segunda-feira, 17 de setembro de 2012

A última dança de duas sombras sem luz


No fundo da sala se ausenta uma voz, que com toda a fineza reunida em uma pura inexistência se recoloca em ambientações primevas. 
Três quedas seguidas de um fino receituário de madeira ecoam pelo vazio da mente que cedo se atordoa com picadas de ansiedade adocicada. 
O respirar nunca se recompunha em cada espaço por muito tempo. Era apenas o suficiente para a tentativa de não esboçar qualquer indício de presença se fazer de bem-sucedida. 
O pouco caso com que a cortina tratava o pobre corpo plástico lá disposto motivava a repetição de notas secas nos músculos que se contraíam involuntariamente a cada segundo que se passava, diante dos quais a sala se entregava ao enregelamento. 
A cada dia um enriquecido grau era levado. A sala era pura rouquidão indissolúvel. 
Em um momento de grande amplitude, toda a sala se foi para o vazio, e apenas a involuntariedade restou. Nada que fosse aguado ficou.
 A solidez acoplava qualquer existência na sua essência, e toda experiência era devidamente repelida pela sua própria concepção de natureza. A voz era ouvida em poucas doses e inconsistentes notas que eram levadas à palpitação das farpas na mão do corpo ausente. 
Todas as farpas abrigavam as veias agora desnutridas e carentes de ventilação. 
A exceção era a única parte semi-rosada do corpo desnudado pela rudeza da sobriedade que se expunha sem notar aparente ameaça.
Todos sabiam que ali estava o irrecuperável.
A pureza era de todos, e a visão era de ninguém.
A ramificação levava ao sumidouro das existências, a dois quilômetros dali.
O olhar envidraçado era tudo o que fora conjugado naquela ambientação sem preparação sonora. 
Era necessária a sensibilidade de duas cordas vibrantes.

*Escrito por Fernanda Marques Granato.
*Esse texto é protegido pela lei de direitos autorais. 





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