domingo, 12 de agosto de 2012

Idiotices do João [26]

Havia alguns silêncios dilacerados em seu decote, mas o devorador de mentes apenas cochilou na cadeira dos preâmbulos.

João se lembrou da vista para o mar. Havia duzentas junções de carnívoros se alimentando de sofredores, ao mesmo tempo em que os vermes prosseguiam cultuando celebridades da moda. Falta beleza no que se diz, principalmente aqui, nesses sôfregos desejos incompletos. Não irão até o final, João recomenda, ao mesmo tempo em que enfia uma faca na própria garganta.

Um sangue repleto de sombras jorrava da carótida perfurada. João achou agradável o ato de morrer lentamente.

Há fome em seus olhos, da mesma forma que há ternura em seus insultos; falta anestesiar-se por completo, porém, falta carecer de sentido. Não tememos a incerteza, tememos a estagnação. Uma miríade de sensações poderiam fervilhar sozinhas, desde que houvesse o catalisador adequado. Podemos desfrutar sozinhos do caos dançante? Por que tem de tentar se aproximar quando não desejamos sua companhia? Forçam-se laços inexistentes, tenta-se agradar o que deseja apenas afastamento desses que não são semelhantes na alma. Qual vai preferir, a do coração, a do pau ou a da cabeça? Suportamos tolices vindas de outrem, da mesma forma que perdoamos àqueles que nos tenham agradado. Sofrerá vergonhas em escala nacional quando divulgar experimentalismos, embora prefira sangrar até que lhe restem poucas impurezas.

Por favor, perdoe-me a necessidade de sangrar.

Solidões e silêncios, João mastigava. Poderíamos perambular sozinhos no mundo das realidades carcomidas? Pode perdoar nosso enclausuramento? Não há vida sem identidade, não há derrota sem tentativa. Poderíamos respingar alguma treva no sangue da tua própria amargura, embora seja clichê demais declarar uma cousa dessas. Sargentos apontam os dedos, a polícia das boas maneiras e do bom dizer está sempre de olho, vamos fingir todos que somos todos seguros de si, vamos divulgar fotos sorridentes de felicidades inexistentes. Celebrem o grande teatro do mundo.

Falta desenvolvimento.

João gostaria de rasgar o próprio peito para respirar, mas a anestesia o impediria de sentir dor, então não faria sentido. Estamos nos privando, sempre nos privando, para que a penitência seja devidamente paga. Não esperanças fora do casulo, não há novidades lá fora. É apenas um rezingão e nada demais? Limitar-se-á dessa forma? Não há arte alguma aqui, apenas um desperdício de palavras.

Subitamente nos vemos no espelho. Seria um símbolo da vida? Olhe só, formador de opiniões, fala-lhe, queira ou não, você forma opiniões. João dificilmente acreditaria numa cousa dessas. Não há nada aqui que valha.

Não há nada em lugar nenhum.

Estamos nos repetindo, sempre nos repetindo.

Os desejos são incompletos, assim como os pensamentos. Falta desenvolvimento. É muita pretensão desperdiçar palavras desse jeito. De qualquer forma, não lhe dá vontade de arrancar a própria pele quando os disparates são vomitados aos montes. Você fará a diferença, diz João, fará a diferença e deixará sua marca neste mundo sem sentido. É o que repete para si próprio.

Não estamos sozinhos, não temos medo, não estamos infelizes.

Não negamos.

Somos o Símbolo da Vida.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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