Todas as árvores se despedaçavam em mim, pois eu sinto todos os
segredos que elas tentam esconder. Alguns se esvaem rapidamente, outros tomam
mais tempo do que eu tenho para me resguardar dos perigos dessa terra toda
nossa, toda nova e toda impetuosa.
Nada seria a terra sem alguém para observá-la. Nada teria um amante
sem um admirador pessoal. Nada seria o errado se o certo não se avizinhasse ali
próximo. Não saberia me tornar duas coisas diferentes se não soubesse que lugar
ocupo no mundo.
O mundo tem um ótimo ímpeto criativo, entretanto muitas vezes eu não
o compreendo por ser incapaz de encaixá-lo em meus metódicos esquemas
sistemáticos. Se ao menos eu soubesse em que departamento ele poderia ser
encontrado, ou quem sabe até decifrado…
O meu desejo de tudo controlar não admitia a existência da
criatividade, pois aí a imaginação sairia do controle, e então seria tarde
demais para organizar o conteúdo-base dos segredos. Mas, pensando friamente, o
que é um segredo se não existem pessoas para ouvi-lo, guardá-lo ou espalhá-lo?
Segredos entre duas pedras repletas de musgo de fato não farão muito
estrago, disso tenho alguma certeza. Talvez devesse checar. Talvez devesse
abrir toda a vulnerabilidade da minha curvatura esquerda, deixar estar a
imprevisibilidade da estrutura direita e entrever o que seria o mundo se as
árvores não tivessem confiado seus segredos a mim.
Talvez o vulcão nunca entrasse em erupção.
Talvez.
*Texto por Fernanda Marques Granato
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