Amor.
Uma sombra no escuro. Silhueta.
Corpo suado, passos e um grande copo de água.
A água é entornada, e inunda todo o quarto que, estando no vácuo de um navio, já estava esquecido, já era molhado com uma frequência indesejada e já era sumariamente ignorado. Tumescente demais. Desconsiderado. Abandono.
A guitarra ao longe me puxava com sua suave presença, da mesma forma que um corpo poderia me deslocar de modo invertido na sociedade tradicional, e eu aceitava o convite indesejado, aceitando a intrusão, minha velha conhecida, a mãe de todos os pensamentos intrusivos negativos que acumulavam mofo em minha cabeça. O transeunte não transa, temos que pensar nisso.
Em como resolver essa carência. O desejo transbordava do olhar amendoado dela, que reposicionava seu pescoço para melhor beijá-lo. Movimentos repetitivos se tornavam toda uma sequência de contrações ritmadas e suspiros, gemidos e amores, amantes e corpos, falta de ar e vontade de fagocitá-lo.
Cada investida dele gerava uma longa e intensa contração, capaz de amaciar até a pior insegurança. Clímax. O quarto, inundado em paixão plasmada, se duplicava em fantasmagoria insossa. Gota de chuva. Sabor indescritível.
A carruagem já estava pronta, mas ela não queria partir. Não tinha para onde ir. Tudo que importava no mundo inteiro estava entre aquelas quatro paredes - e entre suas pernas.
Abraço. Sauna.
A porta fecha, trancando lentamente.
Doce sensação da temperatura sufocante asfixiando todos os presentes.
Tarde demais.
No dia seguinte, a porta é arrombada.
Funcionários públicos.
*Texto por Fernanda Marques Granato protegido pela lei de direitos autorais.
**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**
Nenhum comentário:
Postar um comentário