quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Idiotices do João [27]

Estamos seguindo a rotina, vamos diminuir? João, por favor, coopere conosco, estamos dizendo, estamos pedindo, odeia implorar, não é mesmo? Umas larguras de doces mofados, talvez de nos entregássemos à misericórdia, embora não seja do nosso agrado. Não olhe para os seios, não seja baixo, não seja clichê. Está segurando o desejo óbvio, não pode aceitar, sente-se sujo em admitir abertamente? João, ingênuo, estamos aqui confabulando, estamos nos perdendo, vamos nos unir? Olha aqui naquela rodinha, ao lado a lado na rodinha, não vamos mais falar? Rotina que estamos perdendo, remodelando a mesmice e a pobreza de padrão. Está sem tempo. Olhando para os seios? Um sorriso, sente a pele chamando, estamos nos monitorando, olhe só, mais um tolo vomitando indignação clichê, não é bonito? Não pode dizer, temos de fingir que não sentimos, temos? Uma gargalhada espalhafatosa, alta demais, excesso de gestos, entendem como deboche ou desejo mórbido de atenção? João, coopere conosco, somos seus pares, está se arrastando por uma cura que não existe, sabemos que sente o mesmo que sentimos, uma fúria desmedida, algum plano para esta meta? Brilhar em profusão, deve publicar, estabeleceu algum? Sorridente para o espelho, entreguismos demasiado, vá lá falar e sacie sua vontade, até quando vamos tremer por falta de novas doses? Fala-se um monte, quantas ações, olhe nos olhos, fez isso, ele fez, você, nós, fizemos, sedução para alimentar ego ou para alimentar famintos? Temos fome, não conseguimos descansar, pare de olhar para os seios, por que tocamos tanto? Acaricia o rosto, olha nos olhos, sorri, vocês sabem que encantam sem perceber? João até se lembrou, tardiamente são atraídas, tardiamente, quando não se há mais nada, olha as infantilidades, vai assumir quando? Estúpidos e estúpidas, em todos os cantos declaram-se senhores supremos de assuntos que não fazem ideia, menosprezos, quantos vermes consideram-se reis de lugar nenhum? João, estamos nos perdendo, desperdiçando potencial, desperdiça-nos, dê-nos as mãos e vamos agir juntos. Subitamente aflora, socos na parede, mas é tarde da noite, então porradas na cama, o colchão não tem de sofrer a nossa fúria, estamos nos perdendo, quantas solidões terão de nos acompanhar até que consigamos nos compreender? Aproxima-se com sorrisos e gracejos, mas depois aborta a operação com sisudez e olhares atravessados, afasta os de fora, causa medo, mantém intacta a casca, fingindo ser uma esfinge, finge mistério e intrigas, mas não permite que se aproximem de verdade e vejam o que realmente somos. João, estamos definhando. Iludimo-nos com parcos momentos de tranquilidade, só que a ansiedade nos consume, o veneno do imediatismo deteriora nossas artérias. Estamos desaparecendo, um a um. Temos realmente algo para dizer ao mundo? Conseguiremos mesmo compreender o mundo sem sentido? Esfola-se em desculpas, todos nós. oh, ninguém nos entende, oh, ninguém faz parte de nosso mundo, desculpas, baboseiras, não consegue suportar e sequer desenvolver algo que valha, isto aqui não tem real grandeza, não é nada, João olha para o teto, uma cobra seria mais humana, o fim moderno se aproxima, apesar de vivermos contemporaneidades, esqueceu o que mais iria declarar, fale e se lembre das sensações, sim senhor, balançamos a cabeça sem concordar, estamos saindo, avisamos, não demonstrou maiores reações, todos se desprendem e se entregam aos seus próprios vazios, cansam-se uns dos outros, amanhã terá ato, vai nos acompanhar, não, não vamos, não acreditamos mais nesse caminho, preferimos nos desperdiçar para o nada, achei o João agressivo e desesperançoso daquela última vez, você sabe o que está fazendo?, prepare a sinopse, prepare a sinopse, é possível acreditar no seu próprio trabalho?, no mundo que criou com as próprias mãos?, está se atolando em ansiedades, considerando-se lixo, esquece-se de suas conquistas, mesmo as mais recentes, consegue aturar-nos, caro João?, será que consegue suportar o fardo de respirar sobre a terra?, probleminhas de primeiro mundo, sensações incompletas, egoísmos, sempre o ego, ego, ego, só falamos de nós próprios, só nos comunicamos com o mundo quando falamos de nós mesmo, sempre eu, eu, eu, eu sou, algum dia conseguirá mesmo tocar o coração de outro alguém?, não, isso já fizemos, mas não com as pessoas que gostaríamos, mudaremos a pergunta, algum dia permitiremos que outro alguém toque nosso coração e permita ter o coração tocado por nós?, lamuria-se em vão, por nada, anos se passam e as mesmas questões, choros tolos, nunca mais choramos, não é isso?, criticar-se antes de ser criticado, não há valor nenhum aqui, nem nenhuma pretensão, então estamos a salvo, belezas serão reservadas para outros fins, assim como ascendemos, devemos cair?, afogados em nossas falhas, um jogo perdido, adoramos lutar por causas impossíveis, não é isso?, naquelas rodinhas demoníacas, no meio do palco João gesticula como um diabo e gargalha o inferno, chicoteando-se sem perceber, auto-boicote, destruindo-se e afastando a todos, saboreando solidões diárias, músicas pesadas para aplacar a fome, mãos tremem, não olhe para os seios!, sorrisos de peles respirantes, vai seduzir e conseguir a dose que tanto deseja?, abre um menu de opções, pretensioso e tolo, patriarcalista, pecaminoso, repleto de tantas culpas que se limita, paralisa, cessamos a carne, chicotes na alma, cessamos o álcool, mais chicotes, penitências, temos de pagar o preço, não conseguimos usufruir ou relaxar porque temos fome, sempre temos muita fome, estamos famintos, por isso tocamos, um pequeno alento, tocamos o peito de desconhecidos, buscando corações, desejamos o coração de outro alguém, temos fome e não conseguimos nos acalmar, espalhafatoso e ridículo, tem de esperar, tem de manter a imagem, domar a fúria, gostaríamos de saltar para o ar e tacar fogo em tudo, estamos nos descuidando da beleza, relatando de qualquer jeito, desordenado, temos fome, não olhe para os seios!, sorrisos de peles respirantes, temos fome, una-se a nós, meu querido João, precisamos dar as mãos e agir em conjunto, chega de conflitos, chega de chicotes, temos fome, meu caro João, temos fome!!!

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Um comentário:

  1. Ainda assim, o fracasso não existe. Parabéns, João, a todos o Joões. Por enfrentar a vida de peito aberto, armaduras ou não.

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