O amarelo saltitou poucas vezes em numerosas
sombras rubro-negras que ambientavam o soturno olhar daquele que nunca vi por
completo. Não era possível capturar todas as partículas em liberdade, pois a
abertura impedia que a mente impusesse seus limites. A onda visitava com certa regularidade a
escuridão, como se quisesse mostrar que já havia decifrado a outra. O controle
da percepção alimentada pelo vento todo dia pela fresta da porta era inútil,
pois nada poderia ser feito para evitar que a luminosidade entrasse.
O ranger da porta, acompanhado pelo ecoar das
vozes que um dia a habitaram, sinalizava para qualquer concretude que se
aproximasse que o ar interno há eras revisitado circulava com extrema
toxicidade, e que cada folha que se aproximasse nunca atingiria o seu núcleo,
pois nunca conseguiria alcançar a percepção projetada em mil espelhos
reconstruídos por releituras em mosaico verde-claro.
O verde abandonara o amarelo que logo findava
conforme se associava ao vermelho. Um rastro fraco de som-luz poderia ser
notado pelo observador mais atento, porém apenas o leitor ideal da cena que se
desnudava à sua frente poderia ser cativado de forma inexoravelmente pura.
O incêndio fora controlado por vozes mais
metálicas que prudentemente interviram no que já constituía muito mais que uma
composição cromática desalinhada.
Constituía o absurdo de todas as vozes que se
transformavam em nenhuma.
Constituía a sabedoria de folhas que nunca se
reconheceram como iguais.
Constituía o desprazer de todos os papéis
avermelhados pelo despudor do olhar indiferenciado do estrangeiro.
Queria poder afirmar que o ar está seguro, e
que nada remexerá em suas entranhas.
Queria poder conter a absorção com o olhar
veementemente colocado.
Queria poder saber qual é a cor do som e qual é
o som do pesar.
A gota se fez presente e tudo se foi.
Afoguei-me.
Imensidão acalorada.
Finitude.
*Escrito por Fernanda Marques Granato.
*Esse texto está protegido pela lei de direitos autorais.
**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**
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