Os pés protegidos por uma leve camada de couro passeiam pelo asfalto visitado toda semana, sem que se lembrem da referência que os impedia de desviar do caminho quando a necessidade era irremediável. Todas as cores que habitavam por poucos instantes os penetrantes olhares que a ele eram dirigidos eram remotamente familiares, porém algum elemento havia se deslocado e impossibilitado o seu rastreamento, mesmo pelo visitante assíduo da tremendamente curva alameda.
As placas que sinalizavam locais onde era possível estacionar lá permaneciam, entretanto a falta de contraste com o fundo da tela fazia com que sua presença fosse carregada de pouca autoridade. O gosto do pão francês se lançava ao vento, em uma tentativa de se revelar independente, mas as vozes que o compuseram não eram mais vítimas dos olhares dos compradores e transeuntes.
A mão levemente suada do observador se adiantava para capturar a essência da atemporalidade no repleto esquema proposto por portas entreabertas, pálpebras semicerradas e janelas recém descobertas. O vento adentrava sem aviso a garganta seca do andarilho, como se tentasse admitir a familiaridade perdida que a visita dos rastros abandonados provocava. Era definitivamente uma invasão, no entanto ela era premeditada. Não houve interesse em se colocar obstáculo para a descoberta da anti-superação.
A invasão do desconhecido era inevitável, e cada vez mais frequente. Os olhos do observador eram os mesmos, porém agora se encontravam retesados, em permanente estado de anestesia, insensíveis a possíveis mudanças na pressão ou na temperatura.
O sujeito completamente indiferenciado sobrevive em meio à alameda que um dia se apropriou de sua vida, e que agora era vítima da apropriação indevida dos terrenos anteriormente pertencentes a olhos impressionáveis. A calça mais curta do que a etiqueta ditava se molhava nas gotas que se reuniam em poças realocadas periodicamente.
A água era imutável. Um sorriso breve recai sobre o semblante anteriormente controlado e parcamente afetado pelo forte vento que cedo retornava. Tufão.
*Escrito por Fernanda Marques Granato.
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