sábado, 10 de setembro de 2011

Som inaudito

A guitarra reverbera em minha mente ressecada, e eu não suporto mais. Não suporto a invasão do espaço que há tanto tentei resguardar como meu. A proteção se foi com o primeiro ruído que se apressou a se fazer vibrar em minha tempestade sem chuva.
O muro não se recompôs no maior dos pesares reconstruídos, e eu saí nula. Sem justaposição que se provasse dotada de amplitude. A incompletude caracterizava a madeira ocre, de modo que não poderia existir sem a falta.
O silêncio que oprimia o ambiente com a falta de pressão atmosférica fazia as mãos desidratadas prostradas na mesa de mármore aparentarem mais desbotadas do que de costume. Não suporto o olhar que me é dirigido.
A luz se foi, e aquele que suprime sorri em um esgar desvairado, dominado pelo vazio frio. O castanho se tornou cobre, e nada posso fazer para desmenti-lo. O ruído proveniente da madeira remoída trazia o novo, admitia o estranho, aceitava o intruso.
Esse intruso protagonizou dois respirares obscuros em cinco silêncios ininterruptos. Estavam formados dez ruídos incorporados. A água se esvaiu do recinto verde-claríssimo.
Sempre fui a água impura.
Todos as horas do dia reunidas em um peculiar segundo me mostram que é valioso o sabor do silêncio contido no entreolhar.
Nunca soube nenhuma lâmpada que fosse quadrada.
Só vivi invernos rigorosos.
Chuva sem neblina.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

2 comentários:

  1. Muito lindo, é demais. Nem o mais reverberador dos ósculos poderia servir de prêmio para uma escritora tão maravilhosa!

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