segunda-feira, 23 de maio de 2016

Todas as mulheres que já fui



Já fui aquela mulher que conhece de perto o chão e as suas entranhas e sabe pouco sobre coisas que vão além da sua saliva.
Já fui aquela mulher que conquistou o chão e passou a caminhar valente pelos azulejos e amarelinhas.
Já fui aquela mulher que se apropriou da linguagem e a fez veículo de comunicação de sua vontade.
Já fui aquela mulher que adotou uma irmã felina e a tinha como uma preciosa amiga que um dia seria humana.
Já fui aquela mulher que achava que o mar tinha fim.
Já fui aquela mulher que conquistou a linguagem em sua expressão escrita, ocupando as avenidas do mundo com seus Ls e os muros de sua cidade com sua garra e seus Rs.
Já fui aquela mulher que participava da roda contando sonhos de um fim de semana.
Já fui aquela mulher que pensava que conta complicada era aquela soma de algarismos de 3 casas no fim do semestre.
Já fui aquela mulher que descobriu que havia iguais iguais e iguais diferentes.
Já fui aquela mulher que perdeu a melhor amiga.
Já fui aquela mulher que usaria aparelho pelo resto da vida.
Já fui aquela mulher que achava que nunca sairia de casa.
Já fui aquela mulher que achava que não precisaria aprender a se despedir.
Já fui aquela mulher que ensaiou uma entrada no mundo do amor.
Já fui aquela mulher que teve um dia de princesa.
Já fui aquela mulher que conheceu a dor da decepção.
Já fui aquela mulher que viveu a perda de alguém muito querido muito antes de seu tempo.
Já fui aquela mulher que teve que ouvir que, a partir de agora, sua vida mudaria para sempre.
Já fui aquela mulher que conheceu o amor de sua vida.
Já fui aquela mulher que começou sua trajetória no mundo da pesquisa acadêmica.
Já fui aquela mulher que foi premiada por uma agência de fomento à pesquisa.
Já fui aquela mulher que viu famílias ruírem.
Já fui aquela mulher que venceu a morte com a vida.
Já fui aquela mulher vestida de branco que entra na igreja 9 dias depois de defender sua dissertação de mestrado.
Já fui aquela mulher apaixonada que hoje é sua.
Um dia, todas as máscaras caem.
E sobra apenas o rosto, em carne viva, tentando se refazer de tanta troca. Você sabe bem como ele é.
É com esse rosto que devo encarar as próximas mulheres que serei.


**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**
*Texto de Fernanda Marques Granato protegido pela lei de direitos autorais. 

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