A rua está vazia. Ninguém foge. Só a luz, sempre compartilhada, foge para existir em outra esfera. O vazio, todo meu, todo restrito, agora é todo novo, todo desconhecido. Despreparado. Inapropriado. Impotente.
Nunca soube lidar com ele. Quando ele aparece, me toma e esqueço o que me levou a fazer o inominável, o feito pelo não realizado na sua mais completa forma.
A forma oblíqua pela qual a rua foi imaginada nunca o fascinou como eu imaginara, de início. Não o levou a enunciar o que eu julgava desconhecer, a princípio, mas na realidade sempre estivera lá. A decepção com a folha que se vai antes que eu capture a sua essência. Antes que eu segure a última gota de orvalho para que a permanência de fato se torne viável. Antes que eu saiba a verdade, ou antes que ela me consuma, impedindo-me de transmiti-la.
A folha hesitou diante de alguns saberes inomináveis que se dispuseram ao redor da modéstia descabida, não sabendo para quem pedir perdão e fugindo displicentemente.
Eu nunca soube tatear o vazio. A conseqüência da escolha, entretanto, nunca me incomodou. A folha entrou na casa iluminada de número 159, e eu o avisei do modo mais rápido e íntimo que conhecia. Ele sempre conheceu o valor da conseqüência, mas nunca compartilhou. Não comigo, pelo menos. À mim ele só destinava um olhar frio e seco, sem emoção. Esse olhar congelava meu coração e o impedia de bater ritmado. De bater de qualquer forma. Meu coração sumia e o dele entrava, sem querer saber sequer se teria espaço para a sua complexidade.
O casal se dirigiu silencioso à rua congelada no passado. Ninguém a salvara. Ninguém a trouxera para o presente. Ninguém soubera amá-la. Ninguém a amava como eu. E agora a rua fora destruída. Silenciosa, escura e abandonada, nada sobrara do seu ápice anterior. Só a folha voadora que nunca retornava.
Azul- petróleo lida mal com amarelo-fogo e joga verde para tentar escapar do não descoberto. Os olhos de Lindsey se recolheram diante do olhar decisivo de Mark, que indicou a casa com seus olhos esmeralda recente. A única casa remotamente habitada tinha iluminação natalina completa e humanização ausente. Corpo algum se movimentava naquelas paragens recolhidas pelo pesar do tempo, do descaso e da insatisfação acumulada. Lindsey nunca soube trocar a lâmpada, e se surpreendeu daquelas coloridas apresentarem-se intactas frente ao desafio consoante dos séculos sem fim.
Amarelo, verde, vermelho, azul-róseo, rosa-chiclete, laranja. Todas as cores ressoavam a ausência e o silêncio ali presentes na oposição do antes e do depois, do agora e do já vivido, do tão somente pressentido na aceleração da respiração. Quando Mark encontrou tateando no escuro a mão de Lindsey e decidiu conduzi-la à sala de estar, os dois foram buscar o coração à porta, pulando de medo antecipado. A sala continha objetos triviais de uso comum de cidadãos medianos que consideravam a felicidade datada um prazer à altura de motivo para a fuga dirigida ao além-vida.
Verde-escuro. Luzes amarelo-piscantes em ritmo alternado. Presentes ao redor. Bolas coloridas ao sabor do vento.
Nem a família infeliz ficou feliz no natal de outrora, passado no calor.
Ninguém escapa do vento. Ninguém se esvai da minha emancipação.
Feliz Natal e Feliz 2011, mais um ano para constar nos registros.
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