A porta nem saberia o motivo da sua presença meramente física se não houvesse interferência direta da mão que empalidecera conforme o sol se colocava aos braços do saber imperfeito. Nunca haveria importância em se colocar de forma que sol e terra andassem juntos. A luminosidade adentrava sem se amedrontar pelo portão ressabiado que se abria meio a contragosto para que raios solares impiedosos entrassem.
Nunca se saberia a intenção daqueles que viriam ao encontro do castelo de estilo vitoriano. Os passos intrusos vinham carregados de sonoridade, porém a amplitude dessa linguagem ainda não fora decodificada, de forma que os habitantes ficavam sem saber perscrutá-la. A melhor luz para receber tais andarilhos era a do pôr do sol, esse que nada silenciava e que tudo abarcava. Os muros seriam reconstruídos sim, dizia o senhor feudal, ainda que novos invasores bombardeassem as muralhas.
A revoada de águias não poderia alterar de forma alguma o cultivo dos camponeses que ocorria internamente no feudo. Desse cultivo todos dependiam, e nada era considerado presente. Tudo era alguma forma de pagamento recíproco. Os alimentos eram dispostos ao sabor do vento, e nada se sabia sobre o seu comportamento em face às intempéries. Poderiam decidir recuar e permanecer abrigados em poucos casebres semi-construídos que protegiam parcamente vinte mil camponeses. Poderiam se levantar da terra e prosperar em novos ares medievais. Nada se saberia do seu paradeiro. Nunca houve nenhuma revoada em resposta à última invasão. Poderiam deixar que suas sementes se desnudassem diante dos passantes recatados e desafiasse o seu pudor. Poderiam deixar que as nuvens soubessem que a água deveria ser compartilhada e que não poderiam mantê-la por muito tempo, pois a escuridão reinante era cada vez mais inegável.
Nada seria desprotegido.
Nada seria descuidado.
Neve.
*Escrito por Fernanda Marques Granato.
*Esse texto está protegido pela lei de Direitos Autorais.
A revoada de águias não poderia alterar de forma alguma o cultivo dos camponeses que ocorria internamente no feudo. Desse cultivo todos dependiam, e nada era considerado presente. Tudo era alguma forma de pagamento recíproco. Os alimentos eram dispostos ao sabor do vento, e nada se sabia sobre o seu comportamento em face às intempéries. Poderiam decidir recuar e permanecer abrigados em poucos casebres semi-construídos que protegiam parcamente vinte mil camponeses. Poderiam se levantar da terra e prosperar em novos ares medievais. Nada se saberia do seu paradeiro. Nunca houve nenhuma revoada em resposta à última invasão. Poderiam deixar que suas sementes se desnudassem diante dos passantes recatados e desafiasse o seu pudor. Poderiam deixar que as nuvens soubessem que a água deveria ser compartilhada e que não poderiam mantê-la por muito tempo, pois a escuridão reinante era cada vez mais inegável.
Poderiam saber que tudo estava lá, e que lá ficaria por toda a eternidade, gota por gota,
semente por semente, andarilho por andarilho.
Nada seria abandonado.semente por semente, andarilho por andarilho.
Nada seria desprotegido.
Nada seria descuidado.
O muro ruiu, e as moedas entraram, uma a uma, saltitantes no jardim de espigas de milho
As sementes, agora, eram apenas irrelevância sistemática. Neve.
*Escrito por Fernanda Marques Granato.
*Esse texto está protegido pela lei de Direitos Autorais.
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