Você deve mudar esses maus hábitos, querida, ou deixarei de amá-la, deve mudar, deve entardecer, deve compreender; aqui não depositamos posses, sequer nos cansamos, embora às vezes tomemos um ar, para que nossas respirações se misturem com nossas dúvidas a respeito dos sentidos. Quando ele escalou o prédio para salvar a mulher que amava, não achamos belíssimo? E quando ele encontrou a menininha que gostava e para ela se declarou? Era doce e suave, era sensível e amorosa, macia e suculenta. Ou as carnalidades não se misturam com amores? João olhava para si próprio enquanto se pendurava no abismo, não foi divertido desabar no escuro? Escondeu-se, aquela gracinha pulou em cima de você, tão desejosa de seu corpinho, olhou-o de cima baixo quando chegou, achou-o até de ombros largos? Sorriu, que encantador, sorria com os olhos, era uma graça, uma fofa; mas a bebida desceu rápido, tamanho o desejo pela loucura, tinha de se desligar, quantos ali poderia eletrocutar? Poderia queimar todos, deseja tanto reduzir tudo a cinzas? Poderia berrar do alto dos céus e dilacerar a própria existência com um grito profano, fornicaria o tecido da realidade com chamas inebriantes de prazer sinistro, destruiria o mundo e o recriaria, para que todos tivessem direito a segundas e terceiras chances, todos poderiam renascer e recomeçar suas vidas repletas de fracassos e traumas, quantos não se cobram dessas tolices? Olham para a TV e para a internet, deixam-se enganar pela exigência das ilusões, picotam a si próprios por não possuírem o corpo perfeito daquela modelo, o rosto belíssimo daquela celebridade, o carisma inacreditável daquele artista, o dinheiro milionário daquela socialite. Cobram-se pelos absurdos inexistentes, despencam em abismos de sofrimentos pela frustração do que nunca tiveram nem nunca foram. Quantas gerações de idiotas criamos até chegarmos a este ponto deplorável?, pergunta-se João. Olha para a janela do seu próprio intestino, que tal as estantes flutuantes de livros rastejantes? Talvez se tornassem aranhas devoradoras de sonhos, talvez extirpassem suas dúvidas limitantes, quantas declarações para mesma pessoa você realizou, meu caro João? Caçou uma ilusão que jamais se tornaria realidade, uma fantasia, em vez de permanecer fiel às fantasias já causticantes o suficiente que criara para si próprio. Porque iremos abrir asas de fogo e voar alto, em direção ao Sol, para brilhar mais poderoso que o Rei das Estrelas!
Agora, abra os olhos. Há teias em suas esperanças. Está perdendo o jeito? Está adquirindo uma nova força. Todas essas ânsias se entrelaçam com suas frustrações, e alimentam sua força e seus receios, seus desejos e anseios, suas vontades e calamidades.
Alimentam sua escuridão e sua esperança.
Porque João pode rastejar feito um verme, mas explodirá em chamas de glória quando o momento chegar. Nunca mais nos rebaixaremos a caprichos de outro alguém! Poderemos um dia ser a chuva, para unir os eternamente distantes céu e terra, mas prefiro ser o fogo, que tudo queima e destrói. Nossos sentidos se aguçam para que a lama pútrida do fracasso não endureça demais, uma vez que basta quebrar o ovo de onde nascemos partindo a própria casca. Alimente-se de sonhos, viva na sua fantasia particular e rasgue o peito para que o amor jorre em cascatas! O amor que você esconde e oculta de todos, na presunção de não os considerar dignos, afundando-se na sua própria arrogância... mas você deve compartilhar, João. Sim, deve compartilhar o que você é de verdade. A partir de agora.
Mudanças nos alimentam, liberdade nos faz crescer.
Será sempre livre para voar flamejante através dos céus, se for capaz de abrir o peito de sonhos e fracassos. Porque os fracassos fazem parte de nossa verdadeira existência, e nos ensinaram a ser mais fortes. Quantas perdas do mundo nos edificaram para que nos tornássemos um homem digno? Muito centrado, excessivamente olhando para si, então quantos poderão nos responder? Poderia João amar outra mulher além de Maria? Quando Maria chegará? A nega velha disse para aguardar, pois a missão de João agora é outra. Maria não chegará agora. Alimente-se de carnes doces e compartilhe seu amor, mas não haverá Maria. Concentre-se na sua missão.
É difícil abrir o peito, não é isso? Deixe que queime.
Quaisquer insucessos serão tolerados. Pode perdoar a si próprio? Não rasteje no esgoto, não é hora para isso. Não será o mesmo, se assim o desejar. Maravilhe-se! Estamos nos repetindo. De qualquer maneira, algo está sendo feito. Pule de prédio em prédio, jamais se deixe desolar pelas exigências do mundo. Inundam-se de tolices. não serão perfeitos! Jamais serão. Aceitem o que são. Entreguem-se e se firam, e aprendam com o sangue derramados de seus corações dilacerados; só assim crescerão, somente dessa forma tornar-se-ão seres humanos plenos! Amem-se, e permitam-se amar outro alguém!
Alimentem suas escuridões, alimentem suas esperanças!
Foda, desta que dá origem a vida!Quanta vida neste texto, foda!
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