terça-feira, 21 de agosto de 2012

Idiotices do João [28]

Tentaríamos voltar ao mundo subterrâneo, onde todas as inocências foram perdidas.
Belezas conspiraram contra sua própria magnitude. Escolha imprópria. Banhou-se de sangue ao sentir o cheiro de petiscos. Poderíamos nos viciar em lamúrias, mas preferimos nos jogar cantando do penhasco. Uma gaiola de resplendores nos esperava. Quantas cores! Todas essas turbulências de águas profundas se encontram no emaranhado de solidões colecionáveis. Que tal uma nova?
Sombriamente. Estava linda. Um coque crespo, estava linda.
Pausa.
Outra pausa para o ponto verde na escuridão.
Há desvalores em conversa, há amputações etiquetadas em laboratório. Ensaios. Há um vale seco desprovido de sentidos. Aparências, escravos de aparências. Incapazes de enxergar o âmago. Poses. Fingimentos. Peles que nunca se tocam. olhares fugazes e desprezos fingidos.
Não há fogo que se entrelaça, não há magma que se forma.
Nomes, vamos aos nomes. Condolências e formalidades. Perder-nos-íamos na reunião de senhores bacanas? Trajos finos, sorrisos condescendentes. Ampliar contatos, dizem. Conhecidos para adicionar. Distâncias, falsos coleguismos. Apenas saiba que existimos, simpatize conosco. Arranje o que precisamos. Tenha sua serventia em nosso mundo.
Nosso mundo. Eu, eu, eu. Ego. Girando ao meu redor. Meus egos.
Somos oito. Somos.
Somos o que sonha, sonha, sonha, o que é iluminado pelo caminho da realização, mas que se deixa consumir pelas trevas da ansiedade; somos o que conhece, o que sabe e se vangloria, mas se intumesce de frustração e desesperanças; somos o que escarnece em cinismos e poses de elegâncias fingidas, mas que oculta as carências de toques ilegítimos; somos o que não se importa e se deixa levar, o que escarnece dos que se estrangulam, mas que se permite desfazer em inexistências desperdiçadas; somos o que deseja organizar e catalogar, o que se dedica para criar a obra máxima, mas que se obceca e que ignora tudo o que não condiz com seu projeto; somos o que urra para a irracionalidade e para a destruição de forças, mas que se perde em ferocidade desmedida; somos o que se reserva e se finge ausente, mas que esconde excessos sempre em ebulição.
Somos o que se rebaixa em servidões de máscaras e personalidades deterioradas, mas que desperta em terrível fúria de ansiedades acumuladas e frustrações desperdiçadas.
Não nutriremos rancores, embora sempre nos lembremos do que jamais será realizado. Esperamos, no sentido de pureza estúpida, esperamos que se torne realidade.
Será.
Não quando, a questão de sempre. Quando que pode. Não destronemos o tempo de sua amplitude despojada. Estava linda. Subitamente desertamos em meio à multidão, ignoramos todo o gado ao nosso redor, lapidamos nossas próprias vendas a estes olhos lacrimejantes.
Ontem nos remexemos, ontem gracejamos perante novas plateias.
As disputas, as arrogâncias e as indelicadezas. Tédios de repetições. Nunca significa, mesmo com toques mais de perto, mesmo com lábios em ósculo, nunca significa se não for o que você procura.
Vazios.
Abrem-se portas. Há tranquilidades, ou talvez vazios conformados. Pelo menos por ocasião. Tem de esperar, disseram. Virá até, virá, terá de esperar. Pois, se se arrastar como um cachorro ridículo, perderá tudo o que construiu. Terá de esperar vir até nós. Ou não virá e nada mais será.
João abriu os olhos para os egoísmos ao redor de terceiros. Esqueceu-se das outras questões a se tratar, uma vez que não se pode enquadrar todo o espectro visível. Olhou-se no espelho para sussurrar no próprio ouvido:
- Eu queria ir até lá falar, mas nem fodendo que irei me rebaixar.


**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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