Emprestei o ontem para a minha memória de hoje tentar restaurar a pré-visão problemática. O terapeuta me disse que com dois copos de água seca a dor passaria, porém não encontrei ninguém disposto a compartilhar a dor comigo.
Egoístas. Nunca me deixaram sentir o chão no qual pisam, firmes e confiantes que suas visões de mundo prevalecerão. Negavam-me a percepção ampla da composição de grupo. Nunca pertenci a sociedade alguma.
Os princípios pregados não eram meus, não encontrando ressonância no meu conjunto protegido de ações individuais. Minha caixa torácica sabe que minha função não é mostrar o caminho, apenas delimitar o espaço é necessário.
Ela sabe que não lido bem com o errado. Meu estômago o expulsa, minha bile não o digere e meu intestino não é tolerante com as diferenças formais. Minha voz exala a insatisfação encontrada hoje na análise do ontem feita por olhos ressecados e sofridos por noites a fio sem dormir.
Olhos que foram forçados a ver que a realidade é hoje transformada em ontem, é certeza demonstrada na alternativa e se realiza no fogo formado na cinza.
Deixei a certeza na roupa que pus para ser lavada manualmente, porém nunca me devolveram essa peça de vergonha alheia. Cubro-me na esperança que alguém me descubra na fragilidade que represento nesse mundo em que não faço barulho, não sou percebida, não sou lembrada se não deixo marcas no caminho que utilizei e que nomeei como tendo um proprietário. A vida não é nossa.
Deveríamos cuidar bem das coisas dos outros.
Esqueci a vida antes da morte.
Perdeu-se no vazio amarelo-fosco, diriam os latinos com suas vozes fortes agrupadas em uníssono próximas do meu ouvido, que se apruma para ouvi-los.
Nenhum som é formado.
A ressonância se perde na vibração roubada.
Nunca vi tamanho ultraje.
Só ontem, na contramão.
Mão aveludada que me consome.
Consolo abrupto.
Nação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário