Idiotices do João [73]

João não consegue. Está entalado. Está enterrado debaixo dos escombros de si próprio. Gostaria de poder de expressar com beleza e majestadde, mas o problema é todo seu, você não tem o direito de chorar, suas lágrimas são ridículas, há pessoas morrendo lá fora e você aí se afundando na caminha quente, as contas estão sendo pagas então você não tem do que reclamar, vá lavar louça!, está passando fome por acaso?, melhor se jogar da janela para tudo terminar, ah, então você quer chamar a atenção dessa forma?, você é patético!, seja sempre honesto, seja perfeito sempre, se não consegue lidar com cobrança então não devia nem ter nascido!, vá se esconder numa caverna!, estou repleto, estou repleto, só pensa em si, só só só, vá buscar a sua irmandade!, seu doente!, seu maldito doente, estúpido!, inútil, não consegue se comunicar, não consegue dizer, está perdido, onde está a beleza?, onde está a criação original, não consegue se mover, não consegue fazer, sem perspectivas, sem esperanças, problema é todo seu, o maldito problema é todo seu, tem gente morrendo lá fora, tem gente sendo morta a tiros, tem gente sendo dilacerada, violentada, espancada, e você aí chorando na sua caminha quente, vá se levantar e fazer alguma coisa!, reaja!, só depende de você!, se passasse fome de verdade não estaria assim!, vagabundo!, vagabundo vagabundo!, fracote! fracote fracote fracote!, ridículos, só sabe dizer xingamentos, onde está a beleza?, por que não está conseguindo se comunicar, gostaria de me esparramar para o mundo e para o mundo desejo retornar, por que as minahs asas arrancadas não crescem outra vez?, a comida está queimando no forno, está sozinho, sozinho sozinho sozinho, não consegue se levantar, ah, ia xingar agora mas desisti, cansei, João se arrasta para outro cômodo, queria se afogar em mais lágrimas mas seus olhos secos não colaboravam, nada fez, em nada acrescentou, mais uma vez não serviu para nada, não faz nada, sua vidinha inútil não foi de nada, um abraço, meu caro João, vá chorar lá no inferno, adeus.

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