30 anos
30 anos. Que besteira. É cada coisa que passa na nossa mente quando somos pequenos, que é difícil conciliar o que se passa na nossa mente – inacabada – com o futuro que ela nunca vai viver. O presente muda o passado, o futuro altera o presente, e a mente tenta acompanhar o ritmo, mas, muitas vezes, é tarde demais. A vida não espera você crescer. Ninguém te espera. Os eventos se desdobram numa vibração eterna diante da qual estamos desprotegidos, e a onda vem e nos arrebata, prontos ou não, ansiosos ou desligados, cá estamos com todo o sal na boca e nada de desespero para vender. O guarda-sol que me desculpe, mas não creio que exista um humano sequer que queira criar uma engenhoca qualquer para proteger alguém. As expectativas freiam nosso desenvolvimento, as críticas nos propelem para a frente, as promessas nos mantém em suspensão, os exemplos dos outros criam falsos horizontes de futuros escritos na água que evaporam imediatamente no próximo verão. Tudo é verão, e a felicidade vive no entremeio. A definição que nos persegue desde que inspiramos o ar rarefeito desse mundo pela primeira vez, os planos formados ao longo dos anos de falsas impressões se esvaem como quando tentamos guardar um floco de neve para mais tarde. Nada sabemos, apenas que devemos nos mexer, não devemos parar, devemos continuar tentando atingir o inalcançável. E para quê? O que queremos provar? Aonde queremos chegar? O que faremos com todo o pó que logo seremos? As notas se sufocam com o tempo perdido, e nada dura. Tudo se transforma no fim que sempre fomos, mas que só encontramos quando nele estamos. Nada ressoa, nada existe, apenas a dor acumulada, multiplicada a cada ano por mil, e contada pelas crianças que ainda vão nascer. E que nada sabem do que colecionamos. Nem do quanto nos esforçamos para mudar quem somos. Deixamos nossa marca na água, e ela já foi bebida. Nada existe. Nada existe por completo. A completude é a integridade do vazio. O ar que nos preenche também nos define, de modo que não podemos isolar em caixas ou potes de vidro todas as nossas facetas, que permanecem em estado de fratura exposta. Todos estão contra nós, armando-se e se preparando para nos aniquilar. O quanto antes percebermos, antes poderemos saborear o fim do que nunca foi – realmente – sentido. Desabrocho e ponho para fora todos os espinhos que me consomem, retirando facada por facada de modo a ter o caminho desimpedido para ser capaz de terminar o que comecei. Tecer essa experiência de quase-morte não é algo que me acalenta, mas algo que devo protagonizar para caracterizar essa performance de quase-vida, de quase pessoa digna, de quase ser humano que sou. De caco de potência curvada que sou, que não se encaixa em nenhum vitral, e também não se esmigalha. A pessoa que sou sai andando a esmo, sem saber para onde tornar, pois todos os limites foram reconfigurados pela crise, pela perda e pela facada, e não consigo reconstruir. Nada posso fazer, pois nada sou. Sou o fim inacabado da meia-estação desbotada de fim de maio. Regozijemos. O amanhã virá para aqueles que souberem se reconfigurar. Crise. Ruptura. Fim-recomeço. Despertar da dor, revirar-se em sonho. Amar o odiar, desprezar o ser amado, transformar o novo em velho inútil. Testemunhar o dissabor da vida que, aos 30, nada sabe, tudo sente, destrói e renasce no mundo da queda no vazio, sem rede.
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*Texto por Fernanda Marques Granato protegido pela lei de direitos autorais.
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