sexta-feira, 22 de junho de 2012

O vazio dos ruídos

Já me cansei de ouvir a mesma voz irrequieta em minha mente que cedo desperta e tarde anoitece. Exauri todas as possibilidades de reconstruir qualquer tipo de associação entre o lugar em que as coisas estão e o espaço perdido que ocupo entre eles. Há um lugar desassociado de qualquer apropriação descabida que seguro fica das imbricações diárias do porvir.
Não se sabe a quem se ouve, entretanto a presença de uma voz é inegável. Sua amplitude provoca a retração de todo e qualquer pensamento que seu regulamento não abarca, e qualquer verbalização ainda que não concretizada é ignorada da maneira mais simplificada possível.
Todos os rastros que poderiam apontar para possíveis mudanças são realocados e o caminho original persiste, desconsiderando todas as tentativas do sujeito consciente de se abandonar no campo aberto. A voz que ressoa em minha caixa torácica sempre foi externa, e nunca pude solicitar reavaliação.
A alternância da minha voz nunca ocupou espaço de relevância, de modo que a voz invasora sobrepunha camadas e camadas de som no corpo invadido. A vítima se levanta, meio a contragosto, sem saber se deve persistir na tentativa de entreter o frio vento que a circundou minutos após o sujeito encapuzado adentrar o recinto.
Seus olhos brilham na escuridão reinante, porém a sombra do indivíduo apenas se certifica que nada existente foi eximido de registro. A porta se abre e a voz que se debatia no interior é recomposta ao seu lado. Nada existia além de imagens projetadas. Apenas a realidade compartilhada por imagens acústicas.
A boneca foi retirada do local pelo policial escasso, que veio acompanhado de um fotógrafo para documentar a cena. Vários testes seriam necessários. 
Gotas se reúnem na janela. 
Reunião de unicidades. 
Construção de consenso e regulamento. 
Sociedade.


*Escrito por Fernanda Marques Granato.
*Esse texto está protegido pela lei de direitos autorais. 


**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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