domingo, 18 de dezembro de 2011

Rebelião do papel reciclado desmontado

Nunca soube arredondar a pérola que me visitava no mesmo horário há séculos parados em um mesmo grão vazio de areia. A ventania já sabia que não me pertencia, e eu já separara o vento da minha liquidez, de forma que eles nunca pensassem em se misturar. O líquido era puríssimo, todo fino, sabedor da individualidade de cada ligação remodelada por muitas pétalas desocupadas. Sempre fui um narciso sem espaço. Tudo sempre foi muito ocupado. As flores azuis eram sempre minhas. E nunca tinham lugar.
Lugar para respirar através dessas construções abstratas limitantes. O limite nunca foi claramente definido, porém o transgressor era normalmente punido. Duas gotas de bom-saber bastavam. A flor galgara o seu lugar de merecida presença senil, e o ar permanecia intacto. Até a primeira invasão dos pruridos. Nunca me recuperei dessa recente abertura. O ar retornou à porta, interrompendo a procissão de saberes nunca dantes revelados. E eu saí, antes que o atrito retornasse. O fogo era todo meu.
Percebi, após algumas respirações descontroladas, que a gaiola nunca fora trancada. Apenas não sabíamos o caminho para a redenção e perdidos ficávamos à luz do fogo, parcamente abastados.
A areia era tudo que compunha o mundo palpável, desconhecendo qualquer menor abstração de mera relevância. Nunca vivi a relevância. Nunca soube retornar a linha no ponto da agulha. Nunca soube existir, apenas existir. Sem esperar. Odeio esperar.
Odeio esperar que a chuva caia para que eu possa me banhar. Odeio esperar que o fogo cresça para que eu possa nascer aninhada. Odeio esperar que o tijolo se desfaça para que a sensatez possa ter alguma esperança de ser construída. Odeio esperar que me reconheçam sem a máscara. A máscara é um pré-requisito para aqui estar.
Devemos estabelecer novos meios de retenção do calor, para que não morramos na próxima seca. Não podemos esperar o rio abarcar a vida. A vida deve abarcar a pérola visitante. Antes que a vacância do grão a consuma. Cuidado, vivemos em constante espera.
O inesperado nos aguarda à porta.
Quem conhece o caminho?

*Esse texto está protegido pela lei de direitos autorais.
*Escrito por Fernanda Marques Granato.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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