quarta-feira, 30 de julho de 2014

O deserto que habita todos nós


O céu não conseguia se decidir. Quando o azul ameaçava pintar o horizonte, o branco, já dotado de certa reputação, aparecia para apaziguar a calma do azul com toda a sua presença algodoada. O inimigo não era o branco, nunca foi. Sempre foi o preto do céu pronto para descarregar todos os pesares acumulados em uma temporada em toda a cidade desavisada. Porém, essa não seria a preocupação do povoado por muito tempo. Afinal, as nuvens que se misturavam aos cumes mais altos do montanhoso local pareciam preparar as forças humanas para uma sobrecarga. Uma sobrecarga que nunca viria.
A paisagem pedregosa, apesar de árida e pouco convidativa, transmitia toda a liberdade do mundo. Todo aquele espaço aberto para ser, destruir, ocupar, construir, transformar ou mesmo imaginar e se perder em ramificações de pensamentos dos mais diversos formatos. 
Um sorriso confiante havia se estabelecido no rosto daquela que havia sido fotografada, entretanto não se compartilhava o conhecimento acerca do que a fazia reagir dessa forma tão efusiva à paisagem tão pouco acolhedora. 
Poderia ela querer convencer o observador furtivo de algo que escapava a percepção ilustrada? Quereria ela provar ter superado experiências doloridas por estar posicionada no cume à frente do precipício? Teria ela descoberto o local como possível sítio arqueológico de grande importância para pesquisadores e antropólogos? 
O sorriso, apesar de não sabermos o motivo, contaminava mesmo a sombra que habitava. Um simples movimento dos músculos faciais fazia o fraco sol que ensaiava desafiar o bravo azul parecer assumir o controle de todo o cenário aparentemente deixado sem protagonista.

Exceto pelo sorriso. 

*  Escrito por Fernanda Marques Granato.

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Um comentário:

  1. Lindo texto para iniciar o dia! Ele me fez lembrar do versículo "daí glória a todo o tempo". Adorei o desfecho!!! Parabéns.

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