domingo, 16 de janeiro de 2011

A minha margem do rio

Geografia. A professora adentrava o recinto, arrumava o material, lançava um olhar cortante para a sala que deixava os risos para o corredor. Seu braço poderoso pegava o giz e iniciava a classe com a explicação mais recente sobre a Terra e as várias camadas que a compunham. O magma, as placas, as correntes de convecção. Ar quente, ar frio. Geologia.
Nunca suportei por muito tempo essas aulas, logo buscando um santuário literário para me resguardar até que sua voz metálica parasse de me causar ondas ininterruptas de dor de cabeça. As tentativas de controle e de diminuir os danos que ela protagonizava eram as mais diversas, mas invariavelmente inúteis.
Já a professora de Biologia com as plantas, a Botânica, tudo muito organizado nos xilemas e floemas, mas será que a terra se dá conta disso tudo? Ela existe por si só, sem consciência interna disso. Tem-se consciência externa, ou seja, a dos seres humanos, que têm tempo gasto em estudos e dinheiro investido em percepções e em comprovações científicas que reafirmam a mesma questão: a natureza já pensou em tudo. Ou pensou mesmo? Ou existe sem relação nenhuma e sem acesso ao inconsciente coletivo?
Sendo nós, produtores e receptores, seres humanos, sempre procuraremos algum sentido nas coisas, mesmo que nada realmente exista além de mecanismos de sobrevivência e adaptações geradas com a evolução. As pessoas não são, por natureza, controladas, daí as tentativas de estratégia social para gerar uma convivência mais pacífica, mais organizada, mais rentável, mais produtiva.
O farol de trânsito, por exemplo. Se fosse alguma característica inata das pessoas respeitar a vez do outro e respeitar o próximo, não seria necessário ter esse aparato para decidir quem passa e quem deve frear seu meio de transporte. Já para a professora de Matemática é tudo uma questão de lógica e de estatística, facilmente posta para trás com uma equação biquadrada.
Mas será que tudo pode ser reduzido a dados, a números, a documentos? E a individualidade? E aquilo do que todos os documentários do Discovery nos convencem, de que não existem duas pessoas iguais no mundo? O que traz a unicidade? Aí entra o professor de Filosofia que rearranja a sala em círculo e propõe debates, provando a existência de diferentes pontos de vista, que por um lado enriquecedores às vezes apontam para cantos diferentes da quadra, sem de fato formar um time. Esse professor também provocava posicionamento de mim e de meus colegas, se seríamos adeptos da teoria hobbesiana, de guerra entre os homens até que o estado venha propor uma opção viável, ou da rousseauniana, do bom selvagem corrompido pela sociedade.
Acredito que ninguém nasça mau e uma instituição possa mudar drasticamente a índole, o caráter ou o comportamento e que ninguém nasça bom e seja corrompido. Cada um nasce de um jeito e se transforma, e isso é inevitável, porém essa não é a característica que as pessoas não gostam de ressaltar. É a falta de controle que deixa todos à beira de um ataque de nervos e sem ação diante da faceta mais primitiva da humanidade que nos habita, membros da sociedade do século XXI: a impulsividade.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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