sexta-feira, 8 de abril de 2016

Rastros de existência




Todos os ecos querem espaço em minha cabeça, mas eu não posso recebê-los. Todos os sabores querem sair da gaveta, mas a impetuosidade do vento pode abarcá-los por completo e nunca devolvê-los. 
As mentiras que ouço definem o formato de cada corda vocal, de cada fibra muscular, de cada célula epidérmica, de cada glóbulo vermelho...As mentiras me irritam, pois ocupam o espaço inexistente da ausência. 
Como recriar todo o mundo baseando-se em sombras que nunca realmente foram projetadas à meia luz? 
Como saber o eco de uma voz sem corpo?
Como ocupar um espaço sem solidez, ou ser ouvido sem presença?
Os questionamentos avolumam, porém a mentira se coloca no topo da pilha de assuntos a serem tratados, na esperança de alçar vôo no próximo tufão e não ter que se pronunciar.  Talvez esse seja um bom plano para quem não tem nem cordas vocais, nem corporeidade, nem mesmo presença. 
A totalidade da ausência completa o meu vácuo de maneira mais satisfatória que conchas complementando a beleza de uma praia vazia. O vazio de pensamentos, essa instância tão poderosa e tão marcante, que tudo possui e nenhum lugar habita. Quem o tem, é logo notado. Você saberia. A sombra acompanha todos que traem memórias. E não os abandona jamais. 



**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**
* Texto por Fernanda Marques Granato. 
* Texto protegido pela lei de direitos autorais.