Já me cansei de ouvir a mesma voz irrequieta em minha mente
que cedo desperta e tarde anoitece. Exauri todas as possibilidades de
reconstruir qualquer tipo de associação entre o lugar em que as coisas estão e
o espaço perdido que ocupo entre eles. Há um lugar desassociado de qualquer apropriação
descabida que seguro fica das imbricações diárias do porvir.
Não se sabe a quem se ouve, entretanto a presença de uma voz
é inegável. Sua amplitude provoca a retração de todo e qualquer pensamento que
seu regulamento não abarca, e qualquer verbalização ainda que não concretizada
é ignorada da maneira mais simplificada possível.
Todos os rastros que poderiam apontar para possíveis
mudanças são realocados e o caminho original persiste, desconsiderando todas as
tentativas do sujeito consciente de se abandonar no campo aberto. A voz que
ressoa em minha caixa torácica sempre foi externa, e nunca pude solicitar reavaliação.
A alternância da minha voz nunca ocupou espaço de
relevância, de modo que a voz invasora sobrepunha camadas e camadas de som no
corpo invadido. A vítima se levanta, meio a contragosto, sem saber se deve
persistir na tentativa de entreter o frio vento que a circundou minutos após o
sujeito encapuzado adentrar o recinto.
Seus olhos brilham na escuridão reinante, porém a sombra do
indivíduo apenas se certifica que nada existente foi eximido de registro. A
porta se abre e a voz que se debatia no interior é recomposta ao seu lado. Nada
existia além de imagens projetadas. Apenas a realidade compartilhada por
imagens acústicas.
A boneca foi retirada do local pelo policial escasso, que veio
acompanhado de um fotógrafo para documentar a cena. Vários testes seriam
necessários.
Gotas se reúnem na janela.
Reunião de unicidades.
Construção de
consenso e regulamento.
Sociedade.
*Escrito por Fernanda Marques Granato.
*Esse texto está protegido pela lei de direitos autorais.
**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**
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