domingo, 17 de junho de 2012

Idiotices do João [12]

João não sabe o que dizer. Na verdade, não precisa. Uma qualquer lhe sussurrou o que deveria ser feito. Não pode, jamais. Quem as pessoas pensam que são para ditar qual melhor rumo de ação para esses que nem conhecem? João olha para a parede, esperando que nada aconteça. E nada aconteceu mesmo. Admiramos o seu empenho, disseram. Trancado no quarto, dedicando-se ao seu objetivo solitário, eu não sou capaz disso, não mesmo, mas você o faz, João. Disseram-lhe. Uma qualquer, assim como outros quaisquer, não fazem ideia. E João nem se dá ao trabalho de esclarecer. Se falar, então mostra que está incomodado? Qual o ponto de tentar explicar? Ou não entenderão ou não darão importância. Cada um com seus assuntos. Mas acertou quando disse que é do tipo que vomita as palavras. Sim. este estilo jamais mudará. Uma outra qualquer se atrapalhou, acho que era viado. Há de se rir. João se aproximou para falar-lhe no ouvido, acariciando-lhe o rosto com delicadeza, encostando seu corpo ao dela. Fez isso várias vezes. Deliciou-se com o enrubescimento causado. Mas só. Nenhum desejo, nenhuma vontade. Nem há mais o que tentar entender: não há nada. Mesmo bêbado, nenhuma interessou. Parecem insignificantes. E insignificante lhe parece falar sobre isso. Cada um com seus entendimentos. Tentarão preencher com explicações e deduções. Melhor a solidão à companhia insatisfatória, não é isso? Vosso Reino já se foi, mas outro Reino ainda mais resplandecente está para tomar o seu lugar. Maria? Não há Maria, isso é uma bobagem. Desdenha o que queria comprar? Não há o que desdenhar, porque nunca houve nada, nada além de uma possibilidade. Que não se concretizou. Quando a mãe ligou, preocupou-se com o futuro. E há quanto tempo estamos preocupados? E todas as trajetórias anteriores? Já aprendemos que não adianta tentar fazer o que todo mundo faz. Já aprendemos da pior maneira, já sabemos. Alguém liga para o colapso mental e que nos afundamos no passado recente? Uma semana inútil numa cama imunda. Uma semana sem conseguir sem conseguir comer, sem conseguir se mexer. Apenas ia beber água. Não é incrível que tenha permanecido vivo? Vamos? Vamos. Vamos sozinhos, do nosso jeito. Quantas correções serão feitas aqui? São todos loucos que não se entendem. Talvez algum dia... algum dia que está para chegar. Não tente prever, não procure compreender agora. Sabe-se que no Grande Teatro do Mundo, a improvisação é que é a moeda corrente. Planejamentos prévios de nada adiantaram. Vomitar um pouco mais, talvez, mas apenas palavras. A intoxicação do álcool já não surte mais efeito. Cambalear um pouco, ousar nas ações, mas a percepção é a mesma. Tudo ao redor parece ridículo e pequeno. Insuficiente. Para um dia em que se estende na imparcialidade dos estreitamentos inglórios. Podemos berrar? Na verdade, temos certeza. Está por vir. Temos então de respirar na escuridão, em solidão e em silêncio, respirar. E aguardar.


**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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