sábado, 28 de janeiro de 2012

Moldura do mundo

O ar que me ocupa sempre foi intruso. Nunca tive o título de propriedade das partículas que o compunham, sequer sabia que coletivo elas habitaram anteriormente, antes que eu me fizesse disponível. Não me ensinaram a curar o rasgo aberto na fechadura, e todas as vozes me eram inúteis. Todos os desejos deviam estar reconfigurados na consumação astral que cada partícula era capaz de produzir a cada novo contato com esse mundo do qual nunca fui eco.

As chamas externas me encontraram há pouco aqui na floresta dos saberes irrigados de metalinguagem, e tudo que interagia com a minha voz seca na garganta era um pássaro que não sabia voar. A tinta se perdeu na estação, fazendo com que eu perdesse a referência primordial.

Habitar uma cidade não é suficiente para conhecer todas as suas estruturas. Habitar uma mente não é algo tão premente quanto dominar a origem das suas metáforas. Habitar o púlpito não necessariamente compete ao mais capaz, mas àquele que se provou menos íntegro no calor do tormento das partículas. O coletivo areado já teve a sua razão de ser removida e realocada, para não ser necessária a devolução do som repetido para o ouvinte tal que faz o narrar existente nesse mundo cadente.

Talvez me bastasse adentrar o céu e habitar a luz das estrelas.

Sempre morei na finitude do outro. Nunca soube definir a minha falta de partícula de outra forma. Uma parte de um todo demora a ser notada como o todo que faz a parte ser indefinida.

Perdi dez passos no vazio. Alguém se habilita?


*Escrito por Fernanda Marques Granato.

*Esse texto está protegido pela lei de direitos autorais.



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