Talvez eu só precisasse dormir mais levemente. Ou me recolher mais apropriadamente do que tenho feito nas últimas primaveras. Nunca soube me portar corretamente. Quem nos diz que caminho percorrer? Quem nos explica que devemos respirar três vezes e inspirar somente quando nos for permitido fazer ruído? Não aprecio o ruído. É um incômodo que se coloca ao meu redor sem pedir permissão.
O desagradável não vem com aviso prévio. Simplesmente te desbanca, livre, leve e solto, e te deixa totalmente à deriva, sem sol para te esquentar. Você nunca soube o que era estar recalcado num pesar protegido por alguém que determinava as regras do percorrer. Você nunca soube o que era falhar, pois sempre houve esse alguém que decidia que vento iria de encontro à sua malfadada face semi-rosada.
Esse alguém não ocupa espaço físico, só abstrato. Está preso a sua mente, é devoto da sua imaginação. Nutre-se de seu espaço barroco. A imagem é totalmente pessoal. Nada há que possa ser feito para tirar a sua interferência. A criação é toda singular. Não existe coletividade. Nunca existiu. Apenas nas leis formais, nas quais a coletividade é suposta, porém nunca de fato constituída.
São individualidades em ilhas de todos e de ninguém. Alhures há vozes que não se relacionam por conta da distância que impede qualquer contato de ultra-intimidade. Ninguém julga o contato, ninguém nomeia as relações interpessoais. Não há plural. Só há exclusividade.
A voz não sai da garganta, não quer sair.
Não tem caixa de ressonância.
A amplitude não cabe no vazio.
Preciso de outra singularidade.
Alguém se habilita a me encontrar na minha ilha?
Moro à esquerda da pétala retumbante.
Vais me encontrar?
O post da Fê que eu mais gostei até hoje, e isso é dizer muito! Nada melhor que superar a si mesmo...
ResponderExcluirDe alguma forma, me lembrou a Alegoria da Caverna... procurar a verdade, a liberdade de si próprio...
Segundo post que gostei pois além de inteligente, usa termos de acústica, como se pra você a prosa fosse um som, algo que faz das suas letras únicas.
ResponderExcluirA impressão que tive do poema é que essa ilha se trata do "eu" que ninguém vê. É um desafio e tanto estender a mão e convidar alguém para entrar em sua ilha a não ser que esse ser descubra a terra de si próprio antes.
Algo como "conheça a você mesmo antes de conhecer outrem".