Esqueci a máquina do tempo na curva errada. Esqueci o passado no presente alternativo. Esqueci o bem-sabido no pouco precavido. Esqueci o calor prevenido fora da caixa, e agora a janela aberta levou tudo o que eu tinha para o tempo irrecuperável.
Tudo meu, tudo solto, tudo perdido, agora voa desamparado e desconsolado para o frio rasgado do pré-concebido forte vento que assola os mais críticos.
A crítica perpassa toda a agressividade e mostra a que veio, invadindo o desconhecido e navegando pelo ar sujo, dizendo que nunca demonstrou qualquer carinho, qualquer cuidado, nunca desviou do mal entendido e nem tentou nutrir a agradabilidade que veio acompanhada do cheiro de grama recém cortada.
Cada fio que sai e se infiltra no meu despudor não se lembra do que já fez, do que já modificou durante sua transgressão da lei automaticamente imposta pela minha presença inalterável.
Cada passo que ouço ressoar no assoalho repisado me faz tremer diante da expectativa do inesperado tocar da melodia ininterrupta que me convida a sair da arbitrariedade e buscar o ritmo em outra ruela.
Mas não tenho orientação. Estou sozinha.
Sozinha diante do céu enegrecido, sozinha apreciando o não-remotamente-aguardado, sozinha na contemplação da dissipação arbórea.
A pétala de rosa se destaca e voa com pressa para não mais estar. Até que encontra o espinho que a impede de fugir e de negar o já reconhecido por outros habitantes de antiga civilização: nunca foi sua função lá estar, lá permanecer ou lá reconstruir a existência. Sua função renovada e reconquistada era partir, partir para o reconhecimento na janela abstrata, para a valorização na perspicácia do acompanhante e na rapidez do vento, saber, sempre, qual a hora e o momento de sempre estar, na eternidade acompanhada por mil pérolas, mil ouvintes e mil terremotos.
O som disperso virá a nosso encontro, dia ou outro.
Esperaremos, com os corações quentes e fortes. Um dia.
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