Ainda me era possível recorrer ao anteriormente ouvido em tempos mais turbulentos, porém a pressão era substancialmente inferior. O sol era intermitente, e nunca me queria por perto, apesar de meus incessantes esforços. Talvez nunca fosse necessário requerer. O argumento faltante era grande demais para caber em sua pobreza de caráter, então os luminosos raios nem esboçavam um esbravejar em sua direção, pois a nada levaria.
O objetivo deve ser eternamente pré-concebido. O espaço deve se fazer ausente para o preenchimento ser completo. Não se pode saber o que se necessita sem antes necessitar estar ausente. A ausência de pensamento pode, por vezes, demonstrar paz mental ou mesmo momentos irascíveis temperados com poucas pausas e redundâncias. Fui roubada de toda a minha inocência que aparentava estar presente na superfície, e agora tudo que me resta é o forro inexistente de elucubração mental que por vezes me toma de susto em devaneios repetitivos e não me deixa apenas estar no mundo como qualquer acumulado de células e massa muscular.
Fui abandonada no meio fio por toda a coragem que reuni quando miúda para enfrentar os medos dos mares revoltos, e agora conto com possibilidades de enfrentamento, a causalidade sendo a protagonista de todo o devir da humanidade. A poucos metros de distância era possível ouvir uma voz retumbante que, feito arcabouço, tomava o ar do recinto e nada deixava para a dúvida formar, ou mesmo para outra essência tomar forma. O seu andar nos vales da onda que, ressabiada, compreendia todo o entorno conforme o som ecoava em cada solidez e concretude e voltava ao ser-referente, centro de todo saber e vontade, que nada soube além de necessitar.
Construir era algo para outra subjetividade. Realizar, formar ou se tornar eram fazeres dos que não bastavam a si próprios, dos que não eram retumbantes referências de comportamento e etiqueta a outrem. O acelerador era ouvido mesmo antes da luminosidade natural avermelhar os céus, e a fuga da percepção aprofundada nunca foi impedida. Evitar a perda é impossível, entretanto centenas de milhares já tentaram e não é pelo orvalho da manhã na folha de orégano que vão baixar a face que luta pelo fim digno, pelo fim reconhecido, pelo fim bem vivido, pelo fim não perdido, pelo fim bem recebido. Será que alguém tem esse fim?
Será que alguém de fato se apropria de todo esse conhecimento acerca do apegar-se e, quase como a naturalidade da precipitação que se aproxima, inevitável, conhece o vento do próximo e sabe que essa frieza não tem retorno. Só para os iludidos por falta de auto-descoberta. A maior descoberta que se pode fazer no ímpeto emocionante do vazio escuro e acalentado do pensar solitário é a que nada somos, nada seremos e nada fomos em total isolamento.
O eu pressupõe necessariamente o tu, e mesmo que aparentemos saber do que o vazio se trata, nunca de fato saberemos, pelo simples fato da falta não ter exatamente seu oposto na fartura, pois ambos contam com conceitos auxiliares que carecem de opositores, tais como realidade, espaço e tempo. Uma análise fora do tempo-espaço se faz necessária. Onde está a ausência necessária? Onde nunca procuraremos. No além-porvir. No fundo do seu olhar. No brando bravo resguardar de toda rua. Na bravura de toda luz que se aquiesce mas retoma o batente às 6 da manhã em ponto. Ou dez. Teve luta ontem. Até mais ver, eus passados, presentes e futuros existentes no plano atemporal.
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*Escrito por Fernanda Marques Granato.
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