João se levantou da cadeira e se atirou pela janela.
O mundo lá embaixo parecia menor. Afastava-se cada vez mais, em vez de se aproximar. Quantas nuvens mais teria de engolir? João sapecava a própria respiração, pois tinha medo de se afogar com ar. Seria mais legal se pudesse cuspir fogo pela bunda, não é mesmo?
Que tal se enforcar com as próprias tripas? Talvez alivie um pouco.
Há um futuro indefinido. Você sabe o que será? Sabe o que quer ser. Não se fala muito, deseja-se, pegaria uma faca para rasgar o excesso e deixar que jorrasse um aglomerado gosmento de ansiedades. Queria estar na foto, não é mesmo? Enfrentaria uma palestra chatíssima de Marias Caneta? Não macule o nome da Maria dessa forma. Não seja um misógino. Mas é assim que enxerga. Não apenas mulheres, homens também. Diminuem-se, rastejam, anseiam pelo toque da celebridade. Quais suas liturgias? Apegue-se, enquanto outros dizem o contrário. Quantos mais fingirão que não se importam? Anseiam pelo afeto. Gostar-se-iam de si próprios ou prosseguirão batendo cabeça até que o cérebro vire pasta? Desconcertos em sinfonias viciadas, não há luz, talvez não para todos, você é capaz de sentir as aranhas mastigando seu crânio com presas de titânio derretido?
Abrace o mundo.
Olhe aqui, João. Você pode andar agora? Estamos aguardando.
Eu sou o universo. Eu sou meu próprio planeta. Não há ressentimentos ou questionamentos? Estamos faturando alto com gargarejos próprios. Tudo foi perdido. Quantos escutarão os heróis que se foram, quantos?
Quantas Marias gritarão pelo seu nome? És tolo, se pensa que conseguirá dessa forma. Tem de esperar. Suas ações ainda são incomparáveis com os que estão muito à frente. Mas quem determina isso? Devia ter ficado para tirar novas fotos. Umas lembranças de inveja? Negue sua negatividade, afunde-se um pouco mais. A escuridão não é uma delícia? Onde estavam os heróis que se perderam?
Estavam nas escolas. Acobertaram-se com escuridões sortidas. Olharam para dentro de ressentimentos. Ressentimentos de novo. Que tal uma pitada de frustrações? Estamos repletos de negatividades. Nega-se muita coisa. Alimente-se mais um pouco de carne morta. Não queremos mais. Será? Sabe. Sôfrego nas intermediárias. Não há muito sentido. Precisaríamos?
Eu gostaria de berrar o que todos pudessem ouvir.
Abrace seu inferno particular. Abrace seus demônios, estão todos carentes. Estamos sendo claros? Talvez prefira rasteja em alguma sombra gosmenta. Havia uma intenção, mas aleatoriedades talvez sejam mais bem vindas. Podemos pensar? Poderíamos escolher um par.
Há chamas que estão por vir. Estamos tentando não olhar. Vejamos. Há chamas para se misturar com outras labaredas. São da mesma simbologia? Significaria algo? Umas constelação de uma tal ciência falida. Qual a sua realidade? Ao menos, será que se veste bem? Pelo menos há cachos, sempre estamos vendo cachos. Nossas heranças. Adiantando estão? Quantas desventuras daquele outro. Palavras de clichê. Ele se soltou, mas ela se apegou. Apegar. Novamente essa questão. Quando é que todos vão parar de fingir?
Infantilidades. Não se chega aos pés. Sabemos.
Sentidos. Significados. Está sôfrego?
O que é que deu errado quando todos os heróis se foram?
Não se sabe escrever, enquanto há sombras rondando o mato de doçuras perdidas. Ele olha para respirar, você pode me acompanhar? Deveríamos absorver, engolfar tudo. Inclua algumas ignorâncias. E quantas intolerâncias? Foleia para se enervar outra vez. E outra. Está se perdendo, não temos mais significados disponíveis, a feira acabou, agora os preços são caros.
Nós somos o mundo, João disse para si. Eles nos falaram, nós somos. Enquanto Maria estiver distante, nós somos o universo. Nossas mediocridades rosnarão alto sempre que arranharem demais. Pode afogar um pouco mais nas nuvens? Só não solte fogo pela bunda, isso é ridículo. Já perdemos o contato. Cerrar os dentes para uma parca luz talvez não seja suficiente. Então ele cospe no tecido existencial e escala a montanha da tentação. Teremos nosso prêmio. Pessoas se reduzem a quê? Quem te elegeu senhor melhor que todos? São apenas ilusões de uma grandeza inexistente. E quantos mais acham que é incrível? Aguardam o toque da celebridade que está para nascer. Está mesmo? Inebriados de espetáculo. Que tal soçobrar no quarto escuro?
João se senta na cadeira da praça. Poderia jogar milho para imagens confortáveis. Pare de olhar. Definiram vinte e um. Sua segurança virá quando a serpente morder a própria cauda. Senhor simbolista. Pretensão. Abrace o mundo. Abrace-se.
Falam que não há filosofias. Falta de lógica. Não estamos no devaneio. Estamos só pretensiosos.
Pelo menos está caindo em direção às estrelas, enquanto se afoga nas nuvens.
Nós somos o mundo.
Eu sou.
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