domingo, 2 de outubro de 2011

Chuva imemorial

Quero quebrar todas as barreiras de sustentação do pesar oblíquo que se avizinham na morada da minha mente.
Nunca soube estar sozinha. A relação é estritamente necessária. É construída pelo ar que me circunda e que recorta a minha moldura. É todo o sempre reconstruído por todo novo olhar que se recoloca diante do meu castanho avermelhado.
Nunca soube navegar nessa onda de percepção de futuro. O futuro não constrói o meu caminho, o passado não determina meu arejado perscrutar e o presente só existe enquanto segundo peculiar que logo é destruído por existências que se encaminharam para a eternidade da vivência memorial.
Quero saber que o suporte não é mais determinado pela tecnologia, mas pela inventividade de quem dela se apropria. A liberdade foi presa em sete camadas de peso metálico que não se esvaem com a pressão dos séculos, com o brevíssimo passar do instante em que vivo e nem mesmo com o porvir da pretensão de ser um dia algo que nunca será conformado em verbo concreto. A concretude nunca pode ser atingida por idéias que atingem o infinito, que abarcam o mar do sem-recalque.
Gostaria que a chama clamasse por mim em meio à água escaldante e percebesse que existo em meio à solidão.
Gostaria que a água umedecesse o caminho que percorro, para que o ar não chegasse desprotegido.
Gostaria que o ar soubesse que cá estou e que aguardo a sua busca por preenchimento de bexigas.
Às vezes, uma gota se arrisca e me acompanha no meu caminhar pelo mundo das gotas impuras que nunca refletem a realidade de fato, apenas as nossas noções pré-concebidas e o nosso mundo reconstruído.
Às vezes o hipocampo pede descanso e quer se ausentar desses mares revoltos.
Às vezes considero deixá-lo.
Por vezes a onda que me derruba é tão inconsequente que não tenho como prever o alcance, e não posso pedir reforço para os flocos de neve que normalmente me acodem.
A neve, o sábio me disse, é a água congelada.
O líquido é extremamente instável.
Mar.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

Um comentário:

  1. Olha só... uma pegada meio Camões misturada com aquela construção parnasiana que já deu pra perceber que você gosta bastante. Ficou bem diferente, com um jeito bem único. Gostei!

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