segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Equilíbrio estrutural

A casa já havia sido, talvez em alguma recente temporada, mais repleta. A porta já cumprira sua função mais sabiamente do que nesse instante, exatamente diante do estilo duvidoso do empoeirado abajur. Os barulhos da hélice adentravam a suntuosa sala de visita apenas até certo limite meramente invisível. As gotas eram todas inteiras devoradoras de incompletudes. Inconsistências à parte, aquela madeira um dia já fora chamada de italiana. E flexível.
As caixas que se equilibravam no pé da escada em uma competição vazia por reciprocidade aérea já foram chamadas anteriormente de mudança, de existência perdida, até mesmo de incongruência total. Às caixas já foi ofertado que saíssem em busca de algo superior à mera presença interior.
O interior foi há muito supervalorizado, e as caixas segredavam dois ou cinco olhares a respeito de águas revisitadas. Diante do olhar inquisidor a ele lançado, o armário teve que se retratar a respeito da sobra de roupas acumuladas no inverno. A casa não era segura, e todos os sujeitos que algum dia a escolheram sempre souberam disso.
O fogo liberto se enredou na trama intricada de caixas e tapetes que um dia foram voz e constituíram espaço em um lugar que no perder do tempo mal se define e se equilibra entre um verbete e outro como duas cores conflitantes que coexistem em uma imprecisa colcha de retalhos. O ar sempre soube ser fugidio, sempre foi capaz de enluvar-se e revelar-se no cós do verde amargo que se aventura no amarelo escuro.
A chave sempre esteve aberta, mas faltou presença que a conquistasse tão somente pela futilidade de viver sabendo da finitude. Há rumores que as almofadas vão incitar os tambores a se modificarem a tal ponto que serão presos no livre espaço que um pássaro engaiolado protegeu na tentativa de recuperar um pouco da estrutura.
Somos todos pérolas inversas.
O barulho é específico, e o motivo é de todos.
Compete a nós mudar o que poderia ter sido.
Compete a nós saber a contra-corrente antes que a água ferva.
O mundo está só, e é todo borbulhante.
Tempos modernos. Tempos em perspectiva.
A linha sempre foi curva no espaço tempo perdido entre a segurança e a liberdade.
Libertar cada gota do oceano.
Um objetivo para o coletivo. Um sonho para o indivíduo.

*Escrito por Fernanda Marques Granato.
*Esse texto está protegido pela lei de direitos autorais.

**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**

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