domingo, 20 de fevereiro de 2011

Pedregulho petrificado

A pedra que tenho não me faz falta. Nunca fez. A pedra que carrego no coração fechado para o mau tempo. A pedra que carrego no porta-mala, ao lado do estepe. Nunca soube repudiar a falta de buracos na pedra, a dor que ela me faz sentir quando se nega a atender-me na minha necessidade mais fundamental de todas. A necessidade de não me desesperar, de não deixar todos os fios no chão e fugir dessa realidade multi-facetada que não me permite fazer o ar jorrar da minha ferida eternamente aberta e infinitamente incomodada.
A pedra que não tive gera lágrimas em meu ego frágil e desamparado, naquele que tudo desaba diante da maior inconstância. Nunca soube fugir do previsível. Nunca soube achar o que poderia ter sido em outra instância, em outro momento assegurado na proteção argumentativa.
A decepção é, de perto, muito mais agradável do que a aceitação.
Pelo menos, todos sabemos que ela é real.
A realidade nos assalta sem termos percebido a amplitude da questão que nos abarca sem saber se o espaço já fora preenchido. A realidade nos mostra que temos que cavar o buraco sozinhos, e que ninguém virá ao nosso encontro para reconhecer o esforço advindo do feito extraordinário. Ninguém virá nos receber em suas casas tão brancas e remontadas, ninguém se entregará ao interesse de desvendar como nos sentimos, ninguém saberá de fato o que nos amedronta, o que nos afasta e o que nos aflige no mais íntimo dos espinhos pequenos.
Ninguém nos oferecerá a sua pedra para nossa contemplação.
Ninguém nos recitará aqueles versos comedidos sem limitação de reação.
Ninguém nos alcançará nos pormenores do ricocheteio cuja conseqüência se alastra em nossos fatigados corações. Fatias borradas ao vento, relegadas ao outro que toma a decisão de olhos vendados.
A perda é solitária, e não é sentida no compartilhado virtual onde todos são nenhum. A perda em queda livre nem sequer é ouvida pela terra mais próxima do diz-que-diz incomum dos arredores.
A perda é causada sem explicação, gerada em desespero em erupção destinada a imprimir salivações abruptas no entre-mar mais aconchegante.
A perda é o pior dos acompanhantes, e o mais constante.
Dissipação encobre todo o recanto, nada sobra para ser exposto.
Respiração retoma o ritmo habitual, de pouco a pouco. Refinada.
Calma enfim.
Dispersão.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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