terça-feira, 25 de março de 2014

Idiotices do João [61]


ATO 1: O EXCESSO
- Você estava fazendo caras e bocas, achei que fosse exagero seu, até você sair do nada, bem no meio da reunião.
O gato estava de tocaia na porta do banheiro, mas aí você encostou nele e ele rosnou para você. Sentiu vontade de partí-lo em pedaços. As raivas se acumulam, sejam de pessoas ou animais. A irmã desejou sua angústia publicamente, vomitou as dores de suportar em silêncio os dedos apontados e as risadinhas atravessadas, outro continua fervilhando muita raiva pelas condições desiguais e conceituadas previamente, antes de qualquer julgamento justo, sabemos do que se trata mas ainda não revelaremos, o gato rosnou, embora João é que seja o verdadeiro dono da casa, exageros, o excesso de emoções se avoluma, Maria respondeu sua mensagem após um milhão de anos, a Rainha Luz segue em sua luta pelo direito de continuar existindo em toda a sua majestade, você está feliz, meu filho?, sim, estou feliz, mente João, estou feliz por estar respirando lindamente, a gangorra se moveu e agora está até genuinamente contente, o Senhor Escuro está cutucando outra vez, o calabouço parece convidativo uma vez mais, não quero o velho João de volta, disse a irmã mais nova, você está cumprindo as suas obrigações, meu caro João?, meu nome é John Doe, a Gata da Literatura compartilhou um pouco dos seus desamores, estamos todos tentando, as tristezas dão-se as mãos para dançar, mais um trecho cliché e inútil, estou cavando para sentir novamente, estou tentando redescobrir, fechar-se para bloquear o excesso, e a vontade de rosnar?, e a vontade de urrar?, está retornando, recaídas, soltou um palavrão e quase brigou com um desconhecido só porque as empanadas demoraram?, o Senhor Escuro está cutucando, quantos poderes maiores poderemos manipular agora?, o sopro dos antepassados foram suplantados pelos ritos de passagem, agora devemos seguir alimentando o sangue dos espíritos, nós não, há apenas eu, John Doe, meu nome é John Doe e eu sou uma miríade de excessos, prefiro que eu mesmo fervilhe no caldeirão de emoções do que testemunhar todos vocês sofrendo, vocês sofrem e eu sofro, por favor, sorriam e sejam felizes.


ATO 2: O ISOLAMENTO
Eu estou aqui. Meu nome é Preste João. Sou o senhor mais rico de todos os mundos existentes e imagináveis. Sou o senhor do Continente e o meu destino é se sentar no mais alto de todos os tronos. E estou só.
Quando os Portões do Sol se fecham, não sinto mais nada - ou ao menos é o que gosto de fingir para mim mesmo. As ideias se retorcem e contorcem enquanto releio as fábulas. O senhor literal de direito pode mesmo reescrever o universo? Posso manipular o que eu quiser, se tiver coragem para tanto. As esperanças tentam se soltar dos grilhões para copular bêbadas umas com as outras. Podemos cagar agora? Não precisamos nos restringir, não nõs, apenas eu, João Lumumba, lembre-se do seu nome, sou um perito em criar novas realidades, a canção é triste, bem ao meu gosto, não compreendo seu idioma porém provém das terras antigas de onde vieram o sangue dos espíritos em minhas veias, a mágica trabalha de formas ritualísticas previsíveis mas podem conjurar demônios em choques de retorno, já os poderes da mente são os poderes da alma, uma vez que a alma está devidamente alojada na cabeça, a cabeça controla tudo, soltei um spoiler mas ninguém dá a mínima para o que é dito aqui então não há problemas, deveríamos, digo, deveria eu produzir mais, produzir produzir produzir, seja útil ao mundo e tenha créditos, o cara lá é cineasta, poeta, repórter, dramaturgo, pedreiro, piloto de fórmula 1 e embaixador de Moru-Moru, eles têm de ser tudo ao mesmo tempo, coleção de profissões, não pode ser simplesmente uma pessoa?, não pode se apresentar como João das Neves, aquele que não sabe de nada?, está usando recurso proibido, não era pra superar o velho bonachão?, iremos sim, digo, irei, eu irei, olha as recaídas, o que é que sinto quando estou aqui sozinho no calabouço?, o que é podemos, o que é que posso concluir?, agora estou simplesmente caindo, porque a voz dela é linda e me lembra Maria, porque ela é a Maria e eu estou caidinho, cale-se, ninguém dá a mínima para isto aqui mas na verdade é que estão de olho sem dizer nada, tenho mais para revelar mas nem morto nem bêbado que direi abertamente, aliás não bebo faz um milhão de anos, o que são os meus sentimentos, eu não estou falando tudo, nem de longe, estou percebendo, mesmo aqui estou me controlando, então o que adianta?, o universo pode se reconstruir?, minha essência é a das profundezas…?, achei que fosse o dinamismo louco que cavalga as chamas loucas da criatividade, embora eu, João Kalumba, deseje mesmo é a tranquilidade do equilíbrio, mentira, eu busco sempre pessoas danificadas, nem percebo, mas sempre me apaixono por pessoas danificadas como eu, cuidado para não falar demais, muito cuidado, cuidado para não se apressar, as pessoas se assustam, correm para bem longe, Maria está fechada, fechada e abrindo-se aos poucos, é muita responsabilidade, isto aqui não é um joguinho de criança, a brincadeira acabou e você deve assumir a responsabilidade, quando você tenta transpor os muros que uma pessoa ergueu ao redor de si para alcançar seu danificado coração você deve fazê-lo com muito respeito e carinho, e amor, deve assumir a responsabilidade!, desejamos apenas o amor, nós somos o amor, eu, eu, mas deseja que sejamos nós, desta vez duas pessoas de verdade e não apenas imaginários alter-egos conflitantes e dolorosamente patéticos, assuma os fardos de um homem, pelo amor dos ancestrais, você atravessou o inferno para superar os seus ritos de passagem, agora é a vez de se esforçar ainda mais para dar o sangue, o sangue dos espíritos, estamos todos rodeados de malditos moleques destruidores de corações e almas, malditos garotinhas de peito estufado que destroçam belíssimas garotas e as danificam para sempre, seja o homem digno para Maria, seja um homem digno para a Rainha Luz, para os seus amigos, para todos que te amam, tente ser mais gentil para consigo próprio, seja menos cego, seja um homem digno para si próprio, seja o Grande João, todos nós agradecemos, muito obrigado, boa noite.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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