Meu duplo nunca vai envelhecer, pois nunca nasceu.
Não quero ver ninguém. Preciso de uma corda.
Não quero ser relembrada da minha dor.
A imitação barata da vida na arte só me traz mais irritação, frustração, apatia e decepção.
Para que melhorar, se nada pode ser feito a respeito?
Será que aquele gancho aguentaria o meu peso?
O desenvolvimento é inútil, pois nada leva à superação. É impossível superar algo que muda fundamentalmente nosso DNA para sempre. Nunca serei quem fui antes. Nem mesmo saberia por onde começar.
Sirvo apenas para tremer e me apavorar com o mundo ao meu redor.
Sou um corpo morto em vida.
Os batimentos cardíacos não podem mais ser registrados, pois são indetectáveis.
Irrelevância.
Ignoro a passagem do tempo aqui de dentro do meu casulo-caixão, pois aqui ele não passa, apenas a dor aumenta. E permanece. Por que haveria de ser diferente?
Para que deixar o sol iluminar plantas de plástico?
Preciso de uma palavra-valise muito grande para caber tanta agonia, não vai caber na página, como vou fazer para publicar isso tudo depois?
Até o conteúdo de uma lixeira já foi mais majestoso que eu, pois em algum momento foi útil - ou foi gozado. Sim, gozar a vida. Uma tarefa impossível. Cansava demais tentar, já estava sem energia há muito tempo, me arrastando pela terra. Ninguém notaria a minha ausência. Não faria falta, nem diferença alguma.
Devo ser uma inútil mesmo se não consigo nem mesmo justificar a razão da minha existência para duas baratas que se aproximam do velho colchão. Nem vou tentar apagar o fogo da próxima vez.
Será que posso ao menos ser bem-sucedida em delimitar meu fim?
Diferença nenhuma.
Só mais um fardo de jornal usado jogado no lixo, com notícias de outra vida desvalorizada.
Seria um alívio.
*Texto por Fernanda Marques Granato. Esse texto é protegido pela lei de direitos autorais.
**As opiniões expressas nesse post são de total responsabilidade do seu autor.**
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