Todas as formas que ocupavam a minha cabeça foram brutalmente
apagadas, de forma que nunca teria contato com o primeiro caminho que trilhei
nesse mal acabado mundo. Nunca soube que no olhar do outro só veria a mentira,
e que nunca poderia separar a imagem idealizada da projetada. Nunca saberia se
aqueles outros que diziam me querer realmente me queriam como eu era, ou se me
queriam como tela branca, para pintarem e me transformarem em pessoa receptáculo
de seus mais carnais desejos. Definitivamente não teria como saber se
apreciavam a idealização que faziam de mim, ou se, de fato, estavam apaixonados
pelas minhas infinitas falhas, pelos diversos buracos em meu coração, pelo
líquido escuro que escorria de minhas mãos, culpando-me todo dia por todo mal
estar que já causei ao seu amado. Será que gostam do meu multifacetado e
conflituoso ser? Será que a confusão caótica que trago ao mundo já não é
suficiente para levar a pessoa a dar três passos em direção a mim antes de
conhecer a rapidez do meu batimento cardíaco e a baixeza da minha pressão
arterial? É possível que uma pessoa qualquer tenha levado minhas imperfeições
em consideração, porém as tenha delineado como potencialidades e tenha decidido
pela continuidade? Sim, essa possibilidade existe. Esse alguém que encontrou a escuridão em meu coração e
não retrocedeu, esse sim, que me aceita por completo, é habitante eterno do meu
coração. Esse eu nunca deixarei de amar. Esse é o único que ouve o eco do meu
coração e não tem medo do som que retorna, pois sabe que dentro de toda ostra
há uma pérola e que não podemos querer caçar o almoço sem um pouco de sangue.
Essa pessoa sabe que a complexidade do ser amado se sobrepõe a qualquer
maniqueísmo mal formulado, e que a única coisa que nos mantém com ar nos
pulmões e sangue no coração é o amor que nutrimos por aqueles que admiramos.
São aqueles que, apenas com o olhar, são capazes de restaurar a paz. Quero
aquele toque em meu interior esquentando meu exterior. Queria saber que sou eterna em você, e somos
eternos em nossas continuações. Queria saber que sempre terei um lugar
acolchoado em seu ninho cardíaco para me acalmar, para ser amada, para receber
carinho e atenção. Esse alguém que de longe me observa apesar de estar aqui
próximo precisa saber que eu nunca deixarei a minha morada cardíaca. Não sou
inquilina, sou proprietária. E você é proprietário do meu coração. Essa é a
única certeza que tenho: que nós sempre seremos um só.
*Texto escrito por Fernanda Marques Granato. Esse texto está
protegido pela lei de direitos autorais.
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