segunda-feira, 10 de março de 2014

Idiotices do João [59]


“João, você é a pessoa mais perturbada que eu conheço”.
Meu nome é João Silva, mas pode me chamar de John Doe. Estive por aqui, num dia desses qualquer, passaram tempos até que eu resolvesse me pronunciar novamente, e muitas eras se passariam se eu não me forçasse a estar aqui, alguma angústia, alguma, sabe, não estou mais em pedaços, a fragmentação se foi, não há mais nós, apenas eu, eu, eu, eu, eu sou João, o galo teve a garganta cortada e eu admirei o filete de sangue descendo até o falo, foi uma das visões mais bonitas de toda a minha vida, tenho de relembrar, os deuses foram acalmados e alcancei um estado genuíno de plenitude, eu poderia florear um pouco mais, poderia, dar maiores detalhes seria um desrespeito, eu nem deveria tocar neste assunto, qual a dificuldade de conversar?, todos os demais parecem ter muito a dizer, estamos vomitando palavras apenas para compor umas páginas?, compartilhar sentimentos, compartilhar um quinhão do rio subterrâneo que corre enlouquecido dentro de mim, isso é mesmo válido?, a rainha que encontrei, é a Maria, a Maria, ela é a Maria, a mais bela de todas as mulheres nesta terra, voltei ao estado primordial de clichê, no qual um indivíduo do sexo masculino derrete-se em amores por uma pessoa excepcional, não diga a palavra, não diga o verbo mágico, ainda é cedo, porque não se sabe o que é, você está perdendo a beleza do dizer e o sabor de contar, isto aqui está horrível, deveria eu enfeitar?, ninguém entenderá ou se dará conta, agora que foi dito parece meio bobo, e eu estou me justificando outra vez, você acha mesmo que conseguirá preencher as expectativas de todos?, está se esvaindo, talvez não dure este ano, já tomou as medidas legais?, seu coração está realmente preparado?, eu tive de me tornar um homem adulto, houve o ritual de passagem, você se lembra?, se sente poderoso agora?, vários procedimentos em andamento, não consegue mais falar da Maria?, outras pessoas ao redor, sondando e cutucando, se alimentam da esperança de um par aparentemente perfeito, eu me esquivei, mas me diga, como é que você está?, por que você sumiu, perguntam ao João, por que você não aparece mais?, o que é aparecer?, o que é comparecer?, passou o ritual de passagem, caí no abismo escuro e renasci trajado de branco, assim como o mago daquele livro que você adora tanto, estou falando e banalizando as mitologias que existem dentro de mim, o sonho é um mito pessoal, eu acredito nos deuses que fervilham dentro de mim, acredito mesmo?, as leituras se enfureceram, absorvi um monte porém não consigo compartilhar nada, não é um momento adequado de inspiração porém algo deve ser dito, eu melhorei ao menos?, estou assustado, entretanto estou enfrentando, estou encarando?, estou, estou aqui dizendo, voltarei ao caldo primordial, já fiz isso, já morri e renasci, eu sou o meu próprio mito, devo insistir mais, devo ousar mais, mais mais mais, cuidado com essas cobranças desmedidas, na verdade estou seguindo meu próprio ritmo, e deixando que as coisas aconteçam em seu próprio tempo, “deixe que a vida desenrole pra te surpreender”, eu acredito, eu tenho certeza, ela diz que tenho de ter pé no chão e plano B, C, D, estou voando!, estou voando alto, cortando os céus, repleto de alegria e esperança, minha mente é a minha fortaleza, eu sou o mais forte, eu sou, tenho certeza absoluta disso, estou voando através dos céus, dilacerando todos os meus medos e energizando todas as minhas virtudes, eu vencerei, estou vencendo, eu vencerei e compartilharei com as minhas amadas pessoas, assim como as amadas pessoas minhas compartilham suas alegrias e tristezas, seremos companheiros, Maria e eu, individualidade compartilhada, é no que acreditamos, há amor, há amor que cresce devagar, com a lentidão que tornará este amor muito forte, o mais forte de todos, eu sou João e esse é um quinhão da minha história, vamos compartilhar os rios subterrâneos que correm enlouquecidos dentro de todos nós e vamos sorrir.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

Um comentário:

  1. Obrigada por continuar existindo e escrevendo. E escrevendo nesse caderno que atualmente está mais em branco que nunca.
    Estou lendo seu livro. Pretendo publicar minhas impressões aqui no caderno quando termine mas seu estilo é inegável e inconfundível. Já ri e já me identifiquei com seus personagem fudidos e não estou nem no capítulo 5 ainda. Ou estou? Não sei. A narrativa é rápida. Difícil saber assim sem pegar o livro na mão e olhar mas estou enrolando.
    Um dia vou poder me gabar que o mestre Fábio Kabral escrevia pro meu blogzinho. xD

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