bêbados sabem quando erram (Então, sabe aquela história de "O álcool entra e a verdade sai."?)
Nasa abrirá vagas para novos astronautas a partir de novembro (Tem um monte de gente que eu gostaria de mandar pro espaço. Será que eu posso mandar o currículo deles pra NASA?)
Deputado do PDT que rejeitou benefícios cria inimigos na Câmara (Guardem o nome desse homem. Ele é perigosamente honesto.)
Americanos já querem decretar fim do cinema 3D (Eu decretei o fim do 3D quando essa modinha de 3D começou. Humpf)
Metroviários pedem fim de quadro 'Metrô Zorra Brasil' (Demorou! Tava comentando isso esses dias, se cairam em cima do Rafinha Bastos tinham que cair em cima da dona Globo também. Justiça é justiça.)
Atendentes de telemarketing relatam técnicas para tentar enganar clientes (Experiência própria: Atendente de telemarketing SOFRE! Ainda bem que eu saí dessa vida.)
Download de música não precisa ser pago (Finalmente uma notícia boa. Bom senso surgindo.)

Agradecimentos a @granatofernanda, @radrenato, @Ka_Bral e @licrisantos.
Esqueci de alguém? Reclama nos comentários.
Peguei no Chongas que pegou em outro lugar mas a internet é uma putaria e eu não sei porque eu insisto em colocar fonte.

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domingo, 2 de outubro de 2011

Chuva imemorial

Quero quebrar todas as barreiras de sustentação do pesar oblíquo que se avizinham na morada da minha mente.
Nunca soube estar sozinha. A relação é estritamente necessária. É construída pelo ar que me circunda e que recorta a minha moldura. É todo o sempre reconstruído por todo novo olhar que se recoloca diante do meu castanho avermelhado.
Nunca soube navegar nessa onda de percepção de futuro. O futuro não constrói o meu caminho, o passado não determina meu arejado perscrutar e o presente só existe enquanto segundo peculiar que logo é destruído por existências que se encaminharam para a eternidade da vivência memorial.
Quero saber que o suporte não é mais determinado pela tecnologia, mas pela inventividade de quem dela se apropria. A liberdade foi presa em sete camadas de peso metálico que não se esvaem com a pressão dos séculos, com o brevíssimo passar do instante em que vivo e nem mesmo com o porvir da pretensão de ser um dia algo que nunca será conformado em verbo concreto. A concretude nunca pode ser atingida por idéias que atingem o infinito, que abarcam o mar do sem-recalque.
Gostaria que a chama clamasse por mim em meio à água escaldante e percebesse que existo em meio à solidão.
Gostaria que a água umedecesse o caminho que percorro, para que o ar não chegasse desprotegido.
Gostaria que o ar soubesse que cá estou e que aguardo a sua busca por preenchimento de bexigas.
Às vezes, uma gota se arrisca e me acompanha no meu caminhar pelo mundo das gotas impuras que nunca refletem a realidade de fato, apenas as nossas noções pré-concebidas e o nosso mundo reconstruído.
Às vezes o hipocampo pede descanso e quer se ausentar desses mares revoltos.
Às vezes considero deixá-lo.
Por vezes a onda que me derruba é tão inconsequente que não tenho como prever o alcance, e não posso pedir reforço para os flocos de neve que normalmente me acodem.
A neve, o sábio me disse, é a água congelada.
O líquido é extremamente instável.
Mar.

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