terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Morada cardíaca: a única morada



Todas as formas que ocupavam a minha cabeça foram brutalmente apagadas, de forma que nunca teria contato com o primeiro caminho que trilhei nesse mal acabado mundo. Nunca soube que no olhar do outro só veria a mentira, e que nunca poderia separar a imagem idealizada da projetada. Nunca saberia se aqueles outros que diziam me querer realmente me queriam como eu era, ou se me queriam como tela branca, para pintarem e me transformarem em pessoa receptáculo de seus mais carnais desejos. Definitivamente não teria como saber se apreciavam a idealização que faziam de mim, ou se, de fato, estavam apaixonados pelas minhas infinitas falhas, pelos diversos buracos em meu coração, pelo líquido escuro que escorria de minhas mãos, culpando-me todo dia por todo mal estar que já causei ao seu amado. Será que gostam do meu multifacetado e conflituoso ser? Será que a confusão caótica que trago ao mundo já não é suficiente para levar a pessoa a dar três passos em direção a mim antes de conhecer a rapidez do meu batimento cardíaco e a baixeza da minha pressão arterial? É possível que uma pessoa qualquer tenha levado minhas imperfeições em consideração, porém as tenha delineado como potencialidades e tenha decidido pela continuidade? Sim, essa possibilidade existe. Esse alguém  que encontrou a escuridão em meu coração e não retrocedeu, esse sim, que me aceita por completo, é habitante eterno do meu coração. Esse eu nunca deixarei de amar. Esse é o único que ouve o eco do meu coração e não tem medo do som que retorna, pois sabe que dentro de toda ostra há uma pérola e que não podemos querer caçar o almoço sem um pouco de sangue. Essa pessoa sabe que a complexidade do ser amado se sobrepõe a qualquer maniqueísmo mal formulado, e que a única coisa que nos mantém com ar nos pulmões e sangue no coração é o amor que nutrimos por aqueles que admiramos. São aqueles que, apenas com o olhar, são capazes de restaurar a paz. Quero aquele toque em meu interior esquentando meu exterior.  Queria saber que sou eterna em você, e somos eternos em nossas continuações. Queria saber que sempre terei um lugar acolchoado em seu ninho cardíaco para me acalmar, para ser amada, para receber carinho e atenção. Esse alguém que de longe me observa apesar de estar aqui próximo precisa saber que eu nunca deixarei a minha morada cardíaca. Não sou inquilina, sou proprietária. E você é proprietário do meu coração. Essa é a única certeza que tenho: que nós sempre seremos um só. 
*Texto escrito por Fernanda Marques Granato. Esse texto está protegido pela lei de direitos autorais. 


**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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