quinta-feira, 31 de maio de 2012

Idiotices do João [8]

Daí que João apontou o dedo em riste para Maria:

- É isso que quer saber? Sou um causador de medo! Sim, causo-te medo, causo-te repulsa, sou um arquétipo de palavras, você não entende o que não é completamente fora de cogitação, gostaria de lhe provar, estamos borbulhando em confusões sem conta, estamos nos desentendendo por besteiras, não seria mais simples nos abraçarmos em silêncio? Gostaria apenas de sentir o toque silencioso de seu corpo, sem nenhuma obrigação a mais, apenas de sentir sua pele encostando na minha, permitir-me eletrocutar-me...

De súbito, Maria deu-lhe um soco bem no meio da cara, um soco tão potente que João voou para bem longe.

- Respeite-me - disse Maria, que virou as costas e foi embora.

E João ficou ali, estatelado, absorvendo todas as misérias de suas próprias falhas de caráter. Fracassou porque foi incapaz de conter a si mesmo, fracassou ao tentar compreender Maria e fracassou na própria arrogância. Vitimizar-se agora é tão inútil quanto morrer. João permaneceu quieto por mais uma meia-hora, ou talvez um dia inteiro, incapaz até de pensar. Perdeu-se, perdeu para si mesmo, não conseguiu compreender outro ser humano, fechou-se tanto para si próprio que se perdeu. Amanhã seria outro dia, solitário e amargo quanto todos os outros, e João recolheu os cacos para se arrastar mais uma vez em sua existência inútil e desprovida de maiores propósitos.

Mas aí o celular toca, como se não bastasse, para lhe avisar, sim, alô, querido João, alô, queríamos você, sim, sabe que queríamos, todas nossas, exceto a Dona Maria Boss Suprema, lamentamos, um beijo, até mais. E assim foi para um dia bem ruim para repercutir por mais meses sem conta, oh céus, oh vida, que nada adianta, pois nada mudará enquanto não continuar se movendo, e tentar acreditar que algo de bom está por vir, de um modo ou de outro.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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