quinta-feira, 11 de dezembro de 2014
Idiotices do João [74]
Há um buraco escuro e frio para o qual todos somos tragados. Não conseguimos nos mexer. As sombras se avolumam e nos envolvem. Nos estrangulam com tentáculos de escuridão. Não conseguimos respirar. A faca em cima da cozinha parece atraente, assim como a janela. O buraco escuro nos traga, reclama o seu direito de nos arrastar de volta para a lama de onde viemos - e para onde, um dia, retornaremos. Não há sentido nenhum no mundo. Nós, seres sem sentido, vagamos indiferentes, contentes, tristes, como se algum sentido tivesse. Só que, infelizmente, é uma mentira. Não há sentido algum, e a nossa noção ou não de sentido no fim não faz a menor diferença. O que você está sentindo? O que você está sentindo enquanto se sente sendo tragado para o buraco escuro? Não consigo me mexer. A anulação de si próprio jamais foi solução. Não se deve curvar exclusivamente à vontade de outro alguém. Jamais será suficiente. Não se deve anular, não se pode viver uma existência de sobressalto, sempre alerta, sempre aflito para não cometer nenhum erro - o menor deslize será sempre uma facada de impropérios e insultos na alma. As feridas na alma que ninguém mais enxerga. Até que ponto sangra a maior ferida da maior de todas as perdas? Não conseguimos respirar. O que é a máxima solidão? O que é perder para sempre a família? O que é perder para sempre a última esperança de se criar uma nova família? Os tentáculos da paranoia penetram fundo, fazem você olhar para todos os lados, fazem você chorar e detestar erros que não existem. Você será sempre calhorda, mentiroso e leviano enquanto ceder, se curvar e se humilhar. O que é que desejam? O que é que entendem? Será que conseguem ver o turbilhão de caos e desespero que borbulha ferozmente aí dentro? Será que entendem a reclusão do eu se deteriorando e se perdendo? Não há mais nada em lugar nenhum. Todas as tentativas de se contectar a outro alguém fracassaram. Por que não sou que nem a chuva, que une os eternamente distantes céu e terra? Os espíritos estão te reclamando. Cascatas de sangue ainda jorram da maior ferida, da maior de todas as perdas. O que seremos daqui para frente? O que é que desejamos vagando num mundo sem sentido e sem laços? Toneladas de contatos superficiais não são capazes de disfarçar a sua solidão infeliz. Os tentáculos de escuridão primordial estão te puxando para baixo, e eu não consigo reagir. Não consigo me mover. Não consigo respirar. Talvez uma ligação resolvesse tudo. Talvez. Mas não consigo respirar. Não tema. Em breve, tudo acabará. E restará apenas o silêncio. O silêncio.
**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**
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