Respirar é preciso - principalmente quando você está se afogando na poça de vômito da sua alma.
João tentou ficar imóvel para respirar. Tentou parar. Tentou permanecer no mesmo lugar enquanto tremia e se remexia. Espasmos davam saltos. Até quando as ovelhas carnívoras continuariam mordiscando o seu cérebro? João tremia, enquanto buscava andar ereto com toda a dignidade. Estava se afogando no fedor nauseabundo dos seus próprios sentimentos. Rasgar a garganta talvez aliviasse um pouco. Houve algumas tentativas de compreensão, mas o meteoro ia se chocar e estraçalhar do mesmo jeito. De qual matéria você faz parte? Deveria perguntar, mesmo que fosse capaz de pressentir a resposta. O cheiro azul da clareza lhe escapava sempre que se permitia inundar por mais um pouco de pus mitocondrial. Acho que você já pode tirar esses alfinetes todos dos meus olhos, obrigado. A pálida perguntou, se insinuou. A pálida veio, atacou, insistiu. Uma corda bamba, não é mesmo. Nunca mais tocará em corpos nus pálidos. Nunca mais. Quanto mais cedo entenderem isso, melhor. Por que somos obrigados a meias-palavras? Porque as palavras são repletas de força e poder. Porque estão de olho, sempre de olho. Nós sabemos exatamente o que queremos, mas ninguém precisa exatamente saber do que se trata. Nós? Agora, poderíamos dar nomes. Talvez. Avançamos bastante até aqui; poderíamos falar abertamente desta nossa pele? Dia da Consciência Humana, vão dizer. Somos todos. Humanos. Claro que somos. Só que alguns, ao que parece, são considerados mais humanos que outros. Os pálidos são engraçados. Vamos parar por aqui. Quantos rancores somos capazes de esconder antes de inflar pra valer? Temos medo de sermos consumidos. Vou dizer que amadurecer seria ir se importando cada vez menos. Os outros realmente interessam? Estamos parafraseando o amigo que raspou, o grande amigo perseguido por… opa. Vamos parafrasear as palavras do irmão - sim, irmão, meu caro João. Mesmo que elas nos detestem por isso. Está bem. Amadurecer é ir se importando menos com o que os outros pensam e ir causando mais impacto positivo nas pessoas que ama, nas pessoas que querem seu bem e realmente te fazem bem. Sem aspas porque adaptamos. Essa é a sabedoria, meu caro João. O astrofísico famoso nos explicou de forma bastante teatral e contundente os conceitos científicos por detrás dos espíritos. Nós já sabíamos. Nossa pele é ou não é maravilhosa? Não podemos dizer, porque, afinal, somos todos humanos, não é isso? Os pálidos se ofendem. Ops. Não falaremos deles. Somos nós aqui. A irmãzinha mais nova compartilhou o texto sobre a frieza. Você é mesmo frio, meu caro João? Você é mesmo um excesso de sentimentos afetuosos tão transbordantes que é incapaz de se relacionar com a maioria? Não é um tanto quanto prepotente? Sabemos a verdade, ou pelo menos gostamos de imaginar que sim. Vamos respirar, vamos rezar. Com gentileza, sim? Não sobrevivemos ao primeiro dia sem ela? Sim. Íamos cair no desespero, estávamos despencando. Caímos, na verdade. Porque os imprevistos com as pessoas caras a você e que sofrem com a saúde. As pessoas caíram, mas se mantiveram emocionalmente estáveis. Pelo menos aparentemente. Você não se sentiu ainda mais atolado no abismo de solidão, meu caro João? Clichê miserável. Sozinho sozinho sozinho. Ela se foi. Ela foi consumida por anos e anos e anos de rancor causado por traições e injustiças. A pele dela, a nossa pele. Não pode falar porque senão os pálidos vão brigar e falar que somos todos humanos. Mas eu testemunhei os anos e anos de hemorragia emocional se acumulando até consumí-la de vez. Não é doloroso lembrar, meu caro João? Você está sozinho sozinho sozinho porque você não consegue lidar com todo esse excesso de si mesmo com ninguém. Ora. Ora… Se aproximam, não é isso? Se interessam pela imagem… Oh sim. Físico esbelto, diziam. Homem bonito. Aquele que se expressa muito bem por meio das palavras. Que engraçado. E arrogante. Certo. Se admiram com a imagem. Tentam se aproximar. Insistem. Insistem… e então percebem a tempo no que estão se metendo e se mandam para bem longe. Não é isso? Deitam na cama, mas percebem o excesso que você é, e saem correndo. Ninguém pode culpar. Não é culpa de nenhum ser vivo. Nós somos o que somos, não é mesmo, João. Maria disse para… não vamos falar de Maria. Estava pensando, queria trocar palavras, só que não. Quem está testemunhando? Sabe o que é se afundar nessa poça de vômito que, na verdade, é a sua própria alma, meu caro João? As pessoas se apaixonam por imagens. Você seria diferente? Você está sozinho no escuro. No escuro da solidão, você se fortalece. Você rezou para ela, não foi? Você se lembrou que parte da força dela agora faz parte de você. Por isso que você se levanta, mais uma vez. Que bonito. Que raso. Superficial. Gostaria de me expressar de uma forma mais adequada. Está tão obcecado assim em ser, preparem-se para o verbo clichê, ser aclamado como aqueles senhores esquisitões contadores de histórias? Só porque eles falam de forma enrolada e fingem que são visionários e tudo mais e inventam enredos malucos? Você pode fazer isso também, se você realmente quiser. Você já pensou que você é você mesmo e que só você pode contar do jeito que você conta? Você tem seu jeito todo especial, meu caro João. Na cama, riu quando você contou seu objetivo verdadeiro. O que espera de alguém assim? Tem mais é que sair correndo mesmo. Mas Maria compreende, compreende até bem demais, ao que parece. Não fale de Maria agora, sim? Obrigado. Vamos lembrar novamente: você, João, é que é a flor no penhasco. Ninguém vai acreditar, mas não há idealizações aqui. Já parafraseamos isto: não há o que temer, pois o mundo está cheio de decepções. Nós não nos decepcionamos aqui, porque não criamos expectativa, embora criemos, mas já é esperado que as pessoas falhem. Porque é essa a nossa natureza. Você vacilou um montão de vezes, não é isso, meu caro João? Algumas e alguns jamais irão te perdoar. Mas isso faz parte da programação. Qualquer palavra que for dita aqui será odiada ou adorada, depende para quem estamos falando. Não é o esperado? Certo. Já dissemos que estão todos se esforçando o máximo que podem no momento para fazer o melhor possível. Podemos culpá-los por errar? Podemos culpar Maria? Olhe antes para os equívocos que você mesmo cometeu e comete. Não cobramos excessivamente, portanto, não mais. Exceto nós mesmos. Você. Você não era você e não mais todos nós? Velhos comportamentos são mesmo difíceis de largar, não? Só que não é a fragmentação de antes, acreditamos. Está vendo como pode se expressar sendo você mesmo neste instante? Poderia forçar para soar igual à outra aclamada que todos adoram e que todos citavam sem parar. Não faça isso. Isto aqui é você, João. Você é isto aqui. Você está se afogando na poça de vômito de você mesmo, João. E está respirando.
Está respirando ventos e trovoadas.
Ela se foi para ascender aos céus. Você não a perdeu; ela se transformou. Ela agora é uma das estrelas mais brilhantes do céu. E você agora respira os ventos e trovoadas dela.
Você sempre soube, João. Sempre soube...**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**
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