A quem devemos a vida que nos é retirada? A luz que se esvai no vazio? Ao som que não mais ecoa, e vaga sozinho, sem limite ou companhia?
A quem devemos relatar a dor sentida diante da perda de batimento cardíaco? A perda da vida pulsante que vibrava pelos corredores?
A quem chamamos para realizar o resgate do sujeito despedaçado que se encontra estirado entre três pedaços de madeira sem farpa?
A quem recorremos para estancar o sangue? Para reparar o dano? Para preencher o vazio? Para promover aceitação? Para levar à recuperação?
A quem chamamos para nos trazer de volta à vida?
O ar continua a encher o peito, mas não dá a mesma sensação de completude.
O coração ainda bate, mas sem constância, intensidade ou emoção.
A cabeça ainda persiste, mas não vê lógica no escuro e só encontra luz na dor.
A mão lembra do contato, do calor, do amor e do sabor do que agora é só pensamento, é só memória, é só sentimento, é só abstração, e prospera o medo da dor não encontrar fim. Do desespero não ter solução. Do buraco em meu peito só aumentar.
Porque quem dele saiu nunca vai voltar.
*Texto por Fernanda Marques Granato. Protegido pela lei de direitos autorais.
**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**